Sua visita a Londres foi anunciada, adiada por tensões diplomáticas e, finalmente, será nos palcos que o presidente Donald Trump fará sua trepidante estreia na capital britânica… Mas como protagonista de uma irreverente comédia musical.

É um Trump rejuvenescido e mais magro, dotado do famoso topete louro, que surge em “Trump: The Musical”, uma sátira encenada no Waterloo East Theatre, um teatro de cerca de 100 lugares que fica no centro londrino.

O gestual e a obsessão com as “Fake news” lembram o presidente americano. Já o restante é fruto da imaginação delirante de uma jovem trupe de Sheffield (norte da Inglaterra), a Blowfish Theatre.

Em um Reino Unido pós-Brexit, Nigel Farage, ex-líder do partido eurofóbico Ukip, chegou ao trono, depois de privatizar a monarquia e colocar a rainha atrás das grades. O custoso sistema de saúde britânico, o NHS, foi extinto, mas ainda assim o Reino Unido não tem dinheiro e, para reabastecer o caixa, Farage quer vender a Escócia para o presidente americano.

Do banheiro, Trump (David Burchhardt) tuíta: “Negar, difamar, distrair, inflamar, contestar as ‘fake news’. Com meu celular, eu brinco do meu jogo preferido: eu jogo as bolas e os jornais vão atrás delas”, cantarola.

Enquanto isso, na Rússia, Vladimir Putin (interpretado pela atriz Natasha Lanceley) chora as mágoas na vodca: Trump perdeu seu interesse por ele.

“Oh, Donald, nós éramos tão próximos! Achei que você me amasse de verdade”, lamenta o presidente russo, acrescentando que, “nos meus sonhos, eu sempre vejo sua boca doce, redonda e enrugada”.

– Catarse –

No ano passado, a companhia de teatro foi atrás do polêmico ministro britânico das Relações Exteriores, o pró-Brexit Boris Johnson, que compartilha com Trump uma característica cabeleira e declarações controversas.

“A gente disse, ‘bom, vamos fazer um musical sobre um demagogo loiro, então, vamos fazer sobre mais um'”, disse o codiretor artístico Laurence Peacock.

A campanha e a eleição de Trump foram fonte de inspiração, mas o Brexit continua no centro dessa nova comédia musical.

“Do Brexit, os britânicos estão realmente fartos, mas, pelo menos, podemos rir. É uma fonte de catarse”, afirma o codiretor artístico Kyle Williams.

Depois de interpretar Boris Johnson no ano passado, David Burchhardt mudou de peruca e de trejeitos para entrar na pele do presidente americano.

Para isso, o ator, de 24 anos, viu “uma quantidade de vídeos dele… o que foi bastante sofrido”, brincou.

“A gente vê Trump em todos os lugares, então, todo o mundo tem uma ideia da maneira de imitá-lo, mas é preciso ir além disso”, explica o ator, que tentou mergulhar na “maneira de pensar” do empresário nova-iorquino.

“Foi tão complicado quanto uma análise dos textos de Shakespeare”, comentou.

O espetáculo se inspira no burlesco, um gênero de teatro que satiriza personagens da alta sociedade, conta Polly Bycroft-Brown, que faz “Rod”, um dos milionésimos porta-vozes do presidente americano.

Um humor grotesco que se encontra no personagem do líder norte-coreano, Kim Jong-un, cuja histeria faz os espectadores tanto rirem, quanto rangerem os dentes.

“É menos ser contra Trump e mais permitir ao público ter um bom momento”, ressaltou Laurence Peacock.

A peça fica em cartaz em Londres até 25 de fevereiro e, depois, segue em turnê pela Inglaterra.