18/09/2019 - 9:11
Líderes da União Europeia (UE) advertiram nesta quarta-feira para o risco “muito real” de um Brexit sem acordo, a 43 dias da data prevista para o divórcio com o Reino Unido, e pediram uma verdadeira negociação entre Londres e Bruxelas.
“O risco de uma retirada sem acordo continua sendo muito real, um cenário que nunca será a opção da UE”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, na Eurocâmara em Estrasburgo (França).
O acordo do Brexit, concluído em novembro pela então primeira-ministra britânica Theresa May e rejeitado em três votações pelo Parlamento da Grã-Bretanha, está em ponto morto desde então.
Seu sucessor em Londres, Boris Johnson, exige a retirada do pacto da “salvaguarda irlandesa”, mecanismo que pretende evitar o retorno de uma fronteira para produtos entre a Irlanda, país da UE, e a província britânica da Irlanda do Norte.
Mas os europeus, que consideram este mecanismo de último recurso essencial para proteger os acordos de paz da Sexta-Feira Santa de 1998 e a integridade do mercado interno europeu, exigem de Johnson alternativas ao que havia sido acordado com May.
O premier britânico e o presidente da Comissão Europeia se reuniram na segunda-feira em Luxemburgo, quando o governo do Reino Unido esboçou “os aspectos da salvaguarda que não o agradam”, explicou o principal negociador europeu, Michel Barnier.
– “Prestar contas” –
“Isto não é suficiente para alcançar uma solução. Precisamos de uma solução juridicamente operacional no acordo de retirada, que aborde cada um dos riscos”, declarou Barnier aos eurodeputados.
A Eurocâmara, que precisa votar um eventual acordo para sua entrada em vigor, advertiu nesta quarta-feira em uma resolução que “não dará sua aprovação a um Acordo de Retirada sem um mecanismo de salvaguarda”.
Na resolução adotada por 544 votos a favor, 126 contrários e 38 abstenções, os deputados destacaram que “se o Reino Unido sair da UE sem acordo, isto acontecerá sob a responsabilidade exclusiva do governo do Reino Unido”.
“Quase três anos depois do referendo, não se trata de agir como se estivéssemos negociando”, afirmou Barnier, em uma referência velada ao governo britânico.
Quase 52% dos eleitores britânicos apoiaram o Brexit em um referendo em junho de 2016, mas, três anos depois, o Reino Unido continua sem conseguir encontrar a maneira de concretizar o primeiro divórcio na história do projeto europeu.
Os opositores de Johnson o acusam de tentar ganhar tempo com as discussões com Bruxelas para anunciar um divórcio sem acordo, um cenário temido pelo setor econômico.
“Tanto os cidadãos britânicos como os europeus têm o direito de conhecer a verdade sobre as consequências do Brexit”, afirmou Barnier.
“Após o Brexit, vocês deverão prestar contas aos cidadãos, assim como nós”, concluiu.