Trump imprime marca da ‘virilidade’ no exercício do poder

Acusado de promover a “masculinidade tóxica” durante a campanha, Donald Trump retornou à Casa Branca com um estilo viril no exercício do poder, auxiliado pelo onipresente Elon Musk.

O proprietário da Tesla e SpaceX expressou publicamente a preocupação, na semana passada, com ameaças que, segundo ele, os homens enfrentam com as políticas que promovem as mulheres ou minorias.

Em uma videoconferência, ele sugeriu que um programa baseado em inteligência artificial criado para promover a “diversidade a qualquer custo” poderia até “decidir que há muitos homens no poder e executá-los. Portanto, problema resolvido”.

Musk, que Trump encarregou de uma comissão para cortar gastos da administração pública, publicou uma mensagem na rede X dizendo que “a testosterona é ótima”.

Ao retornar ao poder em 20 de janeiro, o magnata de 78 anos, que cortejou um eleitorado jovem e masculino durante a campanha, ordenou o fim da categoria “transgênero” nos documentos do governo.

Trump, que prometeu “proteger” as mulheres, também emitiu um decreto proibindo a participação de pessoas trans em competições esportivas femininas. Ele se cercou de mulheres e meninas para a assinatura.

“Colocar ênfase em um binarismo de gênero rígido é consequência de um patriarcado nostálgico que quer retornar à uma concepção das relações de gênero de meados do século XX, com homens brancos e heterossexuais no topo de uma pirâmide de identidade hierárquica”, analisou Karrin Anderson, professora de comunicação na Universidade pública do Colorado.

– Mudança de acrônimos –

O governo Trump impôs até mesmo um selo masculino nos acrônimos do governo.

Um sistema de alerta para pilotos conhecido como Notam (Notice to Air Missions; Aviso para missões aéreas, em tradução livre) foi oficialmente alterado para “Notice to Airmen” (Aviso aos aviadores, englobando apenas o gênero masculino).

O novo ministro da Defesa, Peter Hegseth, que foi acusado de agredir sexualmente uma mulher em 2017 e que criticou a presença de mulheres nas forças armadas, publicou uma foto na sexta-feira na qual pratica esportes na neve na Polônia com militares.

O chefe do Pentágono afirma que fez cinco séries de 47 flexões, uma referência à Trump, o 47º presidente dos EUA.

Um dos conselheiros mais influentes da Casa Branca, Stephen Miller, aconselhou jovens, em uma entrevista à Fox News antes da eleição, a mostrar abertamente o apoio ao candidato republicano: “Mostrem que vocês são homens de verdade. Mostrem que não são machos beta”, uma alusão aos “machos alfa”.

Um discurso geralmente repleto de referências religiosas e bíblicas. Trump não hesita em se apresentar como um líder providencial, escolhido por Deus, e o novo secretário de saúde, Robert F. Kennedy Jr., comparou-o na quinta-feira a um “homem em um cavalo branco” galopando para salvar os Estados Unidos.

– “Virilidade saudável” –

“Reviver a virilidade americana é a necessidade mais urgente de nossa nação”, disse Jim Daly, presidente da organização evangélica conservadora Focus on the Family, ao Washington Examiner em janeiro.

Ele considera que Trump, assim como o ex-presidente conservador Ronald Reagan, promove o que ele chamou de “virilidade saudável”.

Com o retrato de Reagan pendurado no Salão Oval, o republicano assinou uma série de decretos que, de acordo com Karrin Anderson, confirmam a abordagem masculina ao poder.

“Ao passar por cima do Congresso e burlando os controles e equilíbrios constitucionais”, diz ele, “Trump demonstra seu poder exercendo uma autoridade masculinizada e autocrática em vez de se envolver em uma tomada de decisão colaborativa e democrática”.

Embora o presidente republicano tenha nomeado um gabinete dominado por homens, incorporou mais mulheres do que durante seu primeiro mandato, algumas em posições estratégicas.

Susie Wiles, a quem o magnata chama de “a dama de gelo” por seu sangue frio, é a primeira mulher a exercer o cargo de chefe de gabinete.

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