Barack Obama deve receber nesta quinta-feira na Casa Branca seu sucessor, Donald Trump, cuja eleição levou milhares de pessoas a protestar em várias cidades dos Estados Unidos e continua provocando uma onda de choque no mundo.

A cena parecia inimaginável há 48 horas. Mas o encontro entre os dois homens no Salão Oval deve acontecer às 11H00 (14H00 de Brasília). Após a reunião, eles falarão com a imprensa brevemente.

Michelle Obama também deverá se encontrar de maneira muito discreta e reservada com a próxima primeira-dama, Melania Trump.

“Eu o convidei a vir à Casa Branca para discutir como assegurar uma transição bem-sucedida”, explicou na quarta-feira Obama, que assumiu um tom conciliador após a vitória do bilionário populista que surpreendeu os Estados Unidos e todo o resto do mundo.

“Antes de tudo, somos americanos. Antes de tudo, somos patriotas. Todos queremos o melhor para este país”, explicou Obama, que deixará o poder em 20 de janeiro.

Sob o choque, de Nova York a Los Angeles, passando por Chicago, Filadélfia, Portland (Oregon), Seattle e outras grandes cidades, milhares de manifestantes saíram às ruas para denunciar as posições racistas, sexistas e xenófobas de Donald Trump.

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Os manifestantes gritavam “Love trumps hate” (O amor supera o ódio) ou “Trump Grabbed America by the Pussy!” (Trump pegou a América pela vagina!).

Em Los Angeles, milhares de californianos invadiram uma importante avenida e queimaram uma imagem do presidente eleito em frente à prefeitura. A imprensa relatou várias detenções.

Em Nova York, a polícia prendeu 15 pessoas, segundo o New York Times. Centenas de manifestantes com cartazes que diziam “Dump Trump” (Descartar Trump) se reuniram em Union Square e depois marcharam em direção à Trump Tower, residência do presidente eleito na Quinta Avenida.

As manifestações foram pacíficas, embora tenham sido registrados incidentes em Oakland, Califórnia. Garrafas e fogos de artifício foram lançados contra a polícia, ferindo vários agentes. De acordo com uma autoridade, duas viaturas foram incendiadas.

Algumas horas antes, Barack Obama havia lançado uma mensagem de conciliação.

“Desejamos a ele sucesso para unir e dirigir os americanos”, declarou, sem esconder as “divergências muito significativas” com o ex-apresentador de TV.

Bolsas voltam a subir

A eleição de Donald Trump, impulsionada pela ira de um eleitorado que se sente ignorado pelas elites e ameaçado pela globalização, acabou com os sonhos da democrata Hillary Clinton de se tornar a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Todas as pesquisas apontavam a democrata como vencedora.

Mas a vitória de Trump também ameaça as conquistas de Obama, extremamente popular.

O presidente eleito prometeu acabar com a maioria das reformas ou avanços emblemáticos do 44º presidente: a reforma do seguro de saúde (Obamacare), a luta contra as mudanças climáticas (Trump prometeu “anular” o acordo de Paris concluído no final de 2015), o acordo de livre comércio Ásia-Pacífico, etc.

A inimizade dos dois tem raízes às vezes mais pessoais do que políticas: há anos, Donald Trump tem alimentado uma teoria da conspiração com conotações racistas sobre o local de nascimento de Obama, antes de voltar atrás durante a campanha, sem explicação.


Donald Trump nunca ocupou cargo eletivo. Ele terá que trabalhar duas vezes mais antes de tomar posse em janeiro.

Na quarta-feira, ele permaneceu na Trump Tower em Manhattan. O vice-presidente eleito, Mike Pence, e vários membros de sua equipe de campanha se juntaram a ele para começar a preparar seu governo.

Aos 70 anos, Trump será o mais velho presidente a assumir a presidência americana.

Visivelmente emocionada, Hillary Clinton também cumprimentou Trump por sua vitória nas eleições de terça-feira e revelou ter se colocado à disposição do futuro presidente para trabalhar “em benefício do nosso país”.

A candidata derrotada também expressou sua “esperança de que ele será um presidente bem sucedido para todos os americanos”.

Amargo consolo para a democrata: ela perdeu a eleição, cujo resultado é contabilizado estado por estado, mas em nível nacional obteve cerca de 230.000 votos a mais do que o seu adversário, segundo resultados provisórios divulgados nesta quinta-feira pelo New York Times.

Trump irá governar com o apoio de ambas as Casas do Congresso. O Senado e a Câmara dos Representantes mantiveram sua maioria republicana.

Na terça-feira, ele prometeu “ser o presidente de todos os americanos”.

Sua eleição foi recebida com preocupação e muitas vezes frieza no mundo. A chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu Donald Trump que um futuro de “estreita cooperação” entre os dois países deve ser baseado em valores comuns democráticos.

Após o pânico da véspera, os mercados parecem ter se recuperado nesta quinta-feira na Ásia, depois na Europa, assegurados pela resistência das praças ocidentais.

A agência de classificação SP Global Ratings confirmou nesta quinta a nota “AA+” acordada à dívida dos Estados Unidos, argumentando que as instituições do país eram fortes o suficiente para compensar a “falta de experiência” e “incerteza” sobre o 45º presidente americano.


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