A União Europeia (UE) acusou, nesta quarta-feira (27), a Rússia de “chantagem” por cortar o fornecimento de gás da Polônia e Bulgária, enquanto Moscou afirma que destruiu arsenais de armas enviadas pelos países ocidentais à Ucrânia.
O conflito, que entrou em seu terceiro mês, se intensifica principalmente no leste e no sul da Ucrânia.
O ministério ucraniano da Defesa informou que as tropas russas tomaram várias cidades do leste, tanto na região de Kharkiv como na de Donetsk.
A Rússia bombardeou também hangares em Zaporizhzhia (sudeste), destruindo “grande quantidade” de armas fornecidas pelos países ocidentais, disse o Ministério da Defesa de Moscou, sem especificar o tipo de armamento que havia no local.
O governador desta região afirmou, no entanto, que “nenhum depósito de munições e armas foi atingido em Zaporizhzhia”.
Depois de mais de dois meses de guerra, as potências ocidentais parecem menos cautelosas na hora de apoiar a Ucrânia com armamento para resistir à invasão russa.
Os Estados Unidos reuniram 40 de seus aliados em sua base de Ramstein, na Alemanha, e disseram que estão dispostos a “mover céus e terra” para conseguir que a Ucrânia se imponha na guerra.
Nesse mesmo dia, um conselheiro do ministro do Interior ucraniano destacou que as tropas russas apontam agora contra pontes e ferrovias para prejudicar a entrega de armas ocidentais a Kiev.
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou que qualquer intervenção externa na operação militar russa receberia uma “resposta fulminante”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, chegou hoje em Kiev, onde se reunirá com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Na terça-feira, Guterres se reuniu com Putin em Moscou para tentar encontrar uma forma de retirar os civis de Mariupol, cidade do sudeste da Ucrânia sitiada e bombardeada há dois meses pelos russos.
A guerra na Ucrânia poderia deixar outros 3 milhões de refugiados adicionais até o fim do ano, disse a ONU. Atualmente, são mais de 5,3 milhões de pessoas que fugiram do país.
– “Chantagem” sobre o gás –
O grupo russo Gazprom suspendeu suas entregas de gás a Bulgária e Polônia, alegando que esses dois países não pagaram por elas em rublos, conforme ordenado no mês passado pelo presidente Vladimir Putin.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, explicou que a suspensão das entregas é consequência de “ações hostis sem precedentes” desses dois países, membros da Otan e da UE.
Bulgária e Polônia, muito dependentes do gás russo, afirmaram que seus abastecimentos serão mantidos graças a outras fontes.
Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o anúncio da Gazprom representa “uma nova tentativa da Rússia de nos chantagear com o gás”. Ela avisou às empresas importadoras que ceder a medidas que não estão previstas nos contratos seria “uma violação” das sanções adotadas contra a Rússia.
Cerca de 97% dos contratos assinados por empresas e países europeus para comprar gás russo estabelecem pagamentos em euros ou dólares, segundo Von der Leyen.
A chefe do Executivo da UE afirmou que o bloco de 27 países estava “preparado” para uma eventual interrupção da chegada de gás russo e que elaborou “uma resposta coordenada” para esse tipo de cenário.
O gás russo representa 45% das importações do fluido na UE, que até agora impôs apenas um embargo à compra do carvão russo, mas não à de gás ou petróleo.
– Ofensiva russa no leste –
Os combates continuam no leste e sul da Ucrânia, objetivo prioritário da Rússia.
As forças rusas expulsaram o exército ucraniano de Velyka Komyshuvakha e Zavody na região de Kharkiv e tomaram o controle de Zarichne e Novotoshkivske, na região de Donetsk, informou o ministério da Defesa ucraniano.
Ao menos três pessoas morreram e 15 ficaram feridas em bombardeios perto de Kharkiv, a segunda cidade da Ucrânia, segundo o governador regional Oleg Synegubov.
O objetivo da Rússia é criar uma conexão terrestre entre a anexada península da Crimeia e os territórios separatistas do Donbass, onde as tropas de Kiev lutam contra os separatistas pró-russos desde 2014.
No entanto, um general russo afirmou recentemente que a ofensiva pretendia criar também um corredor para a região separatista moldava de Transnístria.
“Se a Ucrânia cair, amanhã as tropas russas estarão nas portas de Chisinau”, a capital moldava, escreveu no Twitter Mikhailo Podoliak, assessor do presidente ucraniano Volodimir Zelensky.
As autoridades de Transnístria afirmaram que uma cidade fronteiriça com a Ucrânia, que abriga um grande depósito de munições do exército russo, foi alvo de disparos.
Na segunda e terça-feira, a região registrou uma série de explosões e o governo moldavo anunciou medidas para reforçar sua segurança.
Nesse contexto de Guerra Fria, o ex-fuzileiro naval americano Trevor Reed, condenado a nove anos de prisão na Rússia por violência, foi trocado por um piloto russo preso nos Estados Unidos desde 2010. No entanto, Washington afirma que a troca não tem “nenhum” impacto nas relações entre os dois países.
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