Republicano diz que assinará série de ordens executivas para reverter políticas de Biden. Posse no Capitólio terá vários líderes da ultradireita mundial e bilionários do setor de tecnologia.Nesta segunda-feira (20/01), Donald Trump assume como o 47º presidente dos Estados Unidos, dando início ao seu segundo mandato, numa das mais surpreendentes reviravoltas políticas da história americana.
Trump assume o comando do país com um discurso radical de reversão de decisões importantes tomadas por Biden e de remodelagem das instituições, com os republicanos tendo o controle sobre as duas câmaras do Congresso.
O magnata fará um discurso de posse otimista, avançou o jornal The Wall Street Journal, citando trechos do texto, e afirmará que "uma maré de mudanças está varrendo o país", no início de "uma nova e emocionante era de sucesso nacional".
O novo presidente quer agir rapidamente após a cerimônia, com ordens executivas já preparadas para serem assinadas, a fim de acelerar as deportações, aumentar a exploração de combustíveis fósseis e reduzir as proteções do serviço civil para os funcionários do governo.
Cerimonial
Originalmente, o juramento deveria ocorrer em frente ao Capitólio, mas será realizado dentro do prédio, sede do Congresso americano, devido às temperaturas extremamente baixas em Washington.
O dia da posse é, por tradição, dedicado em grande parte à pompa e circunstância. Um presidente deixa a Casa Branca, e outro chega. Mas Trump também se comprometeu a assinar em seu primeiro dia no cargo mais de uma centena de ordens executivas sobre assuntos que vão desde a segurança na fronteira até a produção de petróleo e gás.
Trump faz o juramento de posse perante o presidente da Suprema Corte dos EUA, John Roberts, ao meio-dia (hora local, 14h em Brasília).
Em seguida, ele faz seu discurso de posse. Em entrevistas, o republicano disse que pretende que o pronunciamento seja edificante e unificador. Isso representaria um contraste em relação a seu primeiro discurso na posse em 2017, que detalhou um país quebrado que ele descreveu como "carnificina americana".
O presidente em fim de mandato, o democrata Joe Biden, disse que planeja participar da cerimônia e testemunhar a transferência de poder, um gesto que o republicano Trump não lhe concedeu quatro anos antes.
A estrela da música country Carrie Underwood está programada para se apresentar na cerimônia de posse.
Líderes da ultradireita e bilionários
Trump rompeu com os precedentes e convidou vários líderes estrangeiros para a cerimônia, a maioria populistas ou líderes da extrema direita. Historicamente, chefes de Estado e governo não comparecem à cerimônia de posse por questões de segurança e enviam diplomatas em seu lugar.
Confirmou presença o presidente da Argentina, Javier Milei, um forte apoiador de Trump.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também disse que comparecerá.
Da UE, nenhum dos altos representantes das instituições recebeu convite para a cerimônia, incluindo os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Meloni será a única líder dos 27 Estados-membros da UE presente.
Da ultradireita europeia, haverá uma delegação dos Patriotas pela Europa, encabeçada pelo líder da terceira maior força política do Parlamento Europeu, Santiago Abascal (do partido Vox, da Espanha).
Alice Weidel, líder do partido de ultradireita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), também foi convidada, mas será representada pelo outro co-presidente da legenda, Tino Chrupalla.
Os líderes da ultradireita francesa, Marine Le Pen e Jordan Bardella, não receberam convites, ao contrário do político anti-imigração Éric Zemmour. Do Reino Unido, estará presente o líder do partido Reform UK, Nigel Farage, defensor do Brexit.
O presidente da China, Xi Jinping, não estará presente, apesar de um convite, mas enviará um representante.
Também comparecem o conselheiro de Trump, Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX; Jeff Bezos, presidente executivo da Amazon; e Mark Zuckerberg, CEO da Meta Platforms.
Uma comitiva de cerca de 20 deputados federais do Brasil deve estar na posse, incluindo Eduardo Bolsonaro. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi convidado, mas não poderá participar porque o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido de devolução de seu passaporte. Após a decisão de Moraes, Bolsonaro anunciou que a esposa, Michelle Bolsonaro, vai representá-lo na cerimônia.
As temperaturas também forçaram os organizadores a cancelar um planejado desfile de regimentos militares pela Pennsylvania Avenue, bandas marciais de escolas, carros alegóricos e grupos de cidadãos. O desfile será realizado na Capital One Arena, com capacidade para 20 mil pessoas, no centro de Washington, o mesmo onde ele realizou seu "comício da vitória" na véspera da posse.
