As colinas de Matobo são conhecidas no Zimbábue como um local sagrado de conexão com a ancestralidade, mas a presença do túmulo do colono britânico Cecil Rhodes na mesma região provoca polêmica.

A lápide de Cecil John Rhodes (1853-1902) é alvo de críticas das novas gerações, que querem se libertar do último estigma do colonialismo neste país do sudeste africano.

Apesar das críticas, segundo alguns defensores da permanência do túmulo, o local atrai muitos visitantes, o que gera renda para os vilarejos ao redor do Parque Nacional de Matobo.

A tumba é cercada por rochas imponentes marcadas pela erosão e cobertas por líquens verdes e vermelhos que brilham quando iluminados pelo sol.

Do alto da colina é possível observar a imensidão das árvores, por entre as quais caminham antílopes e javalis enquanto as nuvens deslizam no horizonte.

Em 2015, um grupo denominado “Rhodes must fall” (“Rhodes deve cair”) lançou uma campanha para retirar as estátuas do colono na Cidade do Cabo, na África do Sul, e em Oxford, no Reino Unido.

O britânico foi o fundador da empresa De Beers, a primeira do ramo dos diamantes e que continua sendo a número um do mundo.

Criticado e considerado racista, Rhodes sonhou com uma África britânica que iria da Cidade do Cabo ao Cairo e obteve a doação, por parte da rainha Victoria, de vastos territórios no sul do continente.

Em Harare, capital do país, Cynthia Marangwanda, “furiosa” com o túmulo, explica como o colono escolheu a região porque conhecia seu significado espiritual para a população local.

“É um ato final, deliberado e calculado de dominação”, disse à AFP.

“Matobo é um parque lindo, não precisa de túmulo colonial” para atrair visitantes, acrescenta a ativista de 37 anos.

– “Colonização espiritual” –

Para o historiador Tafadzwa Gwini, o monumento é “um insulto”, uma forma de “colonização espiritual”.

Mudar o local da sepultura “pode não ter resultados tangíveis e imediatos, mas é uma forma de reivindicar nossa identidade”, diz ele.

Em Matobo, no entanto, alguns visitantes questionam a polêmica.

“Eu trouxe as crianças, isso é lindo”, disse Nicky Johnson, um cidadão local branco de 45 anos. “Não devemos reescrever a história. Ele queria ser enterrado aqui, é assim que as coisas são”, conta.

Já Akhil Maugi, que mora na cidade vizinha de Bulawayo, também acredita que “o que aconteceu não pode ser apagado (…) ninguém viria aqui se este túmulo desaparecesse”, afirmou.

Pathisa Nyathi, um historiador local, diz que “a grandeza dessas rochas” é o que tornou o lugar sagrado, atraindo peregrinos a centenas de quilômetros de distância.

“Mas o que era sagrado para os africanos não era sagrado para Cecil Rhodes”, lamenta o homem de 71 anos.

Na saída do parque, turistas podem encontrar um mercado que vende camisas, cestas e estatuetas de animais esculpidos.

Os visitantes “compram o nosso artesanato, isso nos permite mandar os filhos para a escola, comer”, diz Micah Swanda, de 82 anos, morador de uma cidade próxima.

Se a sepultura for transferidas, “seria muito difícil, não há trabalho aqui”, diz ele.

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