O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu às autoridades mexicanas nesta terça-feira (5) que iniciem uma “guerra aos cartéis de drogas”, depois do ataque a uma comunidade mórmon americana no norte do México que matou três mulheres e seis crianças, todas da mesma família.

“Se o México precisar ou pedir ajuda para se livrar desses monstros, os Estados Unidos estão prontos, dispostos e capazes de se envolver para fazer o trabalho de maneira limpa e eficaz”, afirmou Trump no Twitter.

“É a hora do México, com a ajuda dos Estados Unidos, iniciar a guerra contra os cartéis de drogas e apagá-los da face da Terra. Estamos aguardando a chamada do novo presidente”, acrescentou Trump.

Já o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, confirmou no Twitter que falou por telefone com Trump para expressar os pêsames aos parentes da família LeBarón nos Estados Unidos.

“Enviei meus mais profundos pêsames aos familiares e amigos dos que foram assassinados nos limites de Chihuahua e Sonora. Agradeci sua disposição de nos apoiar e informei que as instituições do Governo do México estão agindo para fazer justiça”, escreveu o presidente.

Em sua entrevista coletiva matinal diária, o presidente mexicano descartou que o governo tente uma guerra com os grupos criminosos.

O ministro da Segurança, Alfonso Durazo, confirmou que a agressão deixou ainda seis crianças feridas e uma menor desaparecida.

Ele apontou que, por decisão da família LeBarón, três adultos e cincos dos menores feridos foram transferidos de Sonora para a cidade americana de Phoenix, Arizona, apoiados pelas forças armadas mexicanas.

As nove pessoas de uma comunidade mórmon americana instalada no norte do México há mais de um século foram assassinadas na segunda-feira por um grupo de homens armados.

De acordo com Durazo, o ataque à família LeBarón, acontecido no Rancho de la Mora, pode ser o resultado de “uma confusão” de grupos criminosos que se disputam o controle da região.

Nessa região opera um subgrupo do cartel de Sinaloa, chamado Los Jaguares, que disputa a área com uma divisão da mesma célula que seria apoiada pelo poderoso cartel Jalisco Nueva Generación ou La Línea, afirmou nesta terça-feira o promotor de Chihuahua, César Augusto Peniche.

As mulheres viajaram cada uma em uma van com as crianças.

“Como três civis estavam viajando em uma espécie de comboio, eles provavelmente foram confundidos com um grupo rival”, acrescentou o promotor.

– Zona de guerra –

Após a chacina, Julián Lebarón, líder mórmon e ativista, denunciou que criminosos que agem na região de Rancho de la Mora, na divisa entre os estados de Sonora e Chihuahua, na fronteira com os Estados Unidos, foram os autores da morte de sua prima e da família dela.

“Minha prima Rhonita seguia com seu marido para o aeroporto de Phoenix (EUA) quando foi emboscada. Atiraram e queimaram sua caminhonete com ela e seus quatro filhos (…). Foi um massacre”, disse Lebarón à Rádio Fórmula.

O ativista revelou que seus familiares encontraram a caminhonete calcinada e com os corpos da mulher e das quatro crianças dentro.

Os criminosos sequestraram duas caminhonetes dirigidas por mulheres que transportavam oito ou nove menores de idade, segundo Lebarón.

Algumas horas depois, os dois veículos foram localizados com as duas mulheres que os conduziam mortas a tiros, assim como dois menores de idade, um menino e uma menina, também falecidos.

Entre cinco e seis crianças conseguiram caminhar até sua casa, uma delas com um ferimento de bala.

Durante a noite, a comunidade mórmon, policiais e militares procuravam outra menor de idade que teria se escondido em um bosque.

Perguntado sobre quem poderia ter cometido o crime, Lebarón disse que “aqui é uma zona de guerra”, onde agem os cartéis das drogas e todo tipo de “matador”.

Segundo a imprensa mexicana, a maioria dos desaparecidos tem dupla nacionalidade, mexicana e americana.

Lebarón faz parte de uma comunidade de mórmons que se transferiu para o México no final do século XIX, em meio à perseguição nos Estados Unidos por suas tradições, em especial a poligamia.

Com o aumento da violência ligada ao narcotráfico, estas comunidades se viram afetadas. Benjamín Lebarón, irmão de Julián, tornou-se um ativista, ao criar a organização SOS Chihuahua, que denunciava grupos criminosos.

Benjamín foi assassinado por homens armados junto com seu cunhado em julho de 2009, após liderar manifestações contra o sequestro de seu irmão de 16 anos.

Os mórmons se negaram a pagar o resgate, e o jovem Lebarón foi enfim libertado.

Em meio à violência ligada ao narcotráfico, mais de 250 mil pessoas morreram no México desde dezembro de 2006, quando o governo lançou uma polêmica operação antidrogas. Deste total, os dados oficiais não especificam quantos casos estariam relacionados à criminalidade.