"Comício da vitória"
Durante um incomum comício antes da posse, neste domingo, Trump disse que assinará uma série de ordens executivas nesta segunda-feira, abrangendo questões que vão desde programas governamentais destinados a garantir a diversidade racial e de gênero no local de trabalho até a segurança da fronteira sul dos Estados Unidos.
Durante o chamado "comício da vitória", Trump prometeu parar a "invasão" de imigrantes na fronteira americana.
Uma pessoa familiarizada com o planejamento disse que Trump está se preparando para assinar mais de 200 ordens executivas no primeiro dia. Elas vão se concentrar na segurança das fronteiras.
Entre elas estão as diretrizes para classificar os cartéis de drogas como "organizações terroristas estrangeiras", declarar uma emergência na fronteira entre os Estados Unidos e o México e avançar no sentido de restabelecer a política "Permaneça no México", que obriga os requerentes de refúgio que não são mexicanos a esperarem no México por suas datas nos tribunais dos EUA.
Espera-se que ele assine ordens que deem aos oficiais de imigração mais liberdade para prender migrantes sem antecedentes criminais, enviem mais tropas para a fronteira entre os EUA e o México e reiniciem a construção de um muro na fronteira.
Segundo o Wall Street Journal, Trump vai declarar o estado de emergência na fronteira com o México e irá abolir alguns programas destinados a promover a diversidade no governo federal e levantar as restrições à exploração petrolífera.
Outra medida esperada: indultos para os condenados que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, numa tentativa de impedir a certificação da vitória presidencial do candidato democrata, Joe Biden, na eleição de 2020.
"Ganhamos!"
Trump abriu o evento com um "ganhamos!" e prometeu agir com "velocidade e força históricas" para cumprir suas promessas, incluindo o que ele chama de a maior deportação já feita no país.
"Nós vencemos! Que sensação maravilhosa, gostamos de ganhar, não é mesmo?", disse Trump diante de milhares de apoiadores animados na Capital One Arena, em Washington, com capacidade para 20 mil pessoas, embora algumas fileiras superiores estivessem vazias.
"Amanhã, ao meio-dia, a cortina cairá sobre quatro longos anos de declínio americano e começaremos um novo dia de força, prosperidade, dignidade e orgulho para os Estados Unidos. Vamos recuperar tudo de uma vez por todas!", prometeu.
O republicano deu a entender que poderia assinar no mesmo estádio os perdões prometidos aos condenados pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. "Todos neste grande estádio ficarão muito felizes com minha decisão sobre os reféns de 6 de janeiro", disse ele.
"TikTok está de volta"
Um dos momentos mais aplaudidos foi quando Trump anunciou o retorno do TikTok depois que o aplicativo ficou indisponível nos EUA no dia anterior, antes da entrada em vigor de uma lei exigindo que a sua controladora chinesa, a ByteDance, venda a plataforma.
"A partir de hoje, o TikTok está de volta", declarou um Trump vitorioso, que levou o crédito por ter conquistado o voto dos jovens graças ao aplicativo. "Ganhamos no TikTok, e os republicanos nunca antes haviam ganhado o voto jovem", acrescentou.
O TikTok, com 170 milhões de usuários nos EUA, voltou a funcionar nesta segunda-feira depois que Trump anunciou que, após sua posse, assinará uma ordem executiva para adiar a implementação da lei que busca banir a rede social por motivos de segurança nacional.
O magnata também arrancou aplausos quando prometeu realizar a "maior deportação da história do país" e erradicar a ideologia "woke" das escolas.
Outro destaque foi a aparição do bilionário Elon Musk, que subiu ao palco com seu filho XÆ A-Xii, que pulava entusiasmado. Entre uma hesitação e outra, Musk afirmou que "essa vitória é apenas o começo" de uma mudança que transformará os Estados Unidos.
"Y.M.C.A.", o show final
O comício foi encerrado com Trump no palco dançando e cantando a música Y.M.C.A. junto com o grupo Village People.
Também se apresentou durante o evento Kid Rock, fizeram discursos os artistas de reggaeton porto-riquenhos Anuel AA e Justin Quiles, e na plateia estavam celebridades como o astro da luta livre Hulk Hogan e o CEO do TikTok, Shou Zi Chew.
Apesar do frio e da chuva, milhares de apoiadores de Trump esperaram durante horas para entrar no estádio, muitos usando jaquetas e bonés vermelhos com o slogan Maga (Make America Great Again).
md/as (Lusa, Reuters, ots)