Os ecos de um passado distante parecem ressurgir nos tempos atuais. Era 1920 quando Aloha Wanderwell , no auge dos seus 16 anos decidiu explorar o planeta e tornou-se celebridade mundial ao viajar por 80 países. Foi também naquele ano que surgiram os primeiros alpinistas – Andrew Irvine e George Mallory – que resolveram subir até o topo do Monte Everest pela face norte. No mesmo ano começaram as expedições de moutain bike de altas distâncias, onde ciclistas sem experiências decidiam atravessar vários países pedalando. Quanta ousadia em 1920.

Além disso, o cenário cultural ganhava forças na reviravolta do chamado “Roaring Twenties”, anos em que Scott Fitzgerald e Willian Maxwell escreveram seus melhores romances, Dalí largou a Escola de Arte e partiu pra Paris para encontrar Picasso e Miró, começando as suas primeiras obras surrealistas que o deixaria famoso e reconhecido, Freud começava a clínica de psicanálise e Einstein finalmente comprovava a teoria da Relatividade. E por aí vai. Grandes descobertas e realizações. As pessoas simplesmente superaram a dicotomia de pensamentos dos conservadores e caíram na estrada, atrás de seus sonhos.

Tudo isso há exatos 2 anos após a gripe espanhola de 1918 que assolou o mundo, deixando pessoas em lockdown por meses e meses e matando outras quase 100 milhões de pessoas.

Voltamos aos tempos atuais, também há exatos 2 anos do pós pandemia da Covid-19: Esse mês saiu a pesquisa da Organização Mundial do Turismo (OMT) indicando retorno aos níveis anteriores à 2020, indicando um grande aumento no setor para 2024. As pessoas voltam a viajar, mas voltam diferentes e aquele modelo de turista que segue a jornada sonhar – planejar – comprar e experimentar parece mudar.

O planejamento neste caso se torna mais ousado e curto, e as pessoas perdem o medo de trocar itens de consumo com os quais convivemos à exaustão no período de isolamento social (tais como carro, casa, roupas, máquinas de lavar etc.) ao ato de se viver uma viagem, o novo e por que não dizer: o inesperado. E a partir daí, novos vocabulários e novos modelos de viagens, serão mais comuns como o Couchsurfing – uma rede de colaboração global que põe em contato viajantes que querem experimentar um mergulho profundo na cultura local, e anfitriões dispostos a abrir as portas das suas casas para receber novas pessoas.

O guia turístico por exemplo, será muito mais visto como na comunidade Rent a Local Friend, onde pessoas que amam viajar e estar em contato com diferentes culturas podem ganhar um dinheiro extra, partilhando o seu modo de vida e seus lugares favoritos da sua cidade com novos amigos estrangeiros. Ou ainda o que era antigo transfer será um esquema ao estilo Beep Me – que conecta pessoas interessadas em encontrar caronas de longa e curta distância no mundo todo.

Outro destaque importante na pesquisa é que o barômetro do Turismo Mundial da OMT também destaca que a contribuição econômica total do turismo, que incluiu o turismo internacional e o doméstico, atingiu US$ 3,3 trilhões – cerca de 3% do PIB mundial e o secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, enfatiza que a retomada do turismo já está tendo “um impacto significativo nas economias, no emprego, no crescimento e nas oportunidades para as comunidades em todos os lugares”.

Tudo certo. Mas será que o nosso senhor ministro do turismo atual Sr. Celso Sabino não pensa na possibilidade de reverter parte desse crescimento no investimento de projetos de práticas sustentáveis e diminuição das emissões de gases para o país ?