A Ucrânia acusou neste domingo (26) a Rússia de tomar Belarus como “refém” após o anúncio de que Moscou implantará mísseis nucleares táticos neste território aliado, localizado às portas da União Europeia (UE).

Há um ano, as autoridades russas multiplicam as ameaças veladas de usar armas nucleares se o conflito com a Ucrânia se agravar.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no sábado que iria implantar armas nucleares “táticas” em Belarus – na fronteira com Letônia, Lituânia e Polônia, três países da UE e da Otan – e que 10 aeronaves já foram equipadas para usar esses tipos de armas.

“O Kremlin tomou Belarus como refém nuclear”, escreveu no Twitter o secretário do Conselho de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksii Danilov, considerando que a decisão é “um passo para a desestabilização interna do país”.

Para o assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, o presidente russo admite, com esta medida, que “tem medo de perder (a guerra) e que tudo o que pode fazer é dar medo”.

Ao anunciar a implantação, Putin afirmou que os Estados Unidos já estavam fazendo o mesmo.

“Não há nada incomum aqui: os Estados Unidos fazem isso há décadas. Há muito tempo implantam armas nucleares táticas no território de seus aliados”, disse ele em entrevista transmitida pela televisão russa.

– “Intimidação nuclear” –

“Decidimos fazer o mesmo”, acrescentou, garantindo já ter a aprovação do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.

Putin observou, no entanto, que a implantação seria feita “sem violar nossos acordos internacionais de não proliferação nuclear”.

A Alemanha denunciou esta iniciativa neste domingo, “uma nova tentativa de intimidação nuclear” por parte da Rússia, e afirmou que Belarus vai contra o seu compromisso de permanecer um território sem armas nucleares.

Moscou começará a treinar equipes em 3 de abril e planeja terminar a construção de uma instalação de armazenamento especial para armas nucleares táticas em Belarus em 1º de julho, disse Putin.

Embora Minsk não esteja diretamente envolvida no conflito com a Ucrânia, Moscou usou seu território para realizar sua ofensiva no ano passado e para realizar bombardeios, segundo as autoridades ucranianas.

– Obuses de urânio –

Putin decidiu enviar este tipo de arma nuclear para esta ex-república soviética depois que o Reino Unido mencionou a possibilidade de entregar obuses de urânio empobrecido à Ucrânia.

O presidente russo ameaçou recorrer a este tipo de projéteis se Kiev recebesse este material.

“A Rússia, é claro, tem com o que responder. Temos, sem exagero, dezenas de milhares desses projéteis. Até agora não os usamos”, disse Putin.

São armas que “podem ser classificadas como as mais nocivas e perigosas para o ser humano (…) e para o meio ambiente”, alertou.

O uso de munições com urânio empobrecido implica riscos tóxicos para os militares e para a população das áreas onde é utilizado.

Em negociações recentes em Moscou entre Putin e seu colega chinês, Xi Jinping, ambos os governantes declararam em uma declaração conjunta que a guerra nuclear “nunca deve ser declarada” porque “não pode haver vencedores”.

Mas várias autoridades russas, incluindo o ex-presidente Dmitry Medvedev, ameaçaram usar uma arma nuclear várias vezes desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Putin suspendeu no mês passado a participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear Novo START que assinou com os Estados Unidos, embora tenha prometido respeitar os limites de seu arsenal nuclear até o fim efetivo do acordo, em 5 de fevereiro de 2026.

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