16/09/2024 - 12:07
Por Gram Slattery e David Lawder
(Reuters) – A Ucrânia negou nesta segunda-feira ter ligações com um homem acusado de tentar assassinar o ex-presidente dos Estados Unidos e candidato republicano à Presidência do país, Donald Trump, após surgir a informação de que o suspeito era um apoiador da Ucrânia que havia dito que queria recrutar voluntários estrangeiros para lutar no país.
Trump estava seguro no domingo, depois que o Serviço Secreto frustrou o que o FBI chamou de uma segunda aparente tentativa de assassinato do candidato republicano à Presidência em dois meses, capturando um homem armado que havia levado um rifle para o campo de golfe de Trump.
Entrevistas na imprensa e publicações em redes sociais mostraram que o suspeito, Ryan Routh, 58 anos, era um firme defensor da Ucrânia que havia viajado para lá após a invasão russa em 2022.
Autoridades ucranianas disseram que não têm nada a ver com ele e acusaram Moscou de aproveitar o elo para fins de propaganda. O Kremlin, por sua vez, insinuou que havia uma ligação entre a tentativa de assassinato e o apoio dos EUA a Kiev, dizendo que “brincar com fogo tem suas consequências”.
O aparente atentado contra a vida de Trump ocorreu apenas dois meses depois de ele ter sido atingido de raspão na orelha direita quando um homem disparou contra ele em um comício de campanha. O atirador foi morto em um tiroteio com agentes de segurança.
Os dois incidentes destacam o desafio de manter os candidatos presidenciais seguros em uma campanha febril, faltando pouco mais de sete semanas para a eleição de 5 de novembro.
“Gostaria de agradecer a todos por sua preocupação e votos de saúde — foi certamente um dia interessante!”, disse Trump nas redes sociais na noite de domingo, agradecendo ao Serviço Secreto e à polícia por mantê-lo seguro.
A oponente eleitoral de Trump, a vice-presidente Kamala Harris, disse no X: “A violência não tem lugar na América”.
O presidente norte-americano, Joe Biden, orientou sua equipe a garantir que o Serviço Secreto tenha os recursos necessários para garantir a segurança de Trump.
Apoiador da Ucrânia
Routh, do Havaí, foi amplamente identificado na imprensa dos EUA como o suspeito, embora não tenha sido nomeado imediatamente pelas autoridades policiais. No final do domingo, agentes do Serviço Secreto e da Segurança Nacional fizeram buscas em uma casa em Greensboro, Carolina do Norte, que pertence a Routh, segundo um vizinho disse à Reuters.
Evidências do apoio de Routh à Ucrânia surgiram rapidamente após o incidente de domingo, incluindo imagens dele em 2022 falando à Newsweek Romênia em Kiev, onde ele havia montado uma tenda com bandeiras de países representando voluntários que morreram na Ucrânia.
Ele disse que seu objetivo era ajudar a recrutar combatentes estrangeiros, tendo sido rejeitado por ser velho demais para se voluntariar.
“Muitos dos outros conflitos são cinzentos, mas esse conflito é definitivamente preto e branco. Trata-se do bem contra o mal”, disse Routh, demonstrando emoção enquanto pedia ajuda à câmera usando uma camisa com símbolos da bandeira norte-americana.
“Se os governos não enviarem seus militares oficiais, então nós, civis, temos que pegar a tocha.”
Autoridades ucranianas disseram que não têm nada a ver com ele.
Routh “nunca fez parte, esteve associado ou vinculado à Legião Internacional em qualquer capacidade”, disse a unidade, que inclui voluntários estrangeiros para as forças ucraniana, à Reuters.
Uma autoridade da legião afirmou à CNN que Routh havia enviado emails oferecendo-se para recrutar voluntários estrangeiros, mas os militares ucranianos acharam que ele estava “delirando” e não levaram as ofertas a sério.
“Nós nem sequer respondemos. Não havia nada para responder. Ele nunca fez parte da Legião e não cooperou conosco de forma alguma”, disse Oleksandr Shaguri, um oficial do Departamento de Coordenação de Estrangeiros do Comando das Forças Terrestres, à CNN.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse que estava feliz por saber que Trump estava a salvo e que não havia lugar para a violência na política em nenhum lugar.
Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, pareceu vincular a aparente tentativa ao apoio de Washington à Ucrânia.
“Não somos nós que deveríamos estar pensando, são os serviços de inteligência dos EUA que deveriam estar pensando. De qualquer forma, brincar com fogo tem suas consequências”, disse Peskov ao ser questionado sobre a tentativa de assassinato.
O chefe do Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia, Andriy Kovalenko, disse que Moscou está “usando outra tentativa de assassinato de Trump contra a Ucrânia no campo da informação”.
“O inimigo lançará uma série de teorias da conspiração sobre o ‘rastro ucraniano’. É claro que tudo isso é uma mentira.”
(Reportagem de Gram Slattery, em Washington, e David Ljunggren, em Ottawa; Reportagem adicional de Alexandra Ulmer, em San Francisco; Mike Stone, Douglas Gillison, Richard Cowan, Jason Lange e Jeff Mason, em Washington; Brad Brooks, em Longmont; Helen Coster, em Nova York; Jonathan Drake, em Greensboro, e Anastasiia Malenko, em Kiev)