O virtual candidato republicano à Casa Branca Donald Trump gosta de dizer que os hispânicos o adoram, mas seus correligionários enfrentam uma tarefa aparentemente impossível: conquistar esse crescente grupo demográfico que já foi insultado pelo bilionário diversas vezes.
Na Califórnia, onde as primárias republicanas irão acontecer em 7 de junho, o partido encara este enorme desafio em um estado onde os brancos não são maioria.
Os hispânicos são a minoria mais numerosa dos Estados Unidos e a maioria dos hispano-americanos tem origem mexicana. Apesar disso, Trump já disse sem rodeios que os mexicanos são estupradores e narcotraficantes, prometendo construir um muro ao longo de toda fronteira com o México.
A Califórnia, que há algum tempo apoiava o republicano Ronald Reagan, tem se tornado cada vez mais diversa, hispânica e democrata nas urnas. E nenhum republicano ganhou as eleições presidenciais nesse estado nas últimas duas décadas.
“Esse é o pior pesadelo para o Partido Republicano”, disse Raúl Hinojosa, professor associado do Departamento de Estudos Chicanos (americanos de origem mexicana) na Universidade da Califórnia em Los Angeles, UCLA.
“O que tem ocorrido ao Partido Republicano na Califórnia é que se tornou irrelevante eleitoralmente”, disse. “Não tem expectativas de ganhar uma cadeira no Senado ou no Governo”.
De acordo com estudos recentes de Gallup, 77% dos latinos tem uma opinião negativa sobre Trump, que muito provavelmente se tornará o candidato republicano nas eleições presidenciais em novembro.
Tempos de transformaçãoNa Califórnia, os hispânicos agora fazem parte do grupo racial e cultural mais numeroso e o estado conta com 20% dos quatro milhões de eleitores registrados.
“O voto latino mais que duplicou nos últimos 20 anos”, disse Hinojosa.
De acordo com Diana Colin, da ONG Humane Immigrant Rights de Los Angeles, os republicanos registrados representam apenas 16,5% dos eleitores hispânicos do estado.
Se forem observadas as multidões que compareceram aos discursos de Trump na Califórnia nos últimos dias, pode-se comprovar que o magnata imobiliário e astro da TV faz sucesso entre os brancos, asiáticos, homens, mulheres, idosos e jovens. Mas não entre os latinos.
Entre os manifestantes anti-Trump que usualmente boicotam suas apresentações, há uma grande quantidade de hispânicos com cartazes que denunciam o multimilionário como xenófobo e racista.
Corrida para o registro eleitoralTrump tem ameaçado deportar os 11 milhões de imigrantes ilegais que, estima-se, vivam nos Estados Unidos. Segundo especialistas, esta perspectiva tem animado os hispânicos a se registrarem para votar.
De acordo com o Political Data, grupo que monitora informações eleitorais, dois milhões de votantes se registraram na Califórnia desde 1 de janeiro. Esses números significam um aumento de 200% em relação a 2012. A metade deles democratas, um quarto hispânicos.
É claro que nem todos os hispânicos são democratas. Mas os republicanos fazem parte de uma pequena minoria, disse Hinojosa.
O feito demográfico mais notável é que os americanos de origem mexicana representam 60% dos hispânicos em geral nos Estados Unidos.
Muitos deles se beneficiaram de uma grande anistia oferecida pelo governo de Ronald Reagan em 1986.
“A grande maioria da população latina está relacionada com alguma pessoa ilegal”, explica Colin, segundo quem esta simpatia se traduz em uma opinião a favor dos direitos dos imigrantes.
Mas também existem outras vozes entre os eleitores latinos.
Delores Chávez, da assembleia hispânica republicana da Califórnia, suspeita que o verdadeiro número de seguidores de Trump talvez seja maior, mas seus eleitores têm medo de anunciar publicamente seu apoio ao magnata.
“Existem muitos votantes de Trump no armário, que tem medo de sofrer represálias se disserem que o apoiam”, disse Chávez.
Mas não se pode negar que os hispânicos são uma bomba-relógio demográfica para os republicanos.
Os especialistas calculam que os latinos representarão um terço da população americana em 2060. Isto significa que nos próximos 15 anos haverá entre 30 e 40 milhões de eleitores latinos, disse Hinojosa.
Muitos estados, em parte graças a essa tendência, estão inclinando-se demograficamente aos democratas. Segundo Hinojosa, é o caso do Texas e da Flórida.
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