O que se espera até 5 de novembro de 2024, data da eleição presidencial nos EUA, é um duríssimo duelo entre pré-candidatos republicanos. Donald Trump, ex- mandatário do país, e Ron DeSantis, atual governador da Flórida, defendem armas à população e preconceitos de todos os calibres, com mensagens de ódio e terror emergindo já nos debates internos. E assim será até a convenção que elegerá o “xerife” do partido para duelar contra o “bandido” democrata. Nesse faroeste encenado pela extrema-direita americana, Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, corre por fora: mulher e descendente de indianos, ela se vê acuada pela misoginia e repulsa explícita a imigrantes, péssimos princípios dos quais é vítima em sua própria legenda. Outros pré-candidatos menos cotados ainda devem se apresentar, como o ex-vice-presidente Mike Pence, o senador Tim Scott e o ex- chefe da diplomacia Mike Pompeo.

Trump tenta ressuscitar
WIN MCNAMEE

Um ninho lotado de candidatos a candidato pode favorecer Trump, que incentiva a pré-candidata Nikki. Ela, com 51 anos, já pediu “teste de aptidão mental para políticos com mais de 75 anos” (Trump tem 76). O ex-presidente rebateu na piada, dizendo que “cada vez que ela me critica, me ‘descritica’ quinze minutos depois”. Sobre a ameaça de prisão, pela denúncia de pagamento de US$ 130 mil a uma atriz pornô, Trump vale-se do mesmo deboche mostrado em relação às investigações de seu envolvimento na invasão do Capitólio ou no surrupio de documentos secretos do governo dos EUA, levados para sua mansão debaixo do braço.

Trump tenta ressuscitar
ADVERSÁRIO Ron DeSantis, governador da Flórida: segundo pesquisas, ele derrota o atual presidente, o democrata Joe Biden (Crédito:CHENEY ORR)

Mas é Ron DeSantis, 44 anos, a “estrela que sobe” no Partido Republicano. Ainda mais radical que Trump, ele encarna o pacote completo da extrema-direita: aboliu políticas de inclusão social em escolas públicas, foi contra vacinação na pandemia e já “roubou” o marketeiro Matt Wolking da campanha vitoriosa de Trump em 2016. Às insinuações do ex-presidente de que DeSantis se comportava de maneira “inadequada” com alunas quando professor do ensino médio, o governador da Flórida se esquiva ao dizer que passa seu tempo “entregando resultados para o povo, lutando contra Joe Biden e não difamando outros republicanos”.

Nikki Haley se diz “da nova geração”, veste jeans e botas para distribuir donuts no corpo a corpo e se senta em bares com motoqueiros. Afirma que “olha para frente”, em busca de mais empregos, e se mostra radical contra China e Rússia, por exemplo. Mas afirma que “não venceremos a luta pelo século 21 se continuarmos confiando nos políticos do século 20”.

Fenômeno extremista

Para Lucas Leite, professor de Relações Internacionais da FAAP e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os EUA, Trump e DeSantis disputam votos e grupos de eleitores muito parecidos. A viabilidade de Nikki Haley, para ele, liga-se ao fato de como ela se construirá na campanha. “Ser mulher pode se tornar um diferencial nesse momento de potencialização de questões identitárias, mas dependerá de conseguir afastar o eleitorado feminino desses candidatos que dividiriam votos com ela”, explica o professor. “O fenômeno do trumpismo, assim como o do bolsonarismo, ainda tem grande dependência dos seus ícones, que personificam e dão cara ao discurso e à ideologia da extrema-direita populista. Mas eles não têm controle sobre seguidores e possíveis herdeiros, que tentam ocupar esse lugar de ‘mais atualizados’.”

Site americano voltado a pesquisas, o FiveThirtyEight apontou nesse fim de março que Joe Biden só venceria a eleição presidencial se Nikki Haley fosse sua adversária (42% a 40% das preferências), perdendo para DeSantis (41% a 44%) e para Trump (41% a 45%). Ainda assim, o professor Leite observa que Joe Biden tem a máquina pública, o que facilita contato e exposição com eleitores. “O cenário pode mudar, mas ele é o candidato natural dos democratas. Ao contrário dos republicanos, que ainda terão os pré- candidatos se debatendo pela vaga.”

O Partido Republicano entendeu que é mais competitivo com temas como “ser americano” e “combate” ao que considera “comunismo”, como observa o professor. “Existem alas de ‘moderados’ ou ‘tradicionais’ que tentam superar divergências partidárias, mas que não estão tendo sucesso. E a cooptação do eleitorado republicano pelos radicais não parece um fenômeno efêmero. Suas lideranças preferem pagar para ver, sem abrir espaço para alternativas tradicionais do debate político”.