Turma do STF forma maioria para condenar Carla Zambelli por invasão ao sistema do CNJ

Turma do STF forma maioria para condenar Carla Zambelli por invasão ao sistema do CNJ

"DeputadaMinistros decretam prisão de 10 anos e perda de mandato. Deputada é acusada de invadir sistema do CNJ e inserir mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Decisão cabe recurso.A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta sexta-feira (9/10) para condenar a deputada Carla Zambelli (PL-SP) a dez anos de prisão e pela invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em 2023. A decisão cabe recurso.

Até o momento, o relator do caso, Alexandre de Moraes, e os ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin se manifestaram a favor da condenação pelos crimes de invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica. Faltam os votos de Luiz Fux e Cármen Lúcia.

Os ministros também acolheram a parte do voto de Moraes que decreta a perda de mandato da parlamentar.

Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli foi a autora intelectual da invasão para emissão de um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Segundo as investigações, o hackeamento foi executado por Walter Delgatti Neto, que é réu confesso.

A decisão do STF também condena o hacker a 8 anos e 3 meses de prisão e ao pagamento de R$ 2 milhões por danos morais coletivos, valor que deverá ser dividido com a parlamentar.

"A atuação vil de uma deputada, que exerce mandato em representação do povo brasileiro, e de um indivíduo com conhecimentos técnicos específicos causou relevantes e duradouros danos à credibilidade das instituições, violando os princípios constitucionais consagrados no Brasil", escreveu Alexandre de Moraes no despacho.

Já Zanin também relacionou o ato aos atos golpistas de 8 de janeiro. "Parte significativa dos fatos narrados nesta ação penal eclodiram às vésperas do lamentável episódio do 8/1/2023, o que permite refletir que os crimes praticados se inserem em um contexto mais amplo de tentativa de ruptura da ordem constitucionalmente estabelecida."

Depoimento de Delgatti baseou denúncia

Segundo a investigação da Polícia Federal, Delgatti teria usando "credenciais falsas obtidas de forma ilícita para inserir os documentos fraudados nos bancos de dados do Judiciário Federal".

Para a ação, que ocorreu em janeiro de 2023, ele teria recebido um texto entregue pela própria Zambelli. O hacker apresentou à polícia extratos bancários que comprovariam repasses feitos por pessoas ligadas à deputada, totalizando ao menos R$ 13,5 mil.

Em seu depoimento, ele ainda acusou Zambelli de pedir que ele hackeasse Moraes a fim de obter "conversas comprometedoras".

Delgatti ainda disse à PF que a parlamentar também o procurou para invadir uma urna eletrônica e, com isso, "demonstrar a fragilidade do sistema da Justiça brasileira", o que não aconteceu.

Preso em 2015 por falsidade ideológica e investigado em 2017 por falsificação de documentos e estelionato, Walter Delgatti Neto ganhou fama após ser preso em julho de 2019 sob a acusação de invadir celulares de autoridades que investigavam e julgavam escândalos de corrupção no escopo da Operação Lava Jato.

Zambelli rejeita decisão

Em nota à imprensa, a defesa de Carla Zambelli contestou a realização de um julgamento virtual para condenar a deputada. Os advogados também consideraram "absolutamente injusto" que a parlamentar seja condenada "sem provas irrefutáveis".

"Absolutamente injusto que a deputada tenha sido julgada e condenada sem provas irrefutáveis e induvidosas, ainda mais por fatos que desconhecia, como, por exemplo, os alvarás falsos que o mitômano Walter [Delgatti] fez para seu primo e terceiras pessoas", declararam os advogados.

A decisão cabe recurso e as penas só podem ser executadas quando houver trânsito em julgado.

Outros processos pesam contra Zambelli

Carla Zambelli responde a outro processo criminal no STF. Ela é ré pelo episódio em que sacou uma arma de fogo e perseguiu o jornalista Luan Araújo às vésperas do segundo turno das eleições de 2022.

A perseguição começou após Zambelli e Luan trocarem provocações durante um ato político no bairro dos Jardins, em São Paulo.

Até o momento, o Supremo registrou placar de 5 votos a 0 para condenar a parlamentar a 5 anos e 3 meses de prisão em regime semiaberto neste caso. No entanto, um pedido de vista do ministro Nunes Marques adiou a conclusão do julgamento.

gq (Agência Brasil, ots)