RIO DE JANEIRO, 7 JUL (ANSA) – Por Patrizia Antonini – As ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um aumento de 10% nas tarifas para os países pró-Brics caíram como uma chuva de surpresa no último dia da cúpula do bloco no Rio de Janeiro.
A estratégia do mandatário americano é sempre a mesma: gerar divisões, como também tentou fazer com os 27 Estados-membros da União Europeia. “Pouco sério” intimidar “outros países em redes digitais”, comentou Lula, anfitrião da cúpula, pedindo “respeito” e “reciprocidade”.
“Os outros Estados não comentaram sobre as palavras de Trump.
É como se nada tivesse sido dito”, acrescentou o petista, atacado por Trump também frontalmente, com declarações sobre seu antecessor, o ex-chefe de Estado conservador Jair Bolsonaro.
“Ele não tem culpa de nada: é vítima de uma ‘caça às bruxas'”, disse o magnata americano. Palavras que receberam resposta imediata do sul-americano: o Brasil é “um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de ninguém”.
Um golpe baixo, com o objetivo de ofuscar o trabalho de Lula, que tem se esforçado para cerrar fileiras nos Brics. Uma estratégia para semear a confusão entre os 11 membros e parceiros do Sul Global, poucas horas antes do término da trégua tarifária de 9 de julho.
Em resposta à declaração de Washington, Pequim garantiu que os Brics não visam “nenhum tipo de confronto”, reiterando que “guerras comerciais não têm vencedores e o protecionismo não oferece” soluções.
A África do Sul “não é antiamericana” e ainda quer negociar um acordo comercial com os Estados Unidos, disse um porta-voz do Ministério do Comércio, Kaamil Alli, enquanto o Kremlin respondeu explicando que “a interação dentro da estrutura do Brics nunca foi e nunca será direcionada contra nenhum país terceiro”.
Horas antes, Vladimir Putin, em conexão com a cúpula, havia definido “a globalização liberal como obsoleta” e o futuro agora nas mãos de “países emergentes em rápido crescimento”.
O presidente russo, mais do que ninguém, é um defensor de acordos comerciais para encontrar uma alternativa ao uso do dólar. Um dossiê que, na composição bastante heterogênea dos países-membros do bloco, encontra resistência da Índia. Estados parceiros como a Malásia se distanciaram imediatamente.
“Mantemos uma política externa e econômica independente, que se concentra na facilitação do comércio em vez do alinhamento ideológico”, disse Kuala Lumpur.
O que parece ter despertado a ira de Trump pelo que ele chamou de políticas antiamericanas dos Brics é, em particular, a tentativa de usar moedas locais para o comércio como alternativa ao dólar.
Por outro lado, os 11 países, que geram 40% do PIB mundial e crescem em ritmo acelerado, concentram uma força econômica com números expressivos: controlam 41% das reservas de petróleo, 53% do gás natural e 40% do carvão, segundo dados do Centro de Geopolítica Estratégica da América Latina. Além disso, possuem 84% das terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite, segundo dados do Planalto.
“Ninguém estabeleceu que o dólar deva ser a moeda de referência. Precisamos encontrar uma maneira de que nossas relações comerciais não precisem necessariamente passar pela moeda americana. No caso dos EUA, passará pelo dólar, mas no caso da Argentina, China, Índia, não é necessário. Quando se negocia com a Europa, usa-se o euro”, disse Lula, que lidera a iniciativa. (ANSA).