Por Denise Mirás

Encerrada a tradicional Superterça — no dia 5 —, com eleitores de 15 Estados mais a Samoa Americana decidindo delegados que irão chancelar os candidatos do Partido Democrata e do Republicano às eleições presidenciais dos EUA em 5 de novembro, Joe Biden e Donald Trump partem agora para um confronto que promete ser o mais caro e o mais belicoso da história política internacional.

Apenas em publicidade, há estimativas de que serão gastos US$ 2,7 bilhões nas campanhas dos dois candidatos, que muitos democratas e republicanos rejeitariam se tivessem opções. Não há.

Os dois serão indicados oficialmente pelas Convenções de seus partidos em julho (Republicano) e agosto (Democrata), em Milwaukee e Chicago. Nessa revanche, 17% de eleitores que “odeiam os dois” (detectados por pesquisa da Marquette University Law School, de Milwaukee) podem decidir o destino dos EUA — e, por tabela, do mundo.

Trump lidera as pesquisas à Presidência, mas no aspecto financeiro é o Comitê Nacional Democrata que tem hoje US$ 41 milhões a mais em caixa do que o Republicano.

E é com montanhas de dinheiro que pretende abafar o extremista já neste semestre, alardeando feitos do governo que não são percebidos pelo grosso da população:
• economia estável,
• queda da inflação e de desemprego,
• e também o direito das mulheres ao aborto, retirado com apoio de Trump, que enfureceu inclusive eleitoras republicanas.

No fim deste mês, os democratas vão apresentar Biden ao lado de dois ex-presidentes, Barack Obama e Bill Clinton, com previsão de arrecadar US$ 10 milhões nessa única noite.

O Partido Democrata aguarda doações de US$ 250 milhões da Future Forward e US$ 200 milhões da American Bridge e mais US$ 700 milhões de aliados anti-extremistas.

Biden arrecada, Trump gasta

Dinheiro tradicionalmente faz a diferença em campanhas americanas, mas não foi determinante em 2020, quando a situação era inversa: Trump contava com muito mais verba e Biden foi eleito. Desta vez, a situação do republicano beira uma tragédia.

Gastou vários milhões da própria conta para se livrar de processos (da escritora E. Jean Carroll, que denunciou estupro; por fraude comercial em Nova York; ao jornal The New York Times) e ainda em honorários advocatícios.

Sua fortuna já havia baixado para US$ 2,6 bilhões (segundo a revista Forbes, que contabiliza US$ 10 milhões para Biden) e segue sendo corroída.

Como grande trunfo, contabiliza a decisão da Suprema Corte dos EUA (às vésperas da Superterça) de garantir seu direito de participar das eleições, espantando o fantasma da inegibilidade pela tentativa de golpe de Estado com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, para impedir a posse de Biden.

Mas a saga segue:
no próximo dia 25, Trump começa a responder pelo pagamento de uma atriz pornô com dinheiro do partido (e que muitos veem como o processo com mais possibilidade de tirar o ex-presidente da corrida).

Ainda enfrenta outro, a partir de 20 de maio, pelo furto de documentos secretos da Casa Branca, que simplesmente levou para casa e mostrou a frequentadores de campos de golfe.

Com isso, Trump corre atrás de doadores, como fez com Elon Musk, CEO da Tesla (que já adiantou: não vai apoiar ninguém).

Trump x Biden: saiba o que está em jogo na indicação republicana e democrata
Joe Biden, atual presidente dos EUA, pelo Partido Democrata: “Vamos permitir que Trump nos arraste para o caos e a escuridão de seu mandato?” (Crédito:Alex Brandon)

Há vários fatores que podem derrubar qualquer dos dois candidatos até a eleição de novembro e o mais imediato a ser contornado, no caso de Biden, é o apoio a Israel depois do massacre de cerca de 30 mil palestinos — na Superterça, ele teve uma amostra desse Fator Gaza, com mais de 20% de votos de protesto em Minnesota (marcados na opção “uncommitted”, em vez de “Joe Biden”), por parte de jovens descendentes de árabes. Outro ponto que até poderia definir a eleição: a imigração.

Encerrada a Superterça, seguem primárias e caucus (quando a escolha de delegados não é por urna e secreta, mas em assembleias) até junho, com encontros agora assumidamente transformados em comícios, como lembra Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB.

Para ele, mesmo com uma situação externa tão importante como Gaza, o peso maior nas eleições americanas está nos indicadores domésticos e, por isso, Biden não pode ser considerado carta fora do baralho.

“Ele tem a vantagem de estar no governo e ter se voltado à transição energética, à baixa na inflação e no desemprego. Precisa, sim, corrigir rumos”, diz o professor, citando a questão dos imigrantes.

Enquanto Trump mantém o discurso inflamado e raso contra ilegais, que chama de “animais”, Biden ainda se mostra vacilante diante da projeção de que haverá nada menos que 35 milhões de hispânicos nos EUA em 2030.