O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pisará em um país latino-americano pela primeira vez, desde que chegou ao poder, nesta quinta-feira (29), mas a agenda focada no G20 em Buenos Aires, além da decisão de cancelar uma visita posterior à Colômbia, deixaram a região em segundo plano na viagem.

As reuniões previstas com os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, prometem dar bastante importância à passagem do presidente americano pela capital argentina. Trump chega a Buenos Aires à noite e fica até sábado (1°), dia do encerramento do encontro, que reúne os 20 países mais industrializados do mundo.

Antes da Argentina, Trump chegou a planejar uma viagem ao Peru e à Colômbia em abril, mas cancelou a visita, depois de informações sobre um suposto ataque químico ocorrido na Síria.

O gesto desagradou os aliados do líder republicano na região, e a Casa Branca tentou compensá-los transformando a viagem de Trump para o G20 em uma breve turnê latino-americana. No entanto, mais uma vez, o presidente americano precisou cancelar a parada prevista em Bogotá no domingo (2), alegando problemas de agenda.

Trump evitou fazer viagens longas desde uma extensa turnê pela Ásia no ano passado. Agora, a opção é fazer paradas o mais curtas possível pelo exterior, explicou à Agência EFE um ex-assessor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Fernando Cutz. No G20, Trump só tem programada, por enquanto, uma reunião bilateral com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, encontro que faz parte da tradição da diplomacia americana de sempre prestigiar o anfitrião de qualquer cúpula multilateral.

É possível que o republicano se reúna também com o presidente em fim de mandato do México, Enrique Peña Nieto, já que os dois devem assinar na sexta-feira (30) o acordo renegociado do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), agora chamado Acordo Estados Unidos-México-Canada (Usmca).

Não há previsão de que Trump se encontre com o presidente Michel Temer, que também participará da Cúpula do G20. O emedebista chegou a convidar Jair Bolsonaro para o evento, o que aumentaria as chances de uma reunião entre a delegação brasileira e o presidente americano. No entanto, segundo fontes do governo federal, o presidente eleito teria alegado que não poderia viajar devido aos problemas de saúde decorrentes do ataque sofrido durante a campanha eleitoral.

“É pouco provável que os latino-americanos vejam a reunião de Trump com Macri ou a assinatura de um acordo comercial que deixou um sabor ruim na boca de México e Canadá como demonstrações de um interesse genuíno na região”, disse em entrevista à EFE o presidente do centro de estudos Interamerican Dialogue, Michael Shifter.

A impressão de muitos no continente é que Trump só está indo à Argentina porque o país receberá a Cúpula do G20. Em nenhum momento, a Casa Branca fez questão de destacar que esta será a primeira visita do presidente americano à região desde que chegou ao poder.

“É uma oportunidade perdida se ele não reconhecer o fato de que está na América Latina e nem falar sobre a região”, analisou Cutz.

Rejeição na região

Apenas 16% dos latino-americanos tinham uma opinião positiva sobre Trump no ano passado, de acordo com uma pesquisa do Instituto Gallup. A rejeição se dava, em parte, à retórica anti-imigração e aos ataques feitos contra o México e países da América Central.

“Apesar disso, a maioria dos governos na região quer manter relações positivas, ou pelo menos ‘corretas’, com os EUA. Os líderes têm especial cuidado de evitar antagonizar Trump”, indicou a diretora para América Latina do Wilson Center, Cynthia Arnson.

O pragmatismo diplomático é mais forte na América do Sul, onde não parece haver, na avaliação de Cutz, repercussões negativas da atitude de Trump em relação aos imigrantes.

Na prática, porém, os EUA ampliaram as sanções contra Venezuela e Nicarágua desde que Trump chegou ao poder. E John Bolton, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca desde abril, tem bastante interesse em aumentar a pressão sobre esses dois países.

Ao lado de Cuba, eles formam, para Bolton, a “troika da tirania”.

Para os analistas ouvidos pela EFE, a viagem de Bolton ao Rio de Janeiro para se encontrar com Bolsonaro pode criar um poderoso eixo bilateral que, a longo prazo, seria muito mais significativo para a região do que a breve passagem de Trump pela Argentina.