O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (19) que será “lamentável” se a mulher que acusa de agressão sexual seu indicado à Suprema Corte, o juiz conservador Brett Kavanaugh, não testemunhar no Congresso.

“Eu realmente quero ver o que ela tem a dizer”, afirmou Trump.

“Se ela não aparecer, isso será lamentável”, acrescentou o presidente, referindo-se a Christine Blasey Ford.

Essa professora universitária de Psicologia, de 51 anos, relatou ter sido agredida sexualmente por Kavanaugh e por um de seus amigos, que estavam embriagados, em uma festa no subúrbio de Washington, no começo da década de 1980.

O Comitê Judiciário do Senado, onde acontecem as audiências, convidou tanto Kavanaugh quanto Christine a testemunharem publicamente, na próxima segunda, sobre o episódio.

Ford solicitou, porém, uma investigação do FBI sobre suas acusações de agressão sexual contra Kavanaugh antes de testemunhar perante os senadores. Os republicanos criticam a demora nesse processo.

Trump, que já disse que para ele não é necessária uma investigação do FBI, sugeriu “deixar que o Senado” administre esse assunto.

“Já levaram muito tempo nesse processo e continuam levando”, reclamou.

“Se aparecer e fizer uma apresentação crível, será muito interessante, e tomaremos uma decisão”, disse Trump para, em seguida, reiterar sua confiança em seu candidato.

“A única coisa que posso dizer é que ele é um homem extraordinário. É muito difícil para mim imaginar que aconteceu alguma coisa”, declarou Trump, destacando que essa situação foi uma “prova de fogo” para o juiz Kavanaugh e sua família.

– ‘Ameaças de morte’ –

O que está em jogo em Washington não é pouca coisa. Trata-se da nomeação de um juiz conservador, em caráter vitalício, algo que, durante anos, poderá deixar em minoria os juízes progressistas, ou moderados, da Suprema Corte, uma Casa que decide sobre temas-chave da sociedade americana.

Christine acusa Kavanaugh de agressão sexual em uma festa no subúrbio de Washington há 36 anos, acusação que ele nega categoricamente.

Em uma carta divulgada na terça-feira à noite, os advogados de Ford pediram ao Comitê Judiciário do Senado que o FBI investigasse as acusações.

“Uma investigação completa por parte dos funcionários encarregados de fazer cumprir a lei garantirá que os fatos e testemunhas cruciais neste assunto sejam avaliados de maneira não partidária, e que a comissão esteja completamente informada antes de realizar qualquer audiência, ou de tomar qualquer decisão”, afirmaram.

Segundo os advogados da acadêmica, Christine Ford foi alvo de “perseguições vis e até de ameaças de morte” desde que seu nome se tornou público, no domingo.

“Sua família se viu obrigada a abandonar sua casa e sua conta de e-mail foi invadida”, acrescentaram os advogados, na carta difundida ontem.

Em sua resposta escrita, o senador republicano Chuck Grassley, chefe da comissão judicial do Senado, descartou qualquer adiamento da audiência.

Confirmando sua disposição a dar a Ford a oportunidade de contar sua história diante do Senado “e, se ela quiser, diante do povo americano”, Grassley também indicou que a segunda-feira – dia oferecido para essa apresentação, e o dia em que Kavanaugh também deve expor – não era negociável.

Muitos sinais indicam que sem o depoimento de Ford na segunda-feira, a confirmação do juiz Kavanaugh poderia ocorrer rapidamente.

Susan Collins, uma das poucas vozes consideradas moderadas no lado republicano (que tem uma estreita maioria no Senado), disse que estava “surpresa” com a recusa da professora a se apresentar, com a esperança de que mudasse de parecer rapidamente.

Trump, que costuma minimizar as acusações sobre seu próprio comportamento sexual inadequado, disse ontem, na Casa Branca, que Kavanaugh tem uma trajetória “impecável em todos os sentidos” e que progrediu “maravilhosamente” em sua carreira.