O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (18) que vai revogar a autoridade que a Califórnia tinha até agora para estabelecer seus próprios padrões de poluentes automotivos, uma decisão que desatará uma guerra judicial e se anuncia a poucos dias de uma cúpula climática da ONU.

O presidente fez este anúncio durante a visita de dois dias a este estado da costa do Pacífico, a quinta economia do mundo, e majoritariamente contrário às suas políticas, para cumprir compromissos de sua campanha à reeleição.

“A administração Trump revogará a Isenção Federal da Califórnia sobre emissões para fabricação de carros mais baratos para os consumidores e, ao mesmo tempo, produzir veículos substancialmente mais seguros”, tuitou o presidente.

A Califórnia ganhou em 1970 a atribuição de impor padrões anticontaminantes mais estritos que em nível federal, algo ao qual Trump sempre se opôs e que depois de quase um ano de consultas, lançará um novo regulamento.

“Vão ser produzidos muitos mais carros segundo este novo padrão mais uniforme, o que implica em que haverá significativamente mais EMPREGOS”, destacou o presidente.

A decisão foi tomada menos de dois meses depois de a Califórnia, o estado mais rico e mais populoso do país, traçar um mapa do caminho com quatro fabricantes de carros (Ford, BMW, Volkswagen e Honda) para produzir veículos menos contaminantes em 2026.

Trump criticou o acordo – uma versão mais branda do ambicioso plano aprovado pelo ex-presidente Barack Obama e que visa reduzir as emissões em 3,7% ao ano durante cinco anos – ao mesmo tempo em que o Departamento de Justiça abriu uma investigação.

O presidente americano anulou o plano de seu antecessor e manteve congelados os padrões nos níveis exigidos para 2020.

– “Vingança política”

O governo Trump argumenta que padrões mais rígidos representam custos mais altos para os consumidores, o que deprime o mercado de carros novos e no fim implica em que haja nas ruas carros mais velhos e menos seguros.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que esta visão era “simplesmente incorreta”.

“Suas normas vão custar aos consumidores 400 bilhões de dólares. O resultado: 320 bilhões a mais de galões de combustível queimados e jogados no nosso ar, e prejudica a capacidade dos fabricantes de competir em um mercado global”.

“É ruim para o nosso ar, ruim para a nossa saúde, ruim para nossa economia”, condenou.

Na quarta-feira, quando a imprensa antecipou a medida, o governador, do opositor Partido Democrata, a qualificou como uma “vingança política” de Trump. “A Califórnia nunca vai aguardar permissão de Washington para proteger a saúde e a segurança das crianças e suas famílias”, afirmou.

O procurador-geral Xavier Becerra antecipou que recorrerá à Justiça contra qualquer recurso que questione a política ambiental do estado.

“A evidência é irrefutável: os padrões atuais para carros ecológicos são alcançáveis, se baseiam em ciência e só trazem benefícios para as famílias americanas trabalhadoras e a saúde pública”.

E para Julia Stein, diretora de projetos do Instituto Emmett sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da Universidade UCLA de Los Angeles, este período de longos processos legais gerará incertezas e confusão na indústria.

“A ação do governo chega em um momento em que respeitados cientistas do clima sugeriram que precisamos redobrar e não relaxar nossos esforços” para enfrentar a crise, indicou.

Ex-governador da Califórnia, ator e ativista Arnold Schwarzenegger, disse que “o governo Trump, por alguma razão, está empenhado em reverter décadas de história e progresso”.

“Posso dizer que é errado, é antiamericano e é uma afronta a princípios a princípios conservadores de longa data”, disse Schwazenegger, que também é ativista.

Refere-se a algo que já foi apontado por outros críticos desta iniciativa, que destacam que o governo vai contra o princípio dos direitos dos estados, uma posição defendida pelo Partido Republicano, ao qual Trump pertence.

A decisão se anuncia dias antes do início da primeira cúpula de jovens sobre o clima na ONU, da qual vão participar 700 delegados de Estados Unidos, Europa, América Latina, África e Ásia.

Entre os participantes, destaca-se a adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que iniciou as greves estudantis das sextas-feiras para pressionar líderes políticos a agirem contra as mudanças climáticas e chegou aos Estados Unidos em um veleiro para não contribuir com as emissões de carbono.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou o anúncio de Trump na quarta-feira, dizendo que era favorável a uma abordagem descentralizada para combater as mudanças climáticas.

“Os estados e as regiões têm a capacidade de desenvolver todas as medidas positivas em relação à ação climática”, disse durante uma coletiva de imprensa.