O presidente ucraniano Volodimir Zelensky se mostrou veementemente contra uma futura participação de atletas russos nos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, ao tentar convencer os ministros dos Esportes de vários países nesta sexta-feira.

“Enquanto a Rússia matar e aterrorizar, os representantes deste estado terrorista não têm lugar nos esportes e nas competições olímpicas”, disse Zelensky em uma reunião por videoconferência com ministros dos Esportes de vários países e organizada pelo governo britânico.

“A simples presença de representantes do Estado terrorista é uma manifestação de violência e impunidade”, continuou e acrescentou: “e isso não pode ser encoberto por uma suposta neutralidade ou uma bandeira branca”.

Segundo o governo britânico, que “coordena uma declaração comum” dirigida “nos próximos dias” ao COI, participaram naquele encontro os “ministros ou altos representantes” dos países europeus, “assim como dos Estados Unidos e do Canadá”.

A Ucrânia se opõe à eventual presença de atletas russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, como planeja o Comitê Olímpico Internacional (COI), e ameaça boicotar a competição.

O presidente do COI, Thomas Bach, denunciou em um e-mail datado de 31 de janeiro e divulgado na quinta-feira essa posição ucraniana, que vai, em sua opinião, “contra os fundamentos do movimento olímpico”.

– Boicotes como na Guerra Fria? –

Segundo Bach, essas ameaças de Kiev são percebidas como “extremamente lamentáveis” pela “grande maioria” dos Comitês Olímpicos Nacionais (NOCs) e das federações internacionais.

E, como a história mostra, os boicotes anteriores não atingiram seus objetivos políticos e serviram apenas para punir os atletas” nos países mencionados, continua Thomas Bach, que foi privado da defesa de seu título olímpico na esgrima por equipe devido ao boicote alemão aos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscou.

O dirigente recorda ainda que qualquer boicote desportivo “é uma violação da Carta Olímpica”, sem evocar explicitamente sanções de forma explícita.

A hostilidade ucraniana à presença de atletas russos é apoiada pelos tradicionais aliados de Kiev, como a Grã-Bretanha e a Polônia. Os Estados Unidos, por outro lado, se pronunciaram a favor do compromisso da bandeira neutra.

“A situação na Ucrânia não mudou desde a decisão inicial do COI, em fevereiro passado (2022), de excluir atletas russos e bielorrussos das competições”, afirmou a ministra da Cultura britânica, Lucy Frazer, nesta sexta-feira durante essa cúpula.

“Enquanto (o presidente russo, Vladimir) Putin continuar sua guerra, a Rússia e a Bielorrússia não devem ser autorizadas a participar no cenário mundial ou ser representadas nos Jogos Olímpicos”, prosseguiu.

Mas até agora apenas um punhado de países considera um boicote, como a Polônia e a Estônia. A Letônia também alertou que “não participaria dos Jogos junto com o país agressor”, decisão que seria inédita desde os boicotes cruzados aos Jogos Olímpicos de 1980 em Moscou e depois aos de 1984 em Los Angeles durante a Guerra Fria.

– Macron espera o verão –

Zelensky garantiu nesta sexta-feira que Moscou utilizaria a participação dos atletas para efeitos de “propaganda de guerra”.

“Se os esportes olímpicos fossem matar e atingir com mísseis, então você sabe qual equipe ficaria em primeiro lugar”, ironizou.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia há quase um ano, atletas russos e bielorrussos foram banidos da maioria dos eventos mundiais, embora alguns esportes, como tênis e ciclismo, permitam sua participação sob uma bandeira neutra.

O COI propôs no final de janeiro um roteiro para organizar o retorno desses atletas com bandeira neutra, desde que “não tenham apoiado ativamente a guerra na Ucrânia”: a decisão de admiti-los, esporte por esporte, dependerá das federações internacionais, sem um calendário estabelecido até o momento.

O presidente francês Emmanuel Macron, cujo país sedia as Olimpíadas de 2024, disse que quer falar pessoalmente “no verão”.

Por enquanto, muito prudente sobre o assunto, o chefe de Estado francês havia garantido há alguns meses, por ocasião da Copa do Mundo de 2022 no Catar, que “não se deve politizar” o esporte.

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