Donald Trump orquestrou um “esquema criminoso” para influenciar a eleição de 2016, disseram promotores de Manhattan nesta segunda-feira (22) no julgamento do ex-presidente dos EUA, que ocorre paralelamente à sua tentativa de voltar a ocupar a Casa Branca depois das eleições de 5 de novembro.

“Este caso é sobre uma conspiração criminosa e um encobrimento”, disse o promotor Matthew Colangelo na argumentação oral do caso.

“Ele orquestrou um esquema criminoso para influenciar a eleição presidencial de 2016”, argumentou, antes de acrescentar que o magnata “mentiu” nos livros contábeis “repetidas vezes” para ocultar o fato.

O magnata de 77 anos é acusado de 34 crimes de fraude para encobrir o pagamento de US$ 130 mil (quase R$ 680 mil na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels com o objetivo de ocultar um suposto caso extraconjugal ocorrido uma década antes, na reta final da campanha de 2016 que surpreendentemente o levou à Casa Branca.

Ao final de um julgamento de seis semanas, os doze membros do júri (apoiados por seis suplentes), cujos nomes foram ocultados por motivos de segurança, terão que dar um veredicto unânime que selará o futuro do político, possivelmente o mais controverso da história moderna do país.

“Lembrem-se, vocês prometeram ser justos”, advertiu o juiz Juan Merchan no início do julgamento.

A sessão, que aconteceria apenas durante a manhã devido à Páscoa judaica, terminará às 12h30 locais devido à consulta de um dos jurados com o dentista.

Isto é uma “interferência eleitoral”, disse o empresário republicano ao chegar tribunal de Manhattan. “É um dia triste para os Estados Unidos”, acrescentou.

Se for declarado culpado, Trump poderá ser condenado a até quatro anos de prisão e até mesmo ser privado do seu direito de voto.

Caso vença as eleições de novembro contra o atual presidente, o democrata Joe Biden, também poderá se tornar o primeiro mandatário a governar da prisão.

– “Julgamento extraordinário” –

“Será provavelmente o julgamento mais extraordinário da história do país. Os riscos são quase infinitos em termos de quais poderiam ser as consequências” para o magnata, disse à AFP o ex-procurador e atual professor de Direito da Pace University, em Nova York, Bennett Gershman.

A Promotoria tentará demonstrar que Trump orquestrou ou pelo menos autorizou que o seu então advogado pessoal Michael Cohen tirasse do próprio bolso a quantia para pagar Stormy Daniels, que mais tarde lhe foi devolvida em prestações disfarçadas de despesas legais.

A acusação também inclui acordos semelhantes ao de Daniels para encobrir outros potenciais escândalos, como o de uma ex-modelo da revista Playboy e de um porteiro que afirmou que o bilionário teve um filho fora do casamento.

– “Testemunhos prejudiciais” –

“Este caso é sobre o Estado de Direito e se Donald Trump o violou”, disse um dos promotores, Joshua Steinglass, durante a seleção do júri na semana passada.

Segundo seu chefe, o promotor da Suprema Corte de Manhattan, Alvin Bragg, que assumiu o caso de seu antecessor e após muitas hesitações acusou o magnata, trata-se de um caso de interferência eleitoral.

Para apoiar esta teoria, além de Cohen, a acusação vai convocar outros ex-colaboradores de Trump, e agora adversários, para testemunhar.

O primeiro a depor será David Pecker, ex-presidente da editora do tabloide National Enquirer, que pagou para ocultar histórias que poderiam afetar o magnata durante sua campanha eleitoral.

“Todos os dias ouviremos testemunhos que poderão prejudicar Donald Trump”, prevê Gershman.

O bilionário republicano, que se considera vítima de uma “caça às bruxas” e classifica o julgamento como uma “farsa”, tem manifestado sua insatisfação por ter que comparecer todos os dias ao tribunal de Manhattan, enquanto Biden tem feito campanha nas ruas.

Trump, que durante sua presidência sobreviveu a duas tentativas de impeachment, também enfrenta outros três processos criminais, dois deles por acusações muito mais graves, como a tentativa de anular a derrota eleitoral de 2020 e pelo manejo de documentos secretos após deixar a presidência, que foram tão adiados que é pouco provável que aconteçam antes das eleições de novembro.

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