A Ucrânia recorda nesta terça-feira o 30º aniversário da catástrofe de Chernobyl, com o chefe de Estado ucraniano Petro Porochenko e Suma Chakrabarti, presidente do BERD, que gerencia os fundos para as medidas de segurança do local, visitando a antiga central.

Eles depositarão flores em memória das vítimas da catástrofe e assistirão a assinatura de um acordo para que o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) conceda 40 milhões de euros destinados à construção de um depósito para o combustível nuclear usado na central.

Os habitantes, como todos os anos, levaram flores e velas ao monumento das vítimas em Slavutich, uma cidade a 50 km da central, construída após a catástrofe para alojar seus empregados.

“Trinta anos depois do acidente, é crucial realizar esforços conjuntos entre a Ucrânia e a comunidade internacional, para transformar o sítio em um local seguro para o meio ambiente”, destacou Chakrabarti.

A tragédia de Chernobyl ficou um pouco esquecida durante décadas até que o terremoto que atingiu o Japão em 2011 e que provocou um grave acidente nuclear na usina de Fukushima reavivou os pesadelos sobre os riscos desta fonte energética e relançou o debate internacional.

À 1h23 da madrugada de 26 de abril de 1986, o reator nuclear número quatro da usina nuclear de Chernobyl, que fica 100 quilômetros ao norte de Kiev, explodiu durante um teste de segurança.

Durante 10 dias, o combustível nuclear ardeu, liberando na atmosfera nuvens tóxicas que contaminaram com radiação até três quartos do território europeu, atingindo especialmente a Ucrânia e os vizinhos Belarus e Rússia.

Moscou tentou esconder o acidente ocorrido na ex-república soviética e as autoridades esperaram o dia seguinte para retirar os 48.000 habitantes da localidade de Pripyat, situada a apenas três quilômetros da usina.

O primeiro sinal de alerta foi lançado pela Suécia no dia 28 de abril, quando as autoridades detectaram quantidades anormais de radiação, mas o líder soviético Mikhail Gorbachev não se referiu publicamente ao incidente até 14 de maio.

Depois que as autoridades reconheceram o acidente, um total de 116.000 pessoas precisaram deixar seus lares situados na zona de exclusão, à qual até hoje em dia seguem sem poder voltar.

Nos anos seguintes, outras 230.000 pessoas sofreram o mesmo destino. No entanto, cerca de 5 milhões de ucranianos, russos e bielorrussos vivem em zonas onde a quantidade de radiação é alta.

Em quatro anos, 600.000 pessoas, principalmente militares, policiais, bombeiros e funcionários, trabalharam como “liquidadores” para conter o incêndio nuclear e criar uma barreira de concreto para isolar o reator.

Os agentes mobilizados chegaram ao local quase sem proteção ou com um equipamento inadequado para enfrentar a nuvem tóxica.

Além de conter o incêndio, precisaram limpar as zonas adjacentes e construir o sarcófago para conter a radiação.

Balanço controverso

Mas três décadas depois do acidente, o balanço de vítimas continua sendo alvo de debate.

Um controverso relatório publicado pela ONU em 2005 estimou em quase 4.000 as vítimas nos três países mais afetados.

Um ano depois, a organização ambientalista Greenpeace anunciou uma estimativa de cerca de 100.000.

Segundo o Comitê Científico sobre os Efeitos da Radiação Atômica da ONU, ocorreram 30 mortes entre os agentes enviados para conter os efeitos do acidente nos dias posteriores ao desastre.

No entanto, a estrutura criada imediatamente depois do acidente, de maneira apressada, ameaçava começar a vazar para o ar 200 toneladas de magma radioativo, razão pela qual a comunidade internacional se comprometeu a construir uma nova camada de concreto mais segura.

A construção de uma urna com uma altura de 110 metros de 25 toneladas começou finalmente em 2010. Esta estrutura, um pouco maior que o Big Ben em Londres, permitiria cobrir a catedral de Notre Dame de Paris.

Este novo sarcófago deve estar plenamente operacional no fim de 2017 e terá um custo total de 2,1 bilhões de euros (2,4 bilhões de dólares).

Seu financiamento contou com a participação do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, além da contribuição de mais de 40 países. Espera-se que o G7 e a Comissão Europeia forneçam 165 milhões de euros adicionais.

Com uma vida útil estimada em um mínimo de 100 anos, esta estrutura deve dar tempo para os cientistas encontrarem novos métodos para desmantelar e enterrar o resto do reator, para que algum dia o local possa se tornar seguro novamente.

Até o momento ainda não está claro de onde será obtido o financiamento para manter a estrutura, advertiu com preocupação uma fonte ocidental.

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