Para o anúncio de um cessar-fogo entre Israel e Irã, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recorreu, mais uma vez, às redes sociais, mas sua destreza diplomática não dissipou as incertezas no Oriente Médio.
Israel, Irã e o próprio Trump cantaram vitória após 12 dias de guerra que culminaram com o bombardeio americano a instalações nucleares do Irã no fim de semana.
Parte dos apoiadores do republicano o acusaram de quebrar sua promessa de campanha de não envolver os Estados Unidos em mais guerras, embora, apesar do ataque, o presidente tenha se apresentado como um pacificador.
“Não acredito que o governo israelense fosse capaz de sustentar uma guerra de longo prazo, mas acredito que o fator principal aqui foi o presidente Trump. Ele não queria ver uma nova guerra estourar na região”, declarou Will Todman, pesquisador do programa de Oriente Médio no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
O magnata do setor imobiliário surpreendeu até mesmo seus colaboradores e aliados mais próximos ao anunciar o cessar-fogo nas redes sociais na tarde de segunda-feira, em plena madrugada de terça no Oriente Médio.
Ele o fez logo depois de o Irã disparar mísseis contra uma base norte-americana no Catar, em uma aparente encenação, já que os foguetes foram neutralizados com facilidade.
Trump decidiu não retaliar contra o Irã e, na terça-feira, voltou ao seu púlpito eletrônico para instar Israel a não atacar o Irã.
Teerã precisava de uma saída após sofrer seu pior ataque desde a guerra com o Iraque nos anos 1980.
Trump também aparentou oferecer incentivos ao Irã, sujeito a sanções, ao sugerir que aliviaria a pressão sobre a China para permitir que compre petróleo iraniano.
O Exército de Israel, embora tenha demonstrado ser o mais forte da região, está sob tensão após as campanhas em Gaza, Síria e Líbano, e com os ataques aéreos iranianos que foram os mais prolongados e mortais em décadas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aplaudiu a intervenção de Trump, mas a advertência de terça-feira lhe mostrou os limites do apoio dos Estados Unidos, explicou Todman.
Objetivos cumpridos?
Trump classificou a intervenção americana como um sucesso monumental, mas seus críticos alertam que o ataque pode dar motivos ao Irã para o desenvolvimento clandestino de armas nucleares.
O republicano afirma que o programa nuclear do Irã está destruído. Em contrapartida, um relatório confidencial dos serviços de inteligência, citado pela CNN e pelo New York Times, conclui que os bombardeios americanos bloquearam as entradas de algumas centrais, mas não destruíram as instalações subterrâneas.
Brian Katulis, um pesquisador do Instituto do Oriente Médio, também acredita que é cedo demais para saber se o cessar-fogo será mantido. Na sua opinião, as potências árabes do Golfo, lideradas pelo Catar, apostaram na diplomacia silenciosa para restabelecer a calma na região.
Katulis, que trabalhou no Oriente Médio para o ex-presidente democrata Bill Clinton, acredita que as operações militares táticas da administração Trump, junto com “uma forte dose de comunicação estratégica”, criaram confusão sobre o que se tenta alcançar.
Vitória em casa
Onde Trump obteve benefícios claros, mas no curto prazo, foi em casa.
Uma campanha militar prolongada dos Estados Unidos “tinha o potencial de realmente fraturar a própria base de apoio do presidente Trump”, explica Jonathan Panikoff, especialista do Atlantic Council.
Mas agora “minha suposição é que a maioria de sua base MAGA e outros republicanos permanecerão relativamente unidos”, disse.
Os falcões do Partido Republicano de Trump aplaudiram em grande parte os ataques no Irã, que foram criticados pelos democratas. Annelle Sheline, que renunciou ao Departamento de Estado para protestar contra as políticas do ex-presidente democrata Joe Biden e agora está no Quincy Institute for Responsible Statecraft, considera crucial que Trump faça o cessar-fogo ser cumprido.
Israel bombardeou o Líbano e Gaza durante as tréguas porque Netanyahu acreditava ter o “apoio incondicional dos Estados Unidos”, afirma.
“Trump demonstrou que pode conter Israel quando decide fazer isso. Agora deve fazer o mesmo para insistir em um cessar-fogo em Gaza”, acrescentou Sheline.