O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, mencionou nesta quinta-feira (5) uma “grande possibilidade” de alcançar um acordo, nos próximos dias, com Estados Unidos e México, em meio à renegociação do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).
Existe “uma grande possibilidade de alcançar um acordo em que Canadá, Estados Unidos e México saiam ganhando”, disse Trudeau à imprensa.
“Seria muito bom que pudéssemos fazer algum anúncio na Cúpula das Américas”, em 13 e 14 de abril em Lima, Peru, completou o canadense.
A ministra canadense das Relações Exteriores, Chrystia Freeland, viajou para Washington para se reunir com o representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, que, por sua vez, se reuniu na quarta-feira com o ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, em busca de alcançar um acordo sobre o Nafta.
Freeland disse que nas sete rodadas de negociações realizadas desde agora, houve “progressos muito bons” para atualizar o tratado vigente a 24 anos.
Vários assuntos bloqueiam agora os avanços. Entre eles, está a chamada “cláusula crepuscular” (sunset clause), proposta por Washington. Segundo ela, o Nafta venceria a cada cinco anos, quando deveria ser atualizado. México e Canadá se opõem a essa proposta e às mudanças propostas por Washington no sistema de solução de controvérsias.
O governo de Donald Trump está acelerando as negociações num contexto em que tensões comercias começam a pesar em Wall Street e se aproximam as eleições presidenciais no México em julho e as legislativas dos Estados Unidos em novembro.
A Casa Branca também considera o nervosismo que abalou os mercados provocado pela escalada de medidas comerciais recíprocas entre Estados Unidos e China, as duas maiores economias mundiais.
Em seus termos atuais, o Nafta estabelece que automóveis devem ter 62,5% de suas partes fabricadas nos países signatários para poderem ser importados sem tarifas. Washington quer elevar esse percentual a 85% e pretende que 50% sejam americanos – algo que seus sócios não admitem.
A imprensa canadense afirma que os Estados Unidos retiraram essa demanda, mas oficiais americanos não confirmaram a informação.
Freeland disse no mês passado que conseguiram avançar com Lighthizer “nas regras de origem para automóveis”, um ponto considerado fundamental para o acordo.
O jornal Globe and Mail, citando fontes anônimas, disse que os Estados Unidos e o Canadá estão longe de se entenderem em matéria de compras públicas e da abertura a laticínios e aviários canadenses.
Já o México se oporia, supostamente, à demanda dos Estados Unidos de exigir aos fabricantes de carros de adquirem peças em empresas que paguem aos seus trabalhadores pelo menos 15 dólares a hora – o que estaria alinhado com os outros dois países. No México, o salário médio é de 3 dólares a hora.
O setor automobilístico está preocupado porque salários mais elevados aumentarão custos na cadeia de produção, ou levarão à mudança para locais com mão de obra mais barata. Neste caso, teriam que pagar tarifas de 2,5% para importar veículos nos Estados Unidos, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A embaixadora americana no Canadá, Kelly Craft, citou nesta quarta-feira outros pontos de atrito das negociações, entre eles a falta de abertura do Canadá em matéria de telecomunicações e medicamentos genéricos.