A Ucrânia denunciou, nesta sexta-feira (10), um novo “ataque em larga escala” da Rússia contra instalações de energia e afirmou que dois projéteis sobrevoaram a vizinha Romênia, membro da Otan, uma afirmação desmentida por Bucareste.

O Ministério da Defesa romeno indicou em um comunicado que “o sistema de vigilância aérea detectou um projétil lançado de um navio russo localizado no Mar Negro em direção à Ucrânia”.

“Mas, em nenhum momento, entrou no espaço aéreo romeno”, acrescenta a nota, depois que o comandante do Exército ucraniano afirmou que dois projéteis haviam sobrevoado a Romênia e a Moldávia.

No entanto, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, insistiu que “vários mísseis” sobrevoaram a Romênia e a Moldávia e que o ataque representava “um desafio à Otan”.

A Moldávia confirmou que um míssil sobrevoou seu território e convocou o embaixador russo para denunciar uma “violação inaceitável” de seu espaço aéreo.

O novo ataque russo contra as instalações de energia ucranianas acontece após a visita de Zelensky a Londres e Paris, na quarta-feira, e a Bruxelas, na quinta-feira, para pedir aos aliados europeus mísseis de longo alcance e caças.

As autoridades ucranianas afirmam há vários dias que temem um ataque de grandes proporções das tropas russas, que intensificaram a pressão na frente de batalha, no leste do país.

Denis Pushilin, um dos chefes dos separatistas pró-Moscou, afirmou que as tropas russas avançaram em direção à zona norte de Bakhmut (leste), uma cidade que a Rússia tenta conquistar há meses.

Foram registrados avanços na zona sul de Vuhledar, outro ponto de concentração dos combates na frente leste, indicou.

– Metrô de Kiev vira abrigo –

A Força Aérea ucraniana afirmou que interceptou 61 mísseis dos 71 disparados pela Rússia nesta sexta-feira contra seu território.

Em Kiev foram ouvidas várias explosões, de acordo com correspondentes da AFP. As sirenes antiaéreas foram acionadas e os moradores da capital procuraram refúgio nas estações de metrô.

“Temos que continuar trabalhando”, declarou Irina, que afirmou sentir-se segura no metrô. Yelena, por sua vez, disse que as idas e vindas ao metrô em busca de refúgio são parte do dia a dia.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, informou que os bombardeios não causaram vítimas, mas danificaram a rede elétrica.

Desde outubro e após várias derrotas no campo de batalha, Moscou ataca com frequência as infraestruturas energéticas ucranianas, deixando milhões de pessoas sem luz ou calefação em pleno inverno no hemisfério norte.

De acordo com o ministério da Energia, várias centrais em seis províncias da Ucrânia foram atingidas pelos bombardeios. A situação é especialmente “difícil” em Zaporizhzhia (sul), Kharkiv (nordeste) e Khmelnitsky (oeste).

Apagões preventivos de emergência foram adotados em vários setores para evitar uma sobrecarga da rede elétrica, o que pode provocar ainda mais danos, segundo o ministério.

“Basta de palavras e hesitações políticas”, tuitou Mykhailo Podoliyak, conselheiro da Presidência ucraniana, que pediu aos aliados do país “decisões rápidas” sobre o fornecimento de armas potentes.

O Banco Mundial aprovou um envio inicial de US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões) para ajudar a restabelecer a rede de transporte da Ucrânia, que também ficou danificada pelos bombardeios.

Espera-se que um financiamento adicional de mais de US$ 535 milhões (quase R$ 3 bilhões) se concretize “em breve”, segundo a entidade.

– Discurso anual de Putin –

Os últimos grandes ataques russos haviam acontecido no final de janeiro, um dia depois do anúncio da decisão das potências ocidentais de enviar tanques pesados ao Exército ucraniano.

Até o momento, porém, nenhum país concordou em entregar mísseis de longo alcance ou caças à Ucrânia devido ao temor de uma escalada com Moscou.

Apenas o Reino Unido abriu as portas para possíveis entregas no “longo prazo”.

“Queremos conseguir os caças que precisamos e há acordos que não são públicos”, disse Zelensky nesta quinta-feira, sem dar mais detalhes.

Uma declaração que foi rapidamente rejeitada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que afirmou ser impossível entregar caças “nas próximas semanas”.

Na Rússia, atenta às entregas de armas ocidentais, o Kremlin anunciou que o presidente Vladimir Putin fará seu discurso sobre o Estado da Nação em 21 de fevereiro.

Para punir Moscou, os países ocidentais adotaram vários pacotes de sanções econômicas, incluindo um teto para o preço do petróleo russo.

A Rússia anunciou que cortará em março a produção de petróleo em 500.000 barris por dia, ou seja, quase 5% de sua produção diária.

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