Sob a ameaça de um processo de impeachment, Donald Trump voltou a elevar o tom de sua habitual metralhadora verbal, visivelmente sem limites.

No meio de uma saraivada de tuítes particularmente agressivos, o 45º presidente dos Estados Unidos chegou a sugerir, na segunda-feira, “prender” o representante democrata Adam Schiff por “traição”.

Ele é responsável pela investigação do Congresso concentrada nas pressões de Trump sobre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que descobrisse informações comprometedoras sobre Joe Biden, seu possível adversário na eleição de 2020.

“Adam Schiff deu, ilegalmente, uma declaração FALSA e terrível, sobre minha conversa com o presidente ucraniano (…) Isso não tem nada a ver com o que eu disse. Ele deveria ser preso por traição?”, lançou Trump.

Já os presidentes das comissões da Câmara de Representantes que estão conduzindo o processo de impeachment convocaram o advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, para entregar “documentos importantes”.

“De acordo com a investigação de impeachment na Câmara, estamos transmitindo uma intimação que o obriga a apresentar os documentos citados em 15 de outubro de 2019”, informou Adam Schiff.

Há quase uma semana, os democratas abriram uma investigação contra o magnata republicano com o objetivo de levar a seu impeachment. Se a Câmara, dominada pela oposição, aprovar a acusação de impeachment, caberá ao Senado, de maioria republicana, julgá-lo.

O presidente Donald Trump garante que seu telefonema com Volodymyr Zelensky não tem nada de repreensível e denuncia uma “caça às bruxas” orquestrada, segundo ele, pelos que não conseguiram derrotá-lo nas urnas.

“Este telefonema foi perfeito”, reafirmou Trump no Salão Oval da Casa Branca, acusando mais uma vez o denunciante a dar informações falsas.

Para complicar a situação, o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, admitiu nesta terça-feira que recebeu um pedido de Trump para ajudar a reunir informações visando desacreditar o caso sobre a suposta ingerência russa nas eleições.

Segundo o jornal The New York Times, Trump telefonou para Morrison e pediu sua ajuda na revisão realizada pelo departamento de Justiça sobre a origem da investigação do procurador-especial Robert Mueller.

Trump solicitou ainda que Morrison tratasse do caso com o procurador-geral dos EUA, Bill Barr.

A investigação original do FBI sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016 foi deflagrada com base em informações de funcionários australianos.

No meio do furacão e consciente do impacto destes últimos acontecimentos para a corrida eleitoral, Trump multiplica seus ataques. A pergunta que ressoa na capital federal é até onde ele está disposto a ir.

No fim de semana, o presidente retuitou as declarações, na Fox News, de um pastor batista do Texas, Robert Jeffress, desde 2016 um de seus defensores mais ferrenhos.

“Se os democratas conseguirem forçar o presidente a deixar seu cargo, isso levará a uma ruptura digna da guerra civil, da qual nosso país nunca mais vai se curar”, disse Jeffress.

Em seu conjunto, os republicanos cerraram fileiras com Trump, mas um de seus correligionários, o representante de Illinois na Câmara, manifestou sua indignação.

“Visitei países assolados pela guerra civil, Donald Trump. Nunca poderia imaginar que uma frase dessas seria repetida por um presidente”, tuitou. “É para além de repugnante”, completou.

O ex-conselheiro de Segurança Interna do governo atual Tom Bossert também criticou as tentativas do presidente e de seus assessores mais próximos de ressuscitarem a teoria de que foi a Ucrânia, e não a Rússia, que pirateou os e-mails do Partido Democrata na campanha de 2016.

“Não só se trata de uma teoria conspiratória, como ela foi completamente desmontada”, criticou, em entrevista à rede ABC.

Na sexta-feira, os representantes democratas pediram ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que envie ao Congresso os documentos necessários à sua investigação. E, agora, é preciso determinar quem exatamente será convocado para testemunhar na Câmara.