03/07/2020 - 15:20
A arte é um universo sem fronteiras capaz de transformar a forma como vemos o mundo. Quanto mais profundo for o estudo e o entendimento desse campo, mais sensibilidade trazemos para as nossas emoções. Entender a história que está por trás de cada obra faz com que cores, traços, retratos e personagens ganhem novas dimensões para aguçar sentimentos, interpretações, entendimentos e reflexões, em uma jornada sem limites.
Artistas usam a arte como uma maneira de expressar emoções, de tratar os enigmas da vida e de explorar os sentimentos mais profundos. Conseguem enxergar verdadeiramente e ampliar o que as outras pessoas não veem porque exercitam suas emoções rotineiramente, assim como atletas olímpicos cuidam de seus músculos. Não por acaso, muitos deles são considerados loucos – e alguns são de fato (Risos!). Mas pergunto: cite uma pessoa ”normal” que criou algo revolucionário?
Já que estamos em tempos de COVID-19, proponho um final de semana diferente para todos ao recomendar 3 filmes que me lembram quadros de diferentes artistas para uma viagem de experiências que pode acontecer a partir do próprio sofá de sua casa.
- Filme: Titanic. Obra: ”Femme Nue Couchée” (1906) de Pierre-Auguste Renoir
Titanic é um clássico. A ideia de começar a gravação por uma das cenas mais quentes do filme partiu do diretor. A parte que Jack (Leonardo DiCaprio) pinta o retrato de Rose (Kate Winslet) nua foi gravada no primeiro dia de filmagens para gerar emoções sinceras e eliminar definitivamente qualquer manifestação de timidez por parte dos atores que, até então, não se conheciam direito.
A cena do sofá é bem semelhante à pintura ”Femme Nue Couchée”, uma obra prima de Pierre-Auguste Renoir. Ele foi um dos principais pintores do mundo, ao lado de Claude Monet, de Edgar Degas e de muitos outros. O rosto rosado, as curvas, os seios, as cores, a boca vermelha, as pernas dobradas e a almofada que nos levam para dentro do quadro. As obras de Renoir estão sempre em grande destaque nos principais museus do mundo como o MASP e, em posição ainda mais chamativa em locais pequenos como o Museu de Cleveland. Existem dezenas de desenhos e de quadros de Renoir com o mesmo nome e com mulheres nuas no sofá. Só um detalhe – nenhum dos desenhos ou dos quadros têm um colar como o do filme, mas acho que ninguém realmente vai prestar atenção na joia utilizada pela atriz ao ver Titanic. Vou verificar depois a opinião dos leitores nos comentários desta coluna.
Concordo com Renoir, que classificava o nu como a mais indispensável forma de arte. Dizia que era ”impossível imaginar algo mais lindo”. Suas obras desse estilo trazem a graça da silhueta, contornos e cores em uma harmonia encantadora. Para quem desejar mais detalhes é possível ver dezenas de quadros de Renoir com mulheres nuas.
- Filme: As Confissões de Schmidt. Obra: ”La Mort de Marat” (1793) de Jacques-Louis David
O filme As Confissões de Schmidt é uma comédia dramática. Foi escrito e dirigido por Alexander Payne e produzido por Michael Besman, Harry Gittes e Rachael Horovitz. Note a semelhança da cena de Jack Nicholson na banheira com o quadro ”La Mort de Marat”.
Vi esse quadro exposto em um museu de Bruxelas, e rotineiramente recebo memes pela Internet que fazem associações com essa obra. Trata-se de uma pintura clássica criada para representar Jean-Paul Marat, um chefe político assassinado durante a Revolução Francesa. Era amigo pessoal de Jacques-Loius David e tinha uma dolorosa doença de pele que o obrigava a permanecer dentro de uma banheira durante muitas horas. Note que o fundo da tela é marrom propositalmente para não chamar a atenção para mais nada além do homem, da banheira e de seus diversos objetos: a carta, o bico de pena, as dobras do lençol, a faca, a ferida e o sangue.
- Filme: Forrest Gump– O Contador de Histórias. Obra: ”Christina’s World‘ (1948) de Andrew Wyeth
Forrest Gump é um filme engraçadíssimo, que retrata várias décadas na vida do personagem central, interpretado por Tom Hankz. Mostra a jornada de um homem simples do Alabama, suas andanças pelos Estados Unidos e o encontro com diversas personalidades. Forrest Gump influencia a cultura popular americana e é testemunha de alguns dos eventos mais importantes do final do século XX. Revendo a riqueza de detalhes históricos, realmente podemos dizer que o diretor lembrou praticamente de todos os momentos históricos. Uma refilmagem certamente incluiria o coronavírus. A propósito: Tom Hanks foi um dos primeiros atores de Hollywood a se testarem positivo para COVID-19.
Tem uma cena no filme que parece ser inspirada no quadro ”Christina’s World” (1948), de Andrew Wyeth, que foi um importante pintor realista americano. O quadro ”O Mundo de Christina” mostra uma moça sentada em um campo de trigo e vendo uma casa de madeira ao fundo. A princípio, parece uma cena rotineira nas fazendas do interior dos Estados Unidos. Mas, em poucos minutos, essa percepção muda. Esse quadro está no Moma – Museu de Arte Moderna de Nova York e é um dos mais impressionantes que já vi. Não mostra o rosto da jovem, mas transmite uma sensação profunda de desespero. Note a posição dos braços de Christina, a pressão deles sobre o chão e a tentativa de movimento do corpo. Trata-se da imagem de uma moça aleijada que tenta desesperadamente se mover e chegar a algum lugar. A casa e o celeiro são pequenos para dar dimensão da dificuldade de locomoção. Comprei um poster desse quadro para me lembrar de agradecer todos os dias pela minha saúde e pelo o que tenho na vida.
Uma última dica super importante:
Se não tiver paciência ou interesse para ver os filmes, seria bacana pelo menos viajar pelas pinceladas dos quadros. Que a arte desperte sua curiosidade e ajude a ressignificar a sua vida e a de que você ama, todos os dias!