O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira (22) que a investigação que pode levar a um impeachment contra ele é um “linchamento”, uma palavra relacionada a um período sombrio da escravidão no país.

“Se algum dia um democrata for presidente, e os republicanos ganharem a Câmara de Representantes, inclusive por uma margem menor, podem levar o presidente a um julgamento político sem o devido processo, ou justiça, ou direito legal algum”, escreveu Trump no Twitter.

“Todos os republicanos devem se lembrar do que estão testemunhando: um linchamento. Mas venceremos!”, tuitou Trump.

Antes, o presidente se referia ao processo como “caça às bruxas” e “perseguição”, mas nunca havia usado este termo vinculado à história da escravidão e da segregação racial.

O comentário provocou reações imediatas. Kristen Clarke, presidente do Comitê Nacional de Advogados para os Direitos Civis nos termos da Lei, disse se sentir “enojada ao ver a grave apropriação indevida deste termo por parte de Trump”.

Clarke lembrou que 4.743 pessoas foram linchadas nos Estados Unidos entre 1882 e 1968. Deste total, 3.446 eram negras.

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“Os linchamentos foram crimes contra a humanidade e uma parte desagradável da história da violência racial em nossa nação”, ressaltou.

Em entrevista à emissora de televisão CNN, o democrata negro James Clyburn afirmou que “é uma palavra que nenhum presidente deveria usar para si mesmo”.

“Venho do Sul. Conheço a história desta palavra. É uma palavra que deve ser usada com muita, muita precaução”, completou.

“Nunca vimos algo assim”, acrescentou, referindo-se a outros presidentes americanos.

Para o pré-candidato democrata Julián Castro, “é mais do que vergonhoso usar a palavra ‘linchamento’, porque ele é, de fato, responsável por suas ações”.

O líder da maioria do Senado, o republicano Mitch McConnell, referiu-se à declaração de Trump como uma “escolha infeliz de palavras”.

“Dada à História no nosso país, eu não poderia comparar isso a um linchamento. Foi uma escolha infeliz de palavras”, comentou.

Ao mesmo tempo, o senador disse que o presidente tem uma “queixa legítima” sobre a investigação em curso.

“É um processo injusto e uma melhor maneira de caracterizar isso seria chamar de processo injusto”, completou McConnell.

Trump está sendo investigado pela Câmara dos Representantes, em um processo liderado pelos democratas para seu impeachment. A expectativa do presidente é que o Senado, dominado pelos republicanos, absolva-o, caso a oposição vote a favor de sua destituição.

Apesar da decisão da Casa Branca de não atender a seus pedidos por documentação, os democratas continuam sua investigação. Nesta terça, Bill Taylor, encarregado americano na Ucrânia, testemunha na Câmara.


Uma pesquisa publicada pela CNN nesta terça mostra que, agora, 50% dos americanos concordam com o processo de impeachment, e 43% são contra. Este é o percentual mais alto em uma enquete já realizada pela emissora sobre o assunto.

Nesse contexto, o presidente se esforça para manter a lealdade dos republicanos: “95% de apoio dentro do Partido Republicano, obrigado!”, tuitou.

O apoio do Senado será crucial, se os democratas conseguirem fazer o processo avançar na Câmara de Representantes.


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