A Estátua da Liberdade, em Nova York, representou, por mais de um século, um símbolo de esperança para os imigrantes pobres e cansados que chegavam aos Estados Unidos. Mas, com o presidente Donald Trump, a recepção já não é mais a mesma.

Diferentemente de qualquer líder americano em décadas, Trump atacou a imigração, reduziu as chegadas legais, pediu a expulsão de milhões de pessoas que não são cidadãs, e convida apenas estrangeiros ricos e educados, com uma clara preferência por europeus brancos.

Trata-se de uma mudança brusca para um país que se define como aberto a um “caldeirão” cultural.

– Imigrantes foram ‘ameaça’ –

Segundo especialistas, a história dos Estados Unidos é salpicada de reações negativas à imigração e ambivalências constantes dos americanos sobre se desejam continuar sendo um país de imigrantes.

“Quando se observa toda a história dos Estados Unidos, um dos aspectos mais surpreendentes é o modo como o debate sobre a imigração se radicalizou”, diz Julie Greene, professora de História na Universidade de Maryland.

Em 1970, a Ata de Naturalização buscava evitar que os negros se tornassem cidadãos; outra ata, de 1798, focou-se nos franceses; na de 1875, proibiu-se que os imigrantes asiáticos trabalhassem; em 1924, uma nova ata migratória mirou nos europeus do sul e do leste, que abrange principalmente católicos e judeus.

“Ao longo do século XIX, houve um grande sentimento anti-imigração. Em diferentes pontos da história americana, diferentes tipos de imigrantes foram considerados uma ameaça aos Estados Unidos”, diz Allan Lichtman, historiador político e professor na American University.

– Onda provoca reação –

Antes de Trump, Warren Harding fez uma campanha presidencial bem-sucedida em 1920 colocando em destaque o sentimento contra os imigrantes.

Harding chegou ao poder depois de 40 anos de um boom em que 22 milhões de imigrantes chegaram ao país, e quando os americanos estavam preocupados com a última onda de europeus do sul e do leste da Europa, porque acreditavam que eles poderiam introduzir “raças inferiores” no país e expandir os bolcheviques.

“Como Trump, ele se apresentava como presidente de um ‘Estados Unidos em primeiro'”, explica Lichtman.

Durante a Depressão da década de 1930, houve uma reação contra o fluxo de mexicanos, que aumentou com uma lei de 1924. Depois da Segunda Guerra, veio outro movimento, para frear a chegada de refugiados.

O sistema de cotas que favorecia os imigrantes do norte da Europa foi eliminado em 1965. Autoridades procuraram estimular a chegada de pessoas com habilidades e estudo, bem como a reunificação familiar, que Trump etiquetou como “migração em cadeia”.

Como resultado, a imigração legal alcança 1 milhão de pessoas por ano, entre elas uma grande porcentagem de asiáticos, enquanto a imigração ilegal procedente do México dispara.

Em 1986, o presidente Ronald Reagan oferece anistia a 3,2 milhões de imigrantes ilegais, o que não deteve os cruzamentos ilegais da fronteira.

Por quatro anos, o presidente George HW Bush favoreceu a chegada de asiáticos com o sistema de loteria do Green Card, o que tinha como objetivo diversificar as regiões de onde os imigrantes procediam.

– Convulsão política e terrorismo –

Por volta dos anos 2000, o sentimento contra os imigrantes retornou, por múltiplas razões.

Uma delas foram os atentados do 11 de Setembro e ataques posteriores, que provocaram medo dos muçulmanos, cuja chegada ao país derivou do sistema de loteria.

Outro fator foi a mudança na estrutura econômica, que afetou comunidades de todo o país.

Um terceiro fator foi a mudança demográfica, que deixou os brancos em minoria em um número crescente de comunidades do país.

Com quase 12 milhões de imigrantes ilegais, a maioria mexicanos e da América Central, os presidentes George W. Bush e Barack Obama tentaram conter o fluxo e facilitar a legalização de vários deles.

Mas ninguém, segundo os historiadores, fez da imigração um assunto político como Trump fez para conquistar a presidência em 2016.

“De forma muito cuidadosa entre os presidentes modernos, Trump tentou explorar isso com fins políticos”, diz Lichtman. “Existe um forte sentimento minoritário anti-imigrantes do qual Trump se aproveitou. Não é o sentimento da maioria.”