O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump afirmou neste sábado (18) que será “preso” dentro de três dias e convocou protestos, ante uma possível acusação pelo pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô antes das eleições de 2016.

“O principal candidato republicano e ex-presidente dos Estados Unidos da América será preso na terça-feira da próxima semana. Protestem, recuperem nossa nação!”, declarou Trump em sua rede social Truth Social, em terceira pessoa e com letras maiúsculas.

Se for acusado pela Justiça do estado de Nova York, Trump se tornará o primeiro ex-presidente americano acusado de um crime e suas aspirações de se tornar o candidato presidencial republicano para as eleições de 2024 serão complicadas.

O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, reagiu com raiva, acusando os promotores de Nova York de buscar uma “vingança política” contra Trump e indicou que impulsionará uma investigação no Congresso.

A investigação liderada pelo procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, um democrata eleito, se concentra em um pagamento de US$ 130 mil feito duas semanas antes da eleição presidencial de 2016, vencida por Trump, a uma atriz pornô conhecida como Stormy Daniels.

O dinheiro era destinado, supostamente, a impedir Stormy, cujo verdadeiro nome é Stephanie Clifford, de revelar um relacionamento que diz ter tido com Trump alguns anos antes.

Na sexta-feira, um dos advogados de Trump, Joseph Tacopina, disse que seu cliente compareceria diante da Justiça de Nova York se fosse acusado.

Trump negou repetidamente um caso com Daniels e alega que a investigação teve motivação política.

– “Vazamentos ilegais” –

Em sua publicação de hoje na Truth Social, Trump se referiu a “vazamentos ilegais do gabinete do procurador do distrito de Manhattan, que chamou de “corrupo e altamente politizado”. Disse, ainda, que a investigação está “baseada em um conto de fadas antigo e completamente desacreditado (por muitos outros promotores!)”.

Horas depois, Trump dobrou a aposta em uma nova postagem em letras maiúsculas, chamando seu sucessor, o democrata Joe Biden, de “corrupto” e incentivando seus seguidores a protestarem: “Protestem, protestem, protestem!!!”, exigiu.

Susan Necheles, advogada de Trump, indicou que as publicações do ex-presidente foram baseadas em relatos da imprensa e não em alguma nova medida tomada pelos promotores.

“Como se trata de uma acusação política, o gabinete do procurador está recorrendo a vazamentos para a imprensa, em vez de se comunicar com os advogados do presidente Trump, como seria feito em um caso normal”, disse Necheles em comunicado enviado à AFP.

Um grande júri em Nova York – um painel especial composto por cidadãos imparciais – que examina a evidência apresentada pelos promotores para decidir se a apresentação de acusações é justificada, tem ouvido testemunhas no caso de Trump.

Na segunda-feira, os membros do júri ouviram o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, que efetuou o pagamento a Daniels. Cohen foi condenado a três anos de prisão em 2018 por acusações federais relacionadas ao pagamento, mas se declarou culpado e disse que apenas estava seguindo as ordens do ex-presidente.

A própria Daniels se reuniu com os promotores na quarta-feira e “concordou em estar disponível como testemunha ou para uma maior investigação, se necessário”, segundo seu advogado Charles Brewster.

Trump também recebeu um convite para testemunhar, o que, segundo especialistas legais, é um sinal de que uma acusação está se aproximando.

O pagamento a Daniels, se não for devidamente contabilizado, pode resultar em uma acusação de um crime menor relacionado com falsificação de registros comerciais.

Isso pode ser considerado um crime grave se a contabilidade falsa tiver sido usada para acobertar um segundo crime, como uma violação de financiamento de campanha, informou o jornal The New York Times.

– Perspectivas para 2024 –

Trump enfrenta várias investigações criminais nos níveis estadual e federal por possíveis irregularidades antes, durante e depois de seu mandato (2017-2021).

Na Geórgia, um promotor está investigando as tentativas de Trump e de seus aliados de anular a derrota eleitoral do magnata nas eleições de 2020 nesse estado do sul do país.

O republicano também é alvo de uma investigação federal sobre a gestão de documentos sigilosos, assim como seu possível envolvimento na violenta invasão do Capitólio, sede do Congresso, em 6 de janeiro de 2021.

Alguns analistas acreditam que uma acusação é um mau presságio para as chances de Trump em 2024, enquanto outros especulam que isso poderia, pelo contrário, beneficiá-lo.

“A prisão garante a indicação de Donald Trump”, tuitou o estrategista político Rick Wilson, afirmando que a base republicana o apoiará.

O bilionário Elon Musk, dono da empresa de carros elétricos Tesla e autodenominado libertário alinhado com posições republicanas, foi ainda mais longe. “Se isso acontecer, Trump será reeleito com uma vitória esmagadora”, escreveu ele no Twitter.