“Meu deus, meu deus, se eu chorar não leve a mal, pela luz do candeeiro, liberte o cativeiro social”. Eis que, da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, brota uma explosão popular contra a destruição nacional. Num enredo emocionante, construído pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, a Paraíso do Tuiuti resumiu a história recente do Brasil, país de escravidão abolida apenas formalmente. Nesta sociedade extremamente desigual, mas que vinha enfrentando suas mazelas sociais, tudo foi interrompido quando “manifestoches”, manipulados pelos meios de comunicação, vestiram camisas amarelas, bateram panelas e instalaram no poder um “vampirão” disposto a entregar riquezas nacionais e a retirar direitos dos trabalhadores.

Campeã do povo, a Tuiuti foi derrotada pela Beija-Flor, que assumiu a narrativa oficial que vem sendo construída há anos pelos meios de comunicação: a de que todos os problemas nacionais se devem à corrupção e ao patrimonialismo. Só faltou defender a venda da Petrobras e a entrega do pré-sal. Numa cena medonha, a escola de Nilópolis exibiu jovens negros, segurando fuzis, diante de estudantes brancas, que se atiravam no chão o que só reforça os estereótipos que alimentam o massacre da juventude preta e periférica pelas polícias das grandes cidades.

Dois dias depois da quarta-feira de Cinzas, vem a bomba: incapaz de gerir a segurança pública em seu estado, o governador Luiz Fernando Pezão pede intervenção em seu estado, o que significa que as polícias civil e militar do Rio estarão sob o comando do general Walter Souza Braga Neto, chefe do comando do Leste. A tendência é que a população das comunidades mais carentes do Rio seja submetida a restrições de direitos para que os moradores da zona sul tenham uma pretensa sensação de maior segurança.

A solução para os problemas do Rio, no entanto, passa longe de uma intervenção militar. A saída mais urgente é recuperar os investimentos na indústria naval e na cadeia produtiva do setor de óleo e gás. No entanto, o vampirão da Tuiuti não apenas decidiu entregar o pré-sal, como praticamente matou a política de conteúdo local nas encomendas da Petrobras. Resultado: de todos os estados brasileiros, o Rio de Janeiro é aquele que mais sofre com o desemprego.

O caos fluminense revela que o Rio não precisa de militares, de “manifestoches” e muito menos de narrativas falsas, como a da Beija-Flor. A saída é mais escola, mais emprego, mais Tuiuti e mais Jessé Souza, autor do já clássico “A elite do atraso”, que inspirou o enredo da escola de samba de São Cristóvão. “Não sou escravo de nenhum senhor, meu Paraíso é meu bastião, meu Tuiuti o quilombo da favela, é sentinela da libertação”.

O Rio de Janeiro precisa de emprego e igualdade, não de uma nova intervenção militar

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