Um dia depois de sua vitória contundente em Iowa, Donald Trump compareceu, nesta terça-feira (16), ao tribunal de Nova York, onde começou a ser julgado por difamação em um processo movido por uma escritora que já ganhou outra ação contra ele por agressão sexual no ano passado.

O ex-presidente republicano, que busca retornar à Casa Branca nas eleições de novembro, anunciou na quinta-feira passada a intenção de comparecer ao tribunal para se defender das acusações de E. Jean Carroll, de 80 anos, ex-colunista da revista Elle, que reivindica 10 milhões de dólares (48,7 milhões de reais, na cotação atual) por danos à sua reputação profissional.

Segunda a imprensa judiciária presente na sala, os dois protagonistas não trocaram olhares durante as primeiras horas da audiência dedicada à seleção dos nove membros do júri deste julgamento, que deve durar vários dias.

Antes do início das alegações de acusação e defesa, Trump deixou o tribunal por volta das 15h locais (17h em Brasília), seguido de um comboio de carros. Ao final da tarde, Trump participaria de um comício no estado de New Hampshire, no nordeste, onde acontecerá a segunda votação das primárias republicanas em 23 de janeiro.

Na semana passada, em um tribunal próximo, outro julgamento foi concluído contra o magnata e dois de seus filhos por fraude fiscal.

Este novo julgamento centra-se nas declarações que o republicano de 77 anos fez em junho de 2019, depois de Carroll ter mencionado acusações de agressão sexual em um artigo de revista e em um livro.

Na época, o então presidente disse que Carroll “não fazia o seu tipo” e que ela inventou toda essa história para “vender seu novo livro”.

Apesar de Trump ter permanecido calado na audiência presidida pelo juiz Lewis Kaplan, em sua rede social Truth Social ele atacou a denunciante: “Vocês acreditam que eu tenho que me defender contra a história falsa de esta mulher?”, ao publicar trechos de uma antiga entrevista de Carroll à CNN.

“Nunca vi essa mulher na minha vida […] Não faço ideia de quem ela é”, repetiu na semana passada sobre a escritora, a quem chamou de “mentirosa” e “idiota” depois de ter sido condenado a pagar, em outro julgamento em maio do ano passado, mais de 2 milhões de dólares (10,1 milhões de reais na cotação da época) em indenização por uma agressão sexual ocorrida em 1996 e quase 3 milhões de dólares também por outro caso de difamação em outubro de 2022 (16 milhões de reais na cotação da época). Trump recorreu da decisão.

O republicano, favorito à indicação de seu partido para as eleições presidenciais de 4 de novembro, descreveu as diferentes batalhas judiciais que enfrenta como uma “caça às bruxas” para impedir suas aspirações presidenciais.

Trump tem pelo menos seis datas de audiências civis e criminais pendentes, mas que, por ora, não parecem prejudicar sua carreira política, muito pelo contrário.

Este julgamento por difamação pode trazer mais uma vez à tona a questão do comportamento de Trump com as mulheres, já que ele foi acusado de agressão sexual em diversas ocasiões, embora nunca tenha sido condenado criminalmente.

– ‘Circo’ –

Em uma demonstração das tensões em torno do novo julgamento, o juiz solicitou que a identidade dos membros do júri fosse mantida em segredo.

Em uma tentativa de evitar que a audiência se transforme em um comício político, o juiz delimitou seu alcance aos “danos causados à senhora Carroll pelas declarações” que considera “difamatórias”, “falsas” e “maliciosas”.

A advogada de Carroll, Roberta Kaplan, escreveu ao juiz na última sexta-feira para alertá-lo sobre o risco de a presença do republicano gerar um “caos” e transformar a audiência em um “circo”.

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