“Nada está tão ruim que não possa piorar”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro no discurso que marcou seus mil dias de governo. Foi, provavelmente, sua primeira declaração que fez sentido desde a posse. Minha única restrição é o condicional usado na frase — tudo já está ruim, mas certamente vai piorar.

A quantidade de exemplos do desgoverno brasileiro que eu poderia citar aqui não encheria apenas o espaço dessa coluna, mas a revista inteira — mais que uma, até. Para efeito de síntese, vou me ater a um único caso que simboliza esse desrespeito com a população: o governo deixou vencer milhares de testes de Covid, remédios e vacinas — um estoque de R$ 80 milhões será jogado no lixo. Apesar de ter sido alertada sobre as datas de validade, a Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde fez o que o presidente Bolsonaro faz todos os dias: nada.

Os erros desse governo são culpa de Bolsonaro, pois sua ignorância inspira e legitima os incompetentes que obedecem cegamente às suas ordens

Pergunta retórica: se os servidores da Secretaria de Vigilância não têm capacidade de vigiar um estoque em plena pandemia, o que será que eles fazem? Servem para quê?

Você pode defender que a culpa, aqui, é do ministro Marcelo Queiroga. Você está errado. Tudo nesse governo é culpa do presidente Bolsonaro, porque sua ignorância inspira e legitima os incompetentes que obedecem cegamente às suas ordens. Prova disso é que, na semana passada, ele mandou o ministro interromper a vacinação de adolescentes. Baseado em quê? Alguma norma da OMS? Especialistas? Pesquisadores? Não. Ele ouviu uma jogadora de vôlei negacionista falar sobre isso numa rádio. Ou seja: o Brasil é governado por um lunático que decide o destino de milhões de brasileiros baseado em mentiras disseminadas no universo paralelo que ele criou para se proteger. Enquanto ele regorgita suas asnices sem nexo, no entanto, nós, pessoas normais, somos obrigados a viver no mundo real.

Como a vida é uma sucessãode fatos acumulados, cada dia que Bolsonaro passa como presidente é um dia a menos para o Brasil dar certo. Basta olhar em volta. Educação? Nunca esteve tão abandonada. Economia? Inflação de volta. Meio ambiente? Recorde de desmatamento na Amazônia. Política externa? Somos uma piada mundial. A única área em que Bolsonaro é bem sucedido é na sua missão de destruir as instituições do País. Como a Procuradoria-Geral da Repúblicae o Congresso estão em suas mãos, só nos resta esperar mais 450 dias para se livrar dele nas urnas.