Coluna: José Manuel Diogo

Fundador da Informacion Capital Consulting e Diretor da Câmara de Comércio e Industria Luso Brasileira em Lisboa onde coordena o comité de Trade Finance é o autor do estudo "O Potencial de Expansão das Exportações Brasileiras para Portugal”. Atua atualmente como investidor e consultor, estando envolvido em projetos de intercâmbio internacional nas áreas do comércio, tecnologia e real estate. Vive com um pé em cada lado do Atlântico, entre São Paulo e Lisboa. É autor e colunista na imprensa internacional sobre temas de investimento, importação e exportação e inteligência de mercado. É um entusiasta da cultura e da língua portuguesa.

Tupi or not Tupi, this is the question

O Brasil não é para principiantes”, dizia António Carlos Jobim na frase que condena, logo na linha partida, todos os neófitos na Terra Amada. Principiante não entra na terra da Mônica, nem de Mauricinho, nem em quadrinhos. Não entra, viu? Aqui é sempre melhor ouvir falar que ver!

“Ai que preguiça” é aquela fala sem carater do herói de Mário de Andrade, perfeito retrato-metáfora de um Brasil Individualista e preguiçoso. Feito de malandragem, egoísmo, vingança e inocência, Macunaíma é o suco dessa mistura. Essência da história partilhada por todo o brasileiro, que começa por ser índio, depois negro, até virar europeu. Depois de tomar banho na poça do pé do gigante Sumé. Mergulha galera!

E “no Brasil até o passado é incerto” não é Roberto Campos? Aqui ninguém está livre (nem certo) de uma analepse fiscal, de um flash back tributário ou de uma ressurreição política. Como os principiantes que não têm futuro, aqui os experientes podem nem ter passado. Cuidado, Pau Brasil é máquina do tempo!

Rajada. Fala Millôr! Porque é que “o Brasil é a prova que geografia não é destino”? Porque está sempre condenado à esperança? Porque é sempre o país do futuro? — Tu não sabe mesmo nada cara! Porque é um filme pornô com trilha de bossa nova; e uma empresa unifamiliar governada por um tour de farsa nos trilhos de um trem sem maquinista. Falei! Está bem, Deus é brasileiro. Mas para defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol. Mas aí tem sempre um Neymar!

Deus é Brasileiro? É! Tá no cinema. Mas esse pessoal, João Ubaldo, não entende que, toda vez que Deus faz um milagre, tem de reajustar tudo, é uma trabalheira que não acaba, a pessoa se afadiga. Buliu aqui, tem de bulir ali, é um inferno, com perdão da má palavra. Ninguém se enxerga!

Bovarismo tropical é tudo isso. Um resumo completo deste trajeto que consiste em nos tomarmos sempre por não brasileiros — por portugueses no século XVIII, ingleses ou franceses no XIX, norte-americanos no XX. Portugueses de novo no XXI?
Por isso me perdoem se antes de falar da madame do Gustavo com viés Bahiano, fiquei com vontade de recordar outras definições do meu gongórico tropical. Obrigado Heloisa Starling por esse obrigatório “Brasil, uma Biografia”. Agora já sei que em BH até Brás Cubas pode ter universidade.

Será que é maldição? Apenas condição? Samba? Futebol? Me diga seu Oswaldo Shakespeare Andrade, Manifesto-antropófago-futurista. Bovarilove! Tudo foi dito e nada foi feito.

— Tupi or not tupi? That is the answer.