Um tuíte de Donald Trump, em que ele celebrava a prisão “depois de dez anos de busca” de um paquistanês suspeito de ser um dos cérebros dos atentados de Mumbai, virou piada nas redes sociais nesta quinta-feira (18), já que o detido nunca desapareceu da vida pública em seu país.

Acusado por Washington e por Nova Délhi de estar por trás dos atentados de 2008, Hafiz Saeed foi detido na quarta-feira (17) no leste do Paquistão, dias antes de uma viagem do primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, a Washington para seu primeiro encontro com Trump.

“Depois de dez anos de busca, o chamado ‘cérebro’ dos atentados terroristas de Mumbai foi detido no Paquistão. Foi exercida uma forte pressão nos últimos dois anos para encontrá-lo!”, tuitou o presidente americano na terça-feira.

Hafiz Saeed é o dirigente da organização islamista Jamaat-ud-Dawa (JuD), considerada terrorista pela ONU e que Nova Délhi considera como uma vitrine do Lashkar-e-Taiba (LeT). Este último é um grupo acusado de estar por trás dos atentados de Mumbai em 2008, que deixaram 160 mortos.

Saeed, pelo qual se pediu uma recompensa de 10 milhões de dólares, nunca esteve desaparecido. Pelo contrário: quando não esteve sob custódia das autoridades paquistanesas, dedicava-se a dar discursos públicos e entrevistas transmitidas pela televisão, além de ter tentado lançar um partido político para contestar as eleições gerais do ano passado.

Entre os usuários das redes sociais que fizeram piadas de Trump, houve jornalistas que destacaram como era fácil acessar Saeed nos últimos anos.

“É Hafiz Saeed. Não Jason Bourne”, ironizou em um tuíte a apresentadora de televisão paquistanesa, Amber Shamsi.

“Também entrevistei Hafiz Muhammad Saeed para @AJEnglish em 2015 em uma mesquita e em uma escola dirigida pelo JuD em Islamabad. Não precisei de muito tempo para encontrá-lo”, comentou Asad Hashim, correspondente da Al Jazeera em Islamabad.

A Comissão das Relações Exteriores dos Estados Unidos também se referiu ao tuíte do presidente, citando as oito detenções – e libertação – de Saeed desde 2001. “Vamos esperar que ele seja reconhecido culpado para celebrar”, tuitou.

A liberdade de movimento de Saeed no Paquistão sempre provocou a ira da Índia, que exigiu em várias ocasiões que se julgasse seu suposto papel nos atentados de 2008.

Muitos vinculam sua recente detenção ao fato de Trump, que frequentemente acusou Islamabad de “hipocrisia” em suas relações com grupos extremistas, receber o premiê Imran Khan, na Casa Branca, na próxima segunda.

“Hafiz Saeed claramente não se encontrava foragido quando me reuni com ele em sua casa em Lahore, em 2013. Sua liberdade, ou sua ausência de liberdade, depende frequentemente da pressão internacional exercida sobre o Paquistão por seu apoio à militância”, tuitou Declan Walsh, ex-correspondente do jornal “The New York Times” no Paquistão.