UE fracassa na tentativa de acordo sobre primeiro orçamento sem Reino Unido

UE fracassa na tentativa de acordo sobre primeiro orçamento sem Reino Unido

Os dirigentes da União Europeia (UE) fracassaram nesta sexta-feira (21) em acordar seu primeiro orçamento comum sem o Reino Unido, sinal das diferenças sobre o alcance do novo impulso que querem dar à União Europeia (UE).

“Infelizmente, constatamos que não foi possível chegar a um acordo. Precisamos de mais tempo”, assegurou em coletiva de imprensa o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, lembrando o buraco deixando pelo Brexit.

A saída do Reino Unido do bloco em janeiro, uma potência militar e econômica, representa uma perda de 12 bilhões de euros anuais para uma UE com novas ambições climáticas e militares, além das políticas agrícolas tradicionais.

Com mais prioridades e menos contribuintes, os europeus tentam fechar o círculo. A proposta de Michel era de um Marco Financeiro Plurianual (MFP) 2021-2027 de 1,094 trilhão de euros, 1,074% da Renda Nacional Básica (RNB).

Após dois dias de uma verdadeira maratona de discussões em dupla, trio e multilaterais à portas fechadas, a Comissão Europeia apresentou sem sucesso uma nova proposta de 1,07%, que respondia a algumas exigências.

“As diferenças ainda são muito grandes para se chegar a um acordo”, reconheceu a chanceler alemã, Angela Merkel, ao final da cúpula ,antecipando que deverão se reunir novamente em uma data que Michel ainda deve determinar.

Para o grupo de países ricos conhecido como “frugais” -Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia- a solução passava por um orçamento de 1%, mantendo suas deduções atuais, e pelo corte da ajuda aos agricultores e regiões.

Os Amigos da Coesão, 15 países favoráveis a um gasto maior e à ajuda para regiões menos desenvolvidas, se rebelaram contra o protagonismo dos “frugais”, segundo o governo espanhol, que conseguiu uma frente unida no final.

Um negociador europeu disse à AFP que “se chegou a uma situação de bloco contra bloco” que fez “fracassar” a cúpula. A última reunião dos 27 em conjunto terminou com a recusa unânime à última proposta, em menos de 30 minutos.

– “Um acordo ruim” –

“Recusamos um acordo ruim (…) Não é a Política Agrícola Comum (PAC) que deve pagar pelo Brexit”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron.

A PAC e os fundos de coesão, políticas históricas, representam 69% do MFP 2014-2020, mas países como a Alemanha querem priorizar as novas lutas contra as mudanças climáticas e a proteção de fronteiras.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, foi contra a oposição entre “vielhas e novas políticas” e os cortes nas primeiras, defendendo que o setor agrícola deve desempenhar um papel importante para conseguir a neutralidade de carbono em 2050.

Os polêmicos “cheques”, a redução de 5 bilhões de euros anuais nas contribuições da Alemanha e dos quatro países “frugais”, também foram um obstáculo à negociação, com a Espanha e a França apoiando o fim de do sistema.

O tempo urge. A titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembrou que sem um orçamento para o fim do ano, programas populares, como o Erasmus, de intercâmbio estudantil, poderiam ser afetados em 2021.

À espera de uma nova cúpula, o trabalho continua. O Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, disse ter recebido sinal verde dos Amigos da Coesão para apresentar junto a seus pares de Portugal e Romênia uma contraproposta.

Alguns países pedem também a inclusão de recursos próprios no saldo final. Von der Leyen diz que existe um consenso sobre um imposto sobre os plásticos para financiar o orçamento, mas não para incluir os direitos de carbono.

Além dos números, os europeus têm o alcance do impulso que querem dar à UE que já passou por várias crises em um contexto mundial em que os Estados Unidos pressionam na frente comercial e China e a Rússia são fonte de preocupação.