Ucrânia pode forçar BCs a redefinir guinada conjunta rumo a aperto monetário

Ucrânia pode forçar BCs a redefinir guinada conjunta rumo a aperto monetário

Por Howard Schneider e Mark John

(Reuters) – A guinada bem roteirizada dos bancos centrais globais em direção a uma política monetária mais rígida no pós-pandemia foi posta em dúvida pela invasão da Ucrânia pela Rússia, uma reviravolta geopolítica que provavelmente será sentida de forma diferente nos principais centros econômicos do mundo, ainda que apresente alguns riscos comuns para o crescimento global.

Os riscos incluem um aumento quase imediato no preço do petróleo para mais de 100 dólares o barril e o impacto imponderável ​​de longo prazo da guerra terrestre europeia sobre a confiança, o investimento, o comércio e o sistema financeiro.

Para muitos analistas, isso aumentou a probabilidade de que os bancos centrais, tendo se posicionado para uma luta frontal contra a inflação enquanto esperavam um forte crescimento econômico contínuo, possam agora ver os preços continuarem a subir enquanto o crescimento arrefece, situação que não é facilmente resolvida com estratégias-padrão dos BCs.

“Para os principais bancos centrais de economias avançadas, a intensificação da guerra agora os deixa em uma posição claramente pior”, escreveram analistas da Oxford Economics.

“O ponto de partida alto para a inflação… tornará difícil para os bancos centrais ignorar as forças ascendentes de curto prazo sobre a inflação. Mas, ao mesmo tempo, eles estarão cientes de que os desenvolvimentos mais recentes aumentam os riscos de inflação muito baixa no fim de 2023 ou 2024 devido a uma perspectiva de crescimento mais fraco.”

Além da Rússia, observaram os analistas de Oxford, a Europa seria a mais atingida por esses desenvolvimentos. Eles preveem que a inflação média anual ao consumidor da zona do euro suba para 4,6% neste ano para depois cair acentuadamente a 1,3% em 2023. Para um índice global de inflação ao consumidor, a Oxford elevou sua previsão para este ano de 5,4% para 6,1%.

A elevada inflação nos Estados Unidos e em outros lugares torna improvável que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE) interrompam inteiramente o que tem sido uma guinada conjunta em direção a uma política monetária mais apertada.

Autoridades do Fed disseram isso horas após a invasão, com os formuladores de política monetária dos EUA citando o que chamaram de caso “robusto” para aumentar as taxas de juros do nível quase zero –atingido como forma de estímulo durante a pandemia.

“A demanda subjacente é forte. O mercado de trabalho está apertado. A inflação está alta e aumentando”, disse o presidente do Federal Reserve de Richmond, Thomas Barkin. Apesar dos eventos na Ucrânia, “não acho que você verá muitas mudanças na lógica subjacente… Mas este é um território inexplorado, então teremos que ver para onde o mundo vai.”

(Reportagem de Howard Schneider e Mark John)

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