Grande favorito a vencer as primárias republicanas para disputar a eleição presidencial de 2024, o ex-presidente Donald Trump comparece nesta quinta-feira (3) a um tribunal de Washington depois de ter sido acusado de conspiração para tentar reverter o resultado da votação de 2020.

Em um texto de 45 páginas publicado na terça-feira (1º), o promotor especial Jack Smith acusou Trump de minar as bases da democracia americana, ao tentar alterar a apuração dos votos nas eleições presidenciais. Sem precedentes, a acusação é particularmente grave, considerando-se que ele era o presidente em exercício no momento dos fatos.

Já as outras acusações criminais apresentadas contra ele este ano – uma por fraude contábil após o pagamento de dinheiro a uma atriz pornô para comprar seu silêncio, e outra, por ter colocado a segurança nacional em perigo com a gestão negligente de documentos confidenciais – correspondem a um período anterior e posterior a seu mandato, respectivamente.

Prevê-se que Trump, de 77 anos, declare-se inocente em uma audiência às 16h locais (17h no horário de Brasília) ante a juíza de instrução Moxila Upadhyaya. Serão tomadas suas impressões digitais, mas não tirarão uma foto do magnata. Posteriormente, o caso será repassado para a juíza Tanya Chutkan, que já emitiu uma decisão contra ele em um caso em 2021.

O tribunal onde serão lidas as acusações fica perto do Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos. O prédio foi atacado por centenas de partidários de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden.

A invasão foi “incentivada pelas mentiras” que o acusado divulgou durante meses sobre uma suposta fraude eleitoral a favor de Biden, declarou Smith, depois de anunciar o indiciamento.

As autoridades tomaram fortes medidas de segurança em torno do tribunal. Jornalistas do mundo inteiro passaram a noite no local para garantir um lugar no interior da corte e poder transmitir esse momento histórico.

– “Instrumentalização” –

O promotor disse na terça-feira que deseja um “julgamento sem demora”, o que significa que pode coincidir com a campanha da eleição presidencial de 2024, e talvez com Trump como candidato. No momento, ele é o grande favorito das primárias republicanas.

Por ora, o impacto da nova acusação para sua candidatura é desconhecido.

O ex-presidente já denunciou uma “caça às bruxas”, uma nova “ingerência eleitoral” e o “uso político” da Justiça para impedir que seja candidato. E insiste, sem apresentar qualquer prova, em que uma “fraude” ocorreu nas eleições 2020.

Nesta quinta-feira, manteve-se firme. Em sua plataforma Truth Social, Trump acusou Biden de ordenar o Departamento de Justiça a acusá-lo de “todos os crimes que podem ser inventados”.

Querem, acrescentou, forçá-lo a “gastar muito tempo e dinheiro se defendendo”.

“Os democratas não querem competir comigo, senão não recorreriam a essa instrumentalização inédita da ‘Justiça’. Mas em breve, em 2024, será nossa vez”, completou.

Trump já gastou milhões de dólares com advogados, quase esgotando seus fundos de campanha, para os quais arrecadou até agora mais de US$ 54 milhões (R$ 259 milhões) em seis meses, muito mais do que seus concorrentes republicanos.

Segundo o bilionário nova-iorquino, a última acusação contra ele “revelou ao mundo a corrupção, o escândalo e o fracasso que aconteceram nos Estados Unidos durante os últimos três anos”, sob o mandato de seu sucessor.

Biden, que está de férias, tenta se manter à margem dos problemas legais de seu adversário, pelo menos diante da opinião pública.

Nesta manhã de quinta, durante seu passeio de bicicleta por Rehoboth, em Delaware (leste), ele foi perguntado se acompanhará a leitura das acusações contra Trump. Sua resposta foi um categórico “Não”.

Apesar dos problemas judiciais, Trump conta com a lealdade de um amplo setor de seu partido. Mantém uma vantagem considerável nas pesquisas para a indicação republicana, muito à frente do rival mais próximo, o governador da Flórida, Ron DeSantis.

E esta pode não ser sua última dor de cabeça judicial. A Promotoria da Geórgia também investiga se Trump tentou alterar, ilegalmente, o resultado das eleições de 2020 nesse estado do sul do país.

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