As negociações para encontrar um acordo que permita votar o orçamento prosseguiam neste domingo (21) nos Estados Unidos, depois que o presidente americano, Donald Trump, acusou os democratas de serem os únicos responsáveis pela paralisação parcial da administração federal, que poderá se ampliar na semana que vem.

A paralisação (“shutdown”) aconteceu à meia-noite de sexta-feira, quando venceu o prazo que o Senado tinha para aprovar uma extensão do orçamento por quatro semanas.

“Hoje seria o dia perfeito para por fim” ao “shutdown”, disse no domingo Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado. O legislador advertiu que se um acordo não for alcançado, a situação pode ser “muito pior”.

Após denunciar “um erro de cálculo de proporções gigantescas” de parte dos democratas, McConnell exortou os adversários a por fim à paralisação do governo durante a votação que será celebrada à 01H00 local de segunda-feira (04H00 de Brasília).

A oposição democrata reclama uma solução para os quase 700 mil imigrantes, em sua maioria latino-americanos, beneficiados pelo programa Daca, lançado em 2012 pelo governo de Barack Obama, que lhes dava permissão para trabalhar e estudar legalmente nos Estados Unidos. Trump não renovou este programa, que vence em 5 de março.

Os republicanos, por sua vez, dizem que não discutirão sobre este tema sem a reabertura da administração federal.

Os primeiros efeitos da paralisação do governo federal serão sentidos a partir de segunda-feira, com a paralisação das atividades de milhares de funcionários federais. Nas Forças Armadas, os militares deverão permanecer em seus cargos, mas não receberão seu pagamento.

“É fantástico ver os republicanos brigando com determinação por nosso Exército e nossa segurança nas fronteiras”, tuitou Trump, um dia depois de completar seu primeiro ano de governo.

O presidente acusou seus adversários democratas de “simplesmente quererem uma multidão de imigrantes sem o mínimo de controle”, mas não deu sinais até o momento de como prevê sair desta crise, pelo qual é praticamente impossível calcular quanto tempo durará esta situação.

– Migração em disputa –

O líder dos senadores democratas, Chuck Summer, recordou que é a primeira vez que ocorre um “shutdown” nos Estados Unidos quando a Casa Branca e as duas câmaras estão sob controle do mesmo partido.

“Não conseguem sequer entrar em acordo com seu próprio presidente (…) Nós, os democratas, estamos prontos para sentar à mesa de negociações. O presidente deve tomar assento”, acrescentou.

Mick Mulvaney, diretor de Orçamento da Casa Branca, disse estar convencido de que existe uma verdadeira possibilidade de encontrar uma solução antes de segunda-feira de manhã. Mas também advertiu na Fox News que em caso de fracassar esta possibilidade, o “shutdown” pode durar “vários dias”.

Também denunciou uma manobra política de alguns democratas que, segundo ele, buscam prolongar a paralisação até o dia em que se prevê realizar o discurso do Estado da União, em 30 de janeiro.

Este discurso ante as Câmaras do Congresso é o momento no qual o governo explica ao povo americano suas prioridades para o ano que começa.

– Estátua da Liberdade reabre –

Em meio a esta cacofonia, a Estátua da Liberdade, que tinha sido fechada à visitação no sábado, vai reabrir no domingo.

O estado de Nova York pagará do próprio bolso os funcionários federais necessários para reabrir este monumento emblemático de um país aberto aos imigrantes.

“A estátua é mais que uma estátua”, disse o governador democrata de Nova York, Andrew Cuomo. “É um símbolo de Nova York e dos nossos valores (…) Sua mensagem nunca foi mais importante do que hoje”.

A última vez que o governo federal se viu forçado a paralisar suas atividades foi em outubro de 2013, durante o governo de Obama, quando 800 mil funcionários públicos foram licenciados por 16 dias.

Neste contexto, Trump evocou neste domingo em um tuíte uma possível reforma dos procedimentos de votação no Senado.

Esta medida, conhecida em Washington como “opção nuclear”, marcaria uma ruptura radical no funcionamento desta instituição que deve contrabalançar os excessos partidários da tumultuosa Câmara de Representantes.

O regulamento interno do Senado – composto por 100 membros – estipula que para cada moção, todos os senadores têm direito à objeção. Esta objeção só pode ser superada com o voto de 3/5 do Senado. Na prática, são necessários os votos de 60 senadores para tomar alguma decisão.

Mas os republicanos contam com 51 cadeiras no Senado.

Mas cruzar esta fronteira e tomar a decisão unilateral de reduzir a quantidade mínima de 60 para 51 votos transformaria profundamente o funcionamento do Congresso. A maioria dos senadores se opõe a esta iniciativa.