Donald Trump chegou, nesta segunda-feira (6), a um tribunal de Nova York para ser interrogado por inflar o valor de seus ativos para beneficiar seu império imobiliário, em um dos muitos casos que podem afetar sua pretensão de voltar à Casa Branca no próximo ano.

O bilionário, de 77 anos, chegou às 10h (12h em Brasília) ao tribunal no sul de Manhattan e, à imprensa, voltou a atacar a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que exige uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão na cotação atual).

O magnata rejeitou as acusações de que as declarações da situação financeira da empresa eram fraudulentas e disse que “na verdade não eram documentos aos quais os bancos tenham prestado muita atenção”.

Também garantiu que não levou em consideração o valor da “marca Trump”. “Me tornei presidente graças à minha marca”, respondeu à Kevin Wallace, advogado da Procuradoria-Geral de Nova York.

Em certo momento, o juiz do caso, Arthur Engoron, reclamou das repostas de Trump, considerando-as muito longas para perguntas de “sim” ou “não”. “Por favor, apenas responda às perguntas, nada de discursos”, disse o magistrado, antes de pedir a um dos advogados do republicano que “controlasse seu cliente”.

“Isto não é uma manifestação pública”, acrescentou o juiz.

Antes de depôr, o republicano conversou com jornalistas do lado de fora do tribunal e denunciou o caso como uma “interferência eleitoral”.

“É uma situação muito triste para nosso país. Geralmente ocorre em países de terceiro mundo e repúblicas bananeiras”, declarou.

– “Os números não mentem” –

Tanto a procuradora-geral quanto o juiz responsável pelo caso são regularmente alvo da ira do republicano desde o início desse julgamento, no início de outubro. Desde então, o ex-presidente já chamou Engoron de “desequilibrado” e de “agente democrata, da esquerda radical, que odeia Trump”.

O magistrado impôs duas multas ao bilionário, US$ 5.000 e US$ 10.000 (R$ 24,5 mil e R$ 49 mil), ao determinar que o empresário violou uma ordem de silêncio imposta depois de atacar o escrivão do juiz nas redes sociais.

Em trechos da primeira declaração, ele qualifica o processo como “a maior caça às bruxas da história do país” e afirma que James está “fora de controle”.

“No final, a única coisa que importa são os fatos e os números. E os números, meus amigos, não mentem”, disse a procuradora-geral de Nova York, nesta segunda, ao chegar à corte.

Até agora, dois de seus filhos testemunharam: Donald Jr. e Eric, executivos da Trump Organization, um conglomerado que administra arranha-céus, hotéis de luxo e clubes de golfe em todo o mundo.

Antes dos argumentos iniciais, Engoron decidiu que o gabinete da procuradora-geral havia apresentado “evidências conclusivas” de que Trump exagerou seu patrimônio líquido em documentos financeiros, entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões entre 2014 e 2021 (R$ 3,9 bilhões e R$ 10,7 bilhões).

Como resultado, o juiz ordenou a liquidação das empresas que administravam os ativos em questão, como a Trump Tower e os 40 arranha-céus de Wall Street, em Manhattan, entre outros bens.

Esta ordem está em suspensa até a conclusão do recurso, mas suas consequências ressaltam o quanto está em jogo para o ex-presidente, que construiu a sua figura política sobre a imagem dos sucessos descritos em seu livro “A arte da negociação”.

Trump tem outros quatro casos aberto. Mas, até o momento, estes processos não afetaram sua popularidade nas pesquisas eleitorais para as próximas eleições.

Em março, o bilionário foi intimado a depôr em um tribunal de Washington por tentar anular os resultados das eleições de 2020, que perdeu para o atual presidente americano, Joe Biden.

– Um assunto familiar –

Os advogados de Trump rejeitam as acusações de fraude, argumentando que as avaliações imobiliárias são subjetivas e que os bancos que concedem empréstimos à organização não perderam dinheiro.

Donald Jr. e Eric basearam sua defesa no argumento de que deixaram a cargo de contadores a tarefa de preparar as declarações financeiras da empresa familiar, embora os procuradores tenham confrontado Eric sobre e-mails que parecem contradizer essas afirmações.

A filha de Trump, Ivanka, que já não tem responsabilidades oficiais dentro da Trump Organization, também poderá ser convocada, apesar das múltiplas tentativas de evitar a sua intimação.

No processo, Engoron também deverá se pronunciar sobre se outros crimes financeiros foram cometidos, assim como sobre qualquer outro tipo de multa.

arb/caw/sst/dga/arm/tt/aa/yr/aa