O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta terça-feira (16) um decreto de reforma da polícia em resposta a onda de protestos contra o abuso e o racismo que sacode o país, ainda que não inclua itens gerais de mudança solicitados pelos manifestantes.

O decreto, anunciado dos jardins da Casa Branca, inclui a proibição de técnicas de estrangulamento como forma de imobilização, a menos que “a vida de um oficial esteja em perigo”, disse o presidente.

Também “encoraja” as unidades policiais a adotar “os mais altos padrões profissionais”, acrescentou o mandatário republicano.

Ressaltando a vontade de restaurar a “lei e ordem”, ele também enfatizou a necessidade de “aproxima a polícia e a comunidade, e não mantê-los afastados”.

Com este decreto, Trump disse frente a membros do governo, da polícia e de parlamentares republicanos – e com a notável ausência das famílias de vítimas de brutalidade policial – que ele pretende oferecer um “futuro seguro aos americanos de todas as raças, religiões, cores e crenças”.

No entanto, é pouco provável que o decreto satisfaça os milhares de manifestantes que saíram às ruas para denunciar o racismo e a brutalidade policial após a morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos, sufocado por um policial branco que o asfixiou usando o joelho, em Minneapolis, em 25 de maio.

O incidente originou as maiores manifestações por todo o país desde os protestos pelos direitos civis na década de 1960, e levou várias cidades a proibir práticas policiais consideradas controversas, como técnicas de asfixia.

Em Minneapolis, por exemplo, anunciou-se o desmantelamento da polícia para a criação de um novo departamento.

A revolta generalizada causada pela morte de Floyd foi potencializada na noite da última sexta, após a morte de outro homem negro, Rayshard Brooks, depois de ser baleado nas costas por um policial, em Atlanta.

A situação levou a prefeita da cidade a solicitar que a chefe da polícia deixasse o cargo e anunciasse reformas da força policial.

Embora tenha considerado essa morte como “muito perturbadora”, e lamentado a morte de Floyd, Trump evitou o debate sobre o racismo desde o início dos protestos e elogiou o estado de “lei e ordem”.

O republicano, que busca ser reeleito nas eleições de novembro, não quer atrapalhar sua base eleitoral que defende as ações dos uniformizados, mas também não deixa sem resposta o clamor popular por uma reforma radical da polícia.

Logo, o decreto busca promover “boas práticas” vinculando subsídios federais às mudanças dos regulamentos policiais em todo o país.

No entanto, o presidente deixou clara sua “firme oposição” aos esforços “radicais” para desmantelar os serviços policiais, como o anunciado em Minneapolis.

“Os americanos sabem o que é a verdade: sem a polícia, há caos. Sem lei, há anarquia, e sem segurança, é um desastre”, ressaltou Trump.

– Difícil acordo com o Congresso –

A presidente democrata da Câmara de Representantes (baixa), Nancy Pelosi, qualificou o decreto de Trump como “fraco” e acrescentou que suas medidas abordam apenas aspectos “mínimos”.

“Triste e claramente não estão à altura das ações necessárias para combater a epidemia de injustiça racial e violência policial que mata centenas de americanos negros”, disse Pelosi.

“Infelizmente, esse decreto não permite uma mudança completa e significativa das nossas unidades policiais para que assumam responsabilidade que os americanos estão exigindo”, explicou Chuck Schumer, líder da minoria democrática no Senado.

Trump pediu ao Congresso que entre em acordo sobre medidas que iriam além, mas um compromisso entre republicanos e democratas parece distante.

A oposição democrata poderia adotar na próxima semana na Câmara dos Deputados, onde são a maioria, um projeto de lei que incluiria a proibição total das técnicas de asfixia e que acabasse com a ampla imunidade desfrutada pela polícia.

Mas é altamente improvável que a iniciativa seja aprovada no Senado, onde os republicanos são a maioria.

Espera-se que o único senador republicano negro, Tim Scott, apresente um projeto de lei que não inclua a questão da alteração na imunidade policial ou a proibição total das técnicas de asfixia.

Enquanto isso, a indignação cresce à medida que novos casos surgem.

O xerife do condado de Los Angeles, Alex Villanueva, prometeu na última segunda “investigar” a fundo a morte de Robert Fuller, um jovem negro de 24 anos, encontrado pendurado em uma árvore na semana passada, inicialmente considerado um caso de suicídio.

No Novo México, um homem ficou gravemente ferido após ser albo de disparos durante um protesto na segunda, enquanto uma milícia “fortemente armada” pertencente à extrema-direita, segundo autoridades, se mobilizou para responder contra os protestos.