Ubuntu ou “Eu sou porque nós somos” é uma filosofia com origem em antigos povos africanos que resgata a essência de viver com a consciência de que se é parte de algo maior e coletivo. Guiada por este ideal, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo concedeu, em sessão solene realizada na última segunda-feira (19), o Colar de Honra ao Mérito Legislativo ao rapper, compositor e autor Emicida.

O multiartista foi homenageado com a maior honraria do Legislativo Paulista pelo trabalho cultural e social desenvolvido em prol do Estado ao longo de quase 20 anos de carreira. A homenagem foi proposta pela deputada Paula da Bancada Feminista (Psol).

“De todos os motivos que nos fazem homenagear o Emicida nesta noite, o maior deles é a capacidade que ele tem de fortalecer, com a sua caneta, a coletividade”, disse Paula. Para a parlamentar, a entrega do colar ao artista representa o reconhecimento do Estado a uma trajetória mundialmente aclamada.

Até que cheguei longe

Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, é paulistano e uma das maiores referências do hip-hop nacional e internacional. O rapper é oriundo das batalhas de MCs paulistas e começou sua trajetória no mundo da música em 2009, com a mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe…”.

A origem humilde e as dificuldades enfrentadas no início da carreira foram lembradas pelo rapper Rashid, amigo e antigo adversário de batalha de Emicida. “Conheci o Emicida há 20 anos atrás e da forma mais hip-hop possível, na Batalha do Santa Cruz. Eu vi de onde esse cara veio […] e se tornou uma das maiores figuras da nossa cultura”.

Com seu último trabalho, o álbum “AmarElo”, de 2019, o artista alcançou o reconhecimento internacional e foi vencedor do Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum em Língua Portuguesa”.

Como homenagem à cultura das batalhas de rima, a Batalha da Matrix, de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, esteve presente no evento.

Emicida. Foto: Larissa Navarro/Divulgação.

A música é só uma semente

A cerimônia de entrega do colar de honra para Emicida ocupou o Plenário Juscelino Kubitschek com músicos, MCs, lideranças negras e demais apaixonados pela cultura hip-hop – todos fãs e admiradores do trabalho do rapper.

“A sua música fala de como, por maior que sejam as dificuldades, a gente sempre pode ter esperança de poder transformar as coisas, como estamos fazendo aqui”, disse o deputado Eduardo Suplicy (PT), que esteve presente ao evento.

O caráter inspirador das letras e músicas de Emicida também foi destacado nas falas das deputadas Thaianara Faria (PT) e Leci Brandão (PCdoB). “A sua capacidade de colocar em letras aquilo que nós passamos todos os dias é tão bonito. Você ajuda a moldar o caráter de uma geração”, disse Thainara. “É um músico que coloca a cultura negra no lugar que ela merece”, completou Leci.

Ubuntu

Emicida recebeu o colar de honra das mãos das cinco integrantes da Bancada Feminista da Alesp e em seu discurso reforçou o papel da arte como ferramenta de coletividade e representatividade.

“Sempre fui muito descrente da minha própria capacidade, mas foi no momento em que eu escutei um disco de rap que senti que tinha um lugar no mundo. Foi o momento que eu me senti gigante e parte de algo maior ainda”, disse ele.