A Turquia ordenou a detenção do ex-jogador de futebol Hakan Sükür, no âmbito dos expurgos lançados após o golpe de Estado frustrado de julho, pelo qual responsabiliza o pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos e alvo de uma ordem de extradição que, segundo Ancara, avança.
Em meio aos expurgos em massa impostos pelas autoridades turcas depois da revolta de 15 de julho, o ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, anunciou que 32 diplomatas baseados no exterior, que foram convocados por Ancara, não voltaram.
Hakan Sükür, ex-ídolo do Galatasaray e máximo goleador de todos os tempos na Turquia, é um autêntico astro em seu país. Alvo agora de uma ordem de detenção, é acusado pela procuradoria de “pertencer a um grupo terrorista armado”, em referência à organização de Gülen, disse a agência pró-governamental Anatolia.
Seu pai, Selmt Sükür, foi detido, anunciou a televisão privada NTV.
O ex-jogador de futebol, de 44 anos, deixou a Turquia no ano passado, junto com sua família, para se instalar na Califórnia, depois de ter sido alvo de uma demanda judicial por “insultos” contra o presidente Recep Tayyip Erdogan.
Depois de se retirar do mundo do futebol, Sükür foi eleito deputado em 2011 pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), o partido político do presidente islamita-conservador Erdogan.
Mas deixou o AKP em 2013, quando Erdogan rompeu com o influente pregador Gülen, que passou de seu principal aliado a inimigo jurado.
O ex-jogador de futebol nunca escondeu sua simpatia por Gülen, exilado nos Estados Unidos e cuja extradição é solicitada por Ancara, que o acusa de instigar o golpe de Estado frustrado.
Gülen sempre desmentiu estar por trás do levante.
Primeiros “sinais positivos”
Pela primeira vez, a Turquia disse ter recebido “sinais positivos” de Washington sobre este pedido de extradição.
“Começamos a receber sinais positivos dos Estados Unidos”, declarou nesta sexta-feira Cavusoglu, em uma coletiva de imprensa com seu colega iraniano, Mohamad Javad Zarif.
O chefe da diplomacia turca acrescentou que Ancara prepara novos documentos sobre Gülen para enviá-los a Washington, agora que “todos sabem que está por trás da tentativa de golpe”.
A Turquia critica os Estados Unidos, que até o momento não responderam ao pedido de extradição do ex-imã, exilado na Pensilvânia desde 1999.
O chefe da diplomacia turca disse ainda que o secretário de Estado americano, John Kerry, e o vice-presidente, Joe Biden, irão à Turquia. Ele já havia anunciado uma visita de Kerry no dia 24 de agosto, uma informação que nunca foi confirmada por Washington.
Cavusoglu também anunciou que diplomatas turcos no exterior desapareceram. “Trinta e dois dos 208 diplomatas chamados pela Turquia” depois da revolta “não voltaram”, disse.
O ministro acrescentou que alguns deles se refugiaram em outros países. Concretamente, dois diplomatas da missão turca de Bangladesh buscaram refúgio nos Estados Unidos.
Dois adidos militares da embaixada turca na Grécia, que Ancara também convocou de volta, pegaram uma balsa com suas famílias rumo à Itália, informou na quinta-feira o ministro.
O expurgo lançado depois do golpe engloba uma série de instituições e setores da sociedade turca: educação, justiça, imprensa, meios de negócios e esportivos. Um total de 16.000 pessoas foram detidas e acusadas formalmente e 6.000 seguem em prisão provisória.