11/09/2024 - 10:15
“Vamos virar a página do velho discurso de sempre”, disse Kamala Harris na terça-feira, quando Donald Trump acusou migrantes de “roubar” empregos, comer “animais de estimação” e serem criminosos, durante um acalorado debate para as eleições nos Estados Unidos.
A vice-presidente e candidata democrata, de 59 anos, sabia que o ex-presidente e rival republicano abordaria a questão da migração e chegou preparada para o ataque.
“Ele vai falar muito sobre imigração esta noite, embora não seja o tema abordado”, alertou aos milhões de telespectadores que acompanharam o debate transmitido pela rede ABC.
O apresentador perguntou a Trump como ele deportaria milhões de migrantes, uma de suas promessas eleitorais.
Ele se esquivou da resposta ao afirmar que o governo do presidente democrata Joe Biden permitiu a chegada de “milhões de criminosos, terroristas, delinquentes” e “traficantes de drogas”.
“Agora eles estão nos Estados Unidos e seus países, como a Venezuela, dizem: não voltem jamais ou mataremos vocês”, acrescentou.
Segundo o Escritório de Alfândega e Proteção de Fronteiras, o número de migrantes com antecedentes criminais interceptados ao tentar cruzar a fronteira aumentou nos últimos três anos (mais de 10.700 em 2021, 12.000 em 2022, mais de 15.000 em 2023 e mais de 14.600 desde outubro).
Mas este número representa cerca de 1% dos mais de oito milhões de migrantes interceptados durante travessias irregulares desde a tomada de posse de Biden, em janeiro de 2021.
A migração não é uma prioridade para os eleitores, nem mesmo para os latinos, segundo pesquisas. Sua principal preocupação é a economia, por isso Trump associou os dois temas.
“Temos milhões de pessoas que chegam ao nosso país vindas de prisões e cadeias, de instituições psiquiátricas e manicômios, chegam e tomam postos de trabalho agora ocupados por afro-americanos e latinos e também de sindicatos”, disse o candidato republicano à Casa Branca.
E repetiu uma mentira contada desde segunda-feira por republicanos, e negada pelas autoridades, sobre migrantes haitianos de uma cidade em Ohio (nordeste).
“Em Springfield, as pessoas (migrantes) que chegam comem os cachorros, comem os gatos, comem os animais de estimação”, disse ele. O apresentador o corrigiu na hora.
A vice-presidente reagiu às declarações de Trump pedindo para virar a página.
“É importante avançarmos, virarmos a página desta mesma velha retórica cansada e atendermos às necessidades do povo americano”, defendeu.
O apresentador lhe perguntou por que demorou tanto para o governo tomar medidas drásticas para impedir a chegada de migrantes.
Referiu-se à ordem de junho de fechar a fronteira com o México aos migrantes que procuram asilo, quando há em média mais de 2.500 travessias irregulares a cada sete dias.
Harris evitou responder diretamente. Ela afirmou que, como ex-promotora, foi a única a “processar organizações criminosas transnacionais por tráfico de armas, drogas e pessoas”.
E culpou Trump pelo fracasso de um acordo bipartidário de imigração que incluiria medidas de segurança rígidas.
Esse projeto de lei “teria colocado mais 1.500 agentes fronteiriços na fronteira” e ajudado a combater o fentanil, explicou. Seu rival contra-atacou.
“Eles tiveram três anos e meio para organizar a fronteira, tiveram três anos e meio para criar empregos e todas as coisas de que falamos. Por que não fizeram?”
Durante o debate, a democrata tocou na ferida do republicano, muito orgulhoso da lealdade de seus apoiadores, apesar de seus problemas judiciais.
Ela os convidou a assistir a um de seus comícios porque é “interessante” ver como ele fala sobre “personagens fictícios”.
“Perceberão que as pessoas começam a ir embora dos comícios mais cedo, por cansaço e tédio”, disse ela, descrevendo Trump como egocêntrico.
Irritado, ele não deixou sem resposta.
“As pessoas nem vão aos seus comícios. Não há razão para ir. E as pessoas que vão (…) são pagas para estarem lá”, disse ele.
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