A atitude do presidente americano, Donald Trump, de não reconhecer sua derrota para Joe Biden é um golpe de Estado em andamento ou trata-se de um mero espetáculo? Nesta era de ouro das teorias da conspiração, não há consenso.

Trump exerce o direito de se queixar de que a contagem de votos que mostra seu adversário democrata Joe Biden vitorioso por uma estreita margem contém erros.

Os resultados de muitas eleições americanas foram apertadas, como os de 3 de novembro, mas nenhum presidente que perdeu denunciou que a eleição foi roubada ou se negou a conceder a vitória ao seu adversário.

Mais de uma semana depois das eleições, cujos resultados primários foram conhecidos no sábado, o presidente não aportou evidências da fraude que denuncia.

Para alguns, Trump está se mostrando um líder autoritário.

O presidente já expressou abertamente sua admiração por líderes como o contraparte russo, Vladimir Putin, que cultivam um estilo de confronto com as instituições de seus países.

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Agora, os críticos de Trump afirmam que ele está seguindo estes passos. Mas também há a probabilidade de que sua estratégia seja mais uma técnica de comunicação de seu lado apresentador de televisão.

Até agora, suas tentativas nos tribunais não prosperaram e seu advogado, Rudy Giuliani, tampouco aportou dados além de dizer que os democratas “se comportaram de uma forma que sugere uma fraude”.

– A teoria de um golpe de Estado –

No processo, o presidente demitiu o chefe do Pentágono na segunda-feira, uma personalidade considerada relativamente independente, e depois prosseguiu com o expurgo de outros altos funcionários, o que provocou a indignação de seus críticos.

“Nas últimas 24 horas, o secretário da Defesa, o vice-secretário da Defesa para a Política e o vice-secretário da Defesa de Inteligência foram demitidos (…) Por que?”, questionou no Twitter Alexander Vindman, um oficial da reserva que trabalhou na Casa Branca até ser demitido depois de depor contra Trump em seu julgamento político no Congresso.

Um ponto-chave foi quando o chefe do Departamento da Justiça, Bill Barr, autorizou os procuradores federais a abrir investigações sobre irregularidades nas eleições.

Na ocasião, o chefe da divisão de crimes eleitorais do Departamento de Justiça renunciou em sinal de protesto.

Alguns dos que consideram cenários mais extremos advertem que se poderia, inclusive, produzir um golpe dentro do Colégio Eleitoral.

Para que isto se materializasse, os legisladores estaduais republicanos teriam que combinar uma estratégia para enviar eleitores que ignorassem os votos dos cidadãos e se voltassem para Trump.

Uma confabulação de circunstâncias deste tipo é aventada por muitos veículos de comunicação, mas parece uma possibilidade distante na vida real.

“Para começar, inclusive falar de algo assim provocaria grande agitação e colocaria os legisladores sob uma pressão sem precedentes”, escreveu Richard Hasen, professor de direito da Universidade da Califórnia.


Mas, depois de uma campanha anormal e de um resultado demorado, os nervos estão à flor da pele.

Os comentários do chefe da diplomacia, Mike Pompeo, de que o governo se prepara para um “segundo mandato de Trump” não ajudaram a acalmar os ânimos.

– Um espetáculo para sua futura carreira –

Mas também existe a possibilidade de que Trump esteja montando um show para se manter sob os holofotes.

Apesar de não ter vencido, ele obteve 72 milhões de votos, manteve sua leal base consigo e, segundo uma consulta Politico/Morning Consult, 70% dos republicanos acreditam que as eleições não foram nem livres, nem justas.

Trump também pode ter objetivos pessoais: suas finanças e seu futuro profissional.

O enérgico político de 74 anos tem agora uma gigantesca base de eleitores e opções para além de construir uma biblioteca presidencial, como fizeram seus antecessores.

Uma pista de seu caminho é seu apetite pelos negócios.

Seguindo ou não uma carreira política, especula-se que volte à televisão, talvez com a missão de punir a emissora Fox News, à qual criticou pelo que considerou uma falta de lealdade.

A Fox “esqueceu o que os fez bem sucedidos, o que os levou aonde estão. Se esqueceram da galinha dos ovos de ouro”, manifestou-se na quinta-feira em uma série de tuítes, atacando o dono da emissora, Rupert Murdoch, e atiçando uma teoria da conspiração, criada pelas redes de extrema direita Newsmax e OANN.

Então, o caos pós-eleitoral articulado por Trump poderia ser o episódio piloto de seu próximo ‘reality show’?


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