As redes sociais viralizam cada vez mais os “micos” de Joe Biden, 79 anos, como sinais de senilidade. Com isso, colaboram para que a popularidade do presidente americano, já em baixa com a inflação do país (9,1% em junho, a maior em 41 anos), caia ainda mais. E esses índices devem influir nas eleições legislativas de meio de mandato, em 8 de novembro. A renovação do Congresso é vista como parâmetro para as próximas eleições presidenciais, em 2024, e é grande o risco do Partido Democrata perder maioria na Câmara, o que iria paralisar o governo de Biden, candidato à reeleição.

Nascido em 20 de novembro de 1942, Joe Biden foi o presidente mais idoso a assumir o cargo e, nas eleições legislativas, estará a dias de se tornar octogenário. Depois da retirada de tropas do Afeganistão, em agosto de 2021, sua aprovação despencou e em julho bateu nos 38%, de acordo com pesquisa da Harvard CAPS-Harris. Nada menos que 62% dos eleitores americanos desaprovam a maneira como conduz o país, que está perto da recessão — e 71% dizem que ele não deve disputar um segundo mandato (essa porcentagem é de 94% na faixa como menos de 30 anos).

Deslizes em série

Biden tem um histórico de tragédias familiares e uma carreira marcada por superações. Seu maior desafio na infância foi a gagueira. Ele já sofreu dois aneurismas cerebrais severos. Os tropeços em suas declarações ocorrem desde o início na política. No discurso de posse, enfatizou a necessidade de apoio e empatia com pessoas que sofrem “bullying”, ao apresentar um garoto que passa pelas mesmas dificuldades que ele sofreu. O democrata passa por repetidas situações constrangedoras (veja quadro), como na mais recente, sobre sua infecção por Covid-19, quando deu a entender que estava com câncer. A Casa Branca negou e divulgou que estava no fim dos sintomas e retomando sua atividade física, cinco vezes por semana.

Volta e meia Biden precisa desmentir questionamentos desagradáveis. Em agosto de 2020, uma provocação de Trump foi replicada por um repórter da CBS, que perguntou se havia feito um teste cognitivo (para avaliar se estaria demente, aos 77 anos). Biden respondeu: “Não. Por que faria? É como pedir um exame para ver se você está usando cocaína. O que você acha? Você é um drogado?”

Nas últimas semanas, em que emendou desastradamente em seu discurso as dicas do teleprompter (leu o final: “Repita a última frase”), a viralização de seus tropeços nas redes sociais ferveu e levou a novos questionamentos. Para o neurologista Hennan Salzedas Teixeira, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, esse deslize chamou a atenção e é um sinal amarelo: “Alteração na linguagem ou memória podem ser sinais de declínio cognitivo leve. Ou na atenção, como no caso desse discurso, em que ele não assimilou o que estava falando. Mas não é por que tem 80 anos que está com demência. A alteração na atenção pode ser resultado de uma noite mal dormida, por exemplo. Privação de sono pode levar a isso. Portanto, não dá para afirmar nada antes de investigar”.

Quanto mais gafes Biden acumula, mais são replicadas pelos adversários, que se espelham em um Donald Trump furiosamente empenhado em retomar o poder. Nascido em 14 de junho de 1946, o ex-presidente tem apenas três anos menos que Biden (76 a 79) e também sofre com rejeição, principalmente com a repercussão negativa do Comitê no Congresso que investiga seu apoio à invasão do Capitólio em 6 de janeiro. A pesquisa da Harvard diz que 30% acreditam que Trump seja responsável pelo episódio que ameaçou a democracia americana; 39%, que é um sujeito instável; 30%, que divide o país, e 61% acham que não deve disputar a presidência novamente. Ainda assim, o ex-presidente teria 44% dos votos, contra 39% do atual.

Republicanos e democratas se engalfinham em eleições primárias pela definição de melhores candidatos para concorrer ao Congresso. A Câmara terá todas as 435 cadeiras renovadas, hoje ocupadas por 221 democratas e 213 republicanos. O Senado, que conta com 50 republicanos, 48 democratas e dois independentes, troca apenas um terço. A reconfiguração das Casas pode ser favorável aos republicanos. Nas contas dos democratas otimistas, o partido poderia até perder cinco de suas vagas na Câmara, que seguiria como maioria. Os republicanos já falam em ganhar mais 60 cadeiras. Perder a maioria é o maior pesadelo dos governistas, porque projetos de Biden seriam bloqueados, dificultando muito sua reeleição, e ainda com risco de uma crise constitucional abrir caminho para o impeachment da dupla Joe Biden-Kamala Harris.