Um ator sem experiência política, Volodymyr Zelensky, saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial na Ucrânia e vai enfrentar, em 22 de abril, o atual presidente Petro Poroshenko, em meio a desafios consideráveis para este país às portas da União Europeia e devastado por um conflito armado, segundo as pesquisas de boca de urna.
Embora críticos duvidem de sua capacidade para governar e da viabilidade de seu programa, o candidato atípico se beneficiou da rejeição às elites – uma tendência global especialmente forte na Ucrânia, após anos de severas dificuldades econômicas e de escândalos de corrupção.
Aos 41 anos, Zelensky obteve mais de 30% dos votos, segundo pesquisa de boca de urna feita pelo consórcio Exit poll national, que reúne três institutos.
Ele sai muito à frente do atual presidente. Poroshenko, de 53 anos, que recebeu por volta de 18% dos votos.
À frente no começo da campanha, a incansável ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, de 55, ficou de fora do segundo turno com cerca de 14% dos votos.
Ela imediatamente reivindicou o segundo lugar e denunciou as pesquisas como “desonestas” e “manipuladoras”, sugerindo uma disputa acirrada pelo resultado, neste país que passou por duas revoluções em 28 anos de independência.
A polícia informou que havia recebido mais de 2.100 denúncias de suposta fraude, a maior parte delas não graves. “As votações ocorreram sem violações sistêmicas”, garantiu a presidente da Comissão Eleitoral, Tetiana Slipatchouk.
Todas as pesquisas publicadas na imprensa local apontam para a mesma ordem de classificação.
A Comissão Eleitoral começou a publicar os primeiros resultados, mas apenas 1% das urnas foram apuradas. A taxa de participação estimada era de 64% – um aumento em relação a 2014.
Após a divulgação do resultado das pesquisas de boca de urna, Zelensky comemorou: “esse é apenas o primeiro passo de uma grande vitória”.
Já o atual presidente lamentou a segunda colocação na corrida eleitoral. “Essa é uma dura lição para mim e para as autoridades em geral. É uma razão para trabalhar nossos erros”, disse, na sede de sua campanha.
– Nova via? –
Reconhecido por trazer seu país para mais perto do Ocidente, reconstruindo um exército em ruínas e lançando reformas econômicas, o presidente Petro Poroshenko é acusado de não lutar contra a corrupção, uma grande preocupação da revolta de Maidan que o levou ao poder, cinco anos atrás.
Ameaçado com nem ir ao segundo turno, ele conseguiu perseverar, mas com uma grande distância a ser superada.
A capacidade de Volodymyr Zelensky de reunir uma maioria absoluta, contudo, permanece uma incógnita, enquanto o país enfrenta desafios consideráveis.
País de 45 milhões de pessoas às portas da União Europeia, a Ucrânia é hoje um dos Estados mais pobres da Europa.
Enquanto embarcou numa queda de braço com a Rússia e voltou sua atenção para o Ocidente, experimenta atualmente a pior crise desde a sua independência em 1991.
A chegada dos pró-ocidentais ao poder em 2014 foi seguida pela anexação da península da Crimeia pela Rússia e por um conflito com separatistas no leste, que deixou mais de 13.000 mortos.
Para o analista Anatoly Oktyssiouk, do centro Democracy House, em Kiev, o comediante “vai ganhar”, devido a um “teto” que o atual presidente tem em seu apoio: “É uma reação aos escândalos de corrupção, um protesto contra as antigas elites”.
Este candidato atípico, comediante e empresário do entretenimento não conduziu uma campanha tradicional, preferindo se apresentar no palco com sua trupe stand-up e falando mais nas redes sociais do que na televisão e nos jornais.
Se seus defensores o veem como um novo rosto em uma paisagem política envelhecida, ele é acusado por alguns de ser um fantoche do oligarca Igor Kolomoisky, um inimigo de Poroshenko, o que ele nega.