A Comissão Europeia abriu nesta terça-feira (18) uma investigação sobre o suposto pacto entre as principais fabricantes de automóveis alemãs na tecnologia para reduzir as emissões poluentes, um novo golpe a esta indústria, três anos após o “Dieselgate”.

“A Comissão analisa se a BMW, a Daimler e a Volkswagen concordaram em não competir entre si no desenvolvimento e na implementação de sistemas importantes para reduzir as emissões nocivas dos veículos a gasolina e diesel”, disse em um comunicado a comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestager.

A legislação europeia proíbe os cartéis, já que, segundo Vestager disse sobre a investigação anunciada, se confirmada, esta aliança “poderia privar os consumidores da capacidade de compra de veículos menos poluentes, quando a tecnologia estava disponível para os fabricantes”.

O anúncio da investigação foi feito três anos após as revelações nos Estados Unidos de que a VW instalou um software em milhões de seus veículos a diesel em todo mundo para mascarar resultados em testes de emissões de gases de efeito estufa.

Neste caso, Bruxelas está investigando se BMW, Daimler e Volkswagen, bem como as marcas desta última Audi e Porsche, acordaram em reuniões “limitar” o desenvolvimento e a implementação de tecnologias para reduzir as emissões de gases poluentes.

Os sistemas que teriam sido afetados seriam os de redução catalítica seletiva (SCR) para motores a diesel e os filtros de partículas Otto (OPF) para carros com motor a gasolina, aponta Bruxelas, que executou uma série de inspeções em 2017.

Contactadas pela AFP, as empresas disseram que vão cooperar com a investigação. A Daimler foi apresentada como principal colaboradora da Comissão, um estatuto especial que, caso seja aceito, vai lhe render maior leniência de autoridades europeias, disse um porta-voz.

Se o cartel for confirmado, o preço a pagar será muito alto. Em julho de 2016, por exemplo, o Executivo da UE multou em 2,93 bilhões de euros quatro fabricantes de caminhões europeias, acusadas de combinar durante 14 anos os preços de venda.

– ‘Acima da lei’ –

A investigação vem em um momento delicado para a VW, que enfrentará uma série de processos judiciais nos próximos meses pela manipulação de seus motores para indicar uma emissão menor de gases poluentes nos testes previstos.

Investidores querem receber uma compensação por perdas sofridas após a queda de ações da VW em 40%, quando foi revelado o esquema conhecido como “Dieselgate”, em setembro de 2015.

A fabricante alemã afirma que um pequeno grupo de engenheiros executou a medida sem o conhecimento de seus superiores.

“No terceiro aniversário do ‘Dieselgate’, esta nova investigação (…) é um lembrete oportuno de que a indústria automobilística alemã coloca o lucro acima das pessoas e da lei”, disse Greg Archer, da ONG europeia Transporte e Meio Ambiente.

Devido ao aniversário, a ONG publicou um relatório que afirma que 43 milhões de veículos “diesel sujo” permanecem nas ruas da Europa, apesar do escândalo.

“O número de carros e vans a diesel altamente poluentes nas nossas estradas aumentou em 5 milhões desde o ano passado e aumentou em 14 milhões desde que foi descoberto o ‘Dieselgate'”, condenou.

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