Trump e sua nostalgia pelos objetos de antigamente

Trump e sua nostalgia pelos objetos de antigamente

Fogões a gás, chuveiros, lâmpadas incandescentes… Desde seu retorno à Casa Branca, Donald Trump tem se concentrado nas normas ambientais que afetam muitos objetos cotidianos e insiste: as coisas do passado eram melhores.

O magnata republicano ordenou na terça-feira que sua administração voltasse “imediatamente” aos padrões de seu primeiro mandato (2017-2021) no uso de “pias, chuveiros, vasos sanitários, lavadoras, lava-louças, etc.”

Trump, de 78 anos, se queixa há anos dos chuveiros, que, segundo ele, agora têm um fluxo de água muito baixo.

“Se você é como eu, não consegue lavar seu belo cabelo adequadamente”, disse ele em 2020.

Durante seu primeiro governo, Trump promulgou normas para que os chuveiros usassem mais água, medidas que depois foram revogadas por seu sucessor, o democrata Joe Biden.

Nos últimos anos, Trump também fez campanha sobre a ideia de que os democratas querem proibir fogões a gás e carros com motor a combustão, tornando o assunto uma questão de liberdade de escolha para os consumidores americanos.

O republicano frequentemente critica o uso generalizado de lâmpadas LED, que substituíram gradualmente as incandescentes durante a última década.

– “Bom senso” –

“Não sou uma pessoa vaidosa, mas fico melhor sob uma lâmpada incandescente do que sob essas luzes malucas”, disse em 2019.

Trump anunciou na terça que assinaria um decreto para voltar a ter “normas de bom senso sobre as lâmpadas”.

Para Andrew deLaski, da associação local Asap, as preocupações de Trump “parecem obsoletas”.

“Hoje em dia, existe uma ampla gama de produtos modernos e eficientes que estão entre os que melhor funcionam”, afirmou o diretor executivo dessa organização, que luta por padrões de eficiência energética para produtos de uso diário.

A Asap, por exemplo, defende que as lâmpadas LED “reduzem os custos energéticos de lares e empresas e diminuem a poluição” ambiental.

Da mesma forma, “as normas que regulam os chuveiros economizam dinheiro para os consumidores nas suas contas de água e eletricidade e ajudam a proteger o meio ambiente”.

Mas a cruzada do presidente republicano, um cético do aquecimento global, parece ter menos a ver com um raciocínio ecológico ou econômico do que com uma nostalgia pelos objetos de antigamente.

Desde que entrou na cena política dos EUA em 2015, o bilionário tem usado a nostalgia como uma poderosa arma eleitoral.

– Voltar ao passado –

“Donald Trump parece compreender esses momentos de nostalgia, e talvez ele mesmo seja sensível a eles”, considerou Spencer Goidel, professor de ciências políticas na Universidade de Auburn (Alabama).

O pesquisador, que estudou a questão da nostalgia no campo político, fez um paralelo com os gostos musicais.

“A maioria dos americanos acha que a melhor época da música foi quando eram jovens adultos”, selecionando as melhores músicas e esquecendo as piores, explicou.

“Na sociedade, ocorre o mesmo: os grandes homens e mulheres da História são imortalizados; os homens e mulheres medíocres (às vezes corruptos ou incompetentes) são esquecidos”, acrescentou.

Não é surpresa, portanto, que os políticos se apliquem ao sentimento nostálgico, pois “elaborar uma mensagem voltada para o futuro é difícil”, destacou Goidel.

Segundo o pesquisador, “é muito mais fácil defender um retorno” aos velhos tempos.

O lema favorito de Donald Trump, onipresente em sua campanha, tem sido uma invocação do passado, o desejo de “fazer a América grande novamente”, o famoso slogan Maga (Make America Great Again).

Embora Goidel defenda que “a nostalgia não é inerentemente democrata ou republicana”, seu trabalho com outros pesquisadores mostra que esse sentimento está mais “associado a atitudes racistas e sexistas, a uma mentalidade autoritária e ao voto republicano”.

Além disso, segundo seu estudo, as pessoas que demonstram fortes sentimentos de nostalgia têm mais chances de “apoiar um homem forte que quebre as leis e perturbe as instituições” democráticas.