Presidente nacional do Progressistas (PP), o senador Ciro Nogueira (PI) foi o principal articulador da aproximação do presidente Jair Bolsonaro com os integrantes do Centrão. A afinidade do senador com o mandatário é tão intensa que coube a ele a iniciativa de apresentar ao presidente o então desembargador Kassio Nunes, que acabou sendo indicado para o Supremo Tribunal Federal. Para Ciro Nogueira, no entanto, essa proximidade é mais do que normal, ensejando, inclusive, que os aliados políticos de Bolsonaro recebam afagos do governo, especialmente no que se refere à liberação de recursos para as suas bases eleitorais. Dessa forma, Nogueira vê como um processo político salutar que o governo tenha liberado mais de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares para os aliados às vésperas da eleição para as presidências da Câmara e do Senado. “Desde que o mundo é mundo, deputados ligados ao governo recebem mais verbas para que possam atender melhor a população de seus estados”, disse Nogueira, em entrevista exclusiva à ISTOÉ.

Como estão as tratativas para filiar Bolsonaro ao PP?
Temos uma vontade muito grande de que o presidente venha, mas ele tem uma dúvida muito grande, não podemos negar, de ir para um partido estruturado, ou se filiar a um partido pequeno onde ele possa colocar pessoas no comando. Todas essas questões têm seus prós e contras. Se ele vier para o PP, o partido que mais cresceu na última eleição municipal e que tem grande sintonia com a população, ele vai ter mais tempo de TV, mais recursos para a campanha. Se ele for para um partido menor, não sei como as pessoas vão reagir a isso. Pelo menos na última eleição municipal, as pessoas deram a demonstração que não votaram em políticos inexperientes. Esse é o perfil da próxima eleição. E Bolsonaro não é mais uma surpresa, como foi em 2018. Se estivesse no lugar dele, iria para um partido mais estruturado como o PP.

O Progressistas está disposto a se transformar em uma legenda de aluguel da família Bolsonaro?
Estaríamos dispostos a receber todas as pessoas que estão ao lado do presidente. Agora, se eu disser para você que já temos uma bandeira, lógico que vamos ter de nos adequar, colocando como prioridade a eleição do presidente. Não vou negar que é mais fácil para o presidente ir para um partido menor em que ele possa entregar o comando nos estados aos seus correligionários.

Quem seria um nome do PP para vice nessa disputa?
Essa discussão de vice é impossível de o presidente resolver agora. Se eu estivesse no lugar dele, acho que essa questão só deveria ser resolvida nas convenções do próximo ano. Eu defendo que essa escolha seja de um nome de total confiança do presidente, que dê estabilidade a ele e que não seja uma pessoa que depois vá conspirar contra ele.

O general Hamilton Mourão foi uma escolha errada?
Eu não digo que foi uma escolha ruim. Eu tenho uma admiração muito grande pelo Mourão, mas foi uma escolha de última hora. As pessoas passaram a conhecer mais o que ele pensa somente agora. É uma avaliação que o presidente tem de fazer mais para a frente.

Esse apoio passa pelo presidente colocar o PP na Esplanada dos Ministérios?
A participação de partidos no governo não é uma questão que atinge só o Brasil. É no mundo inteiro. Desde que Bolsonaro assumiu, em momento algum disse que iria entregar cargos ao PP, como aconteceu no passado, em que a gente pegava ministérios de porteira fechada. Isso aconteceu no governo Temer, no governo Dilma e no governo Lula. No governo Bolsonaro não está sendo assim. O presidente deixou bem claro que não iria entregar cargos aos partidos políticos em barganha por apoio no Congresso. E nós começamos a apoiar o presidente muito antes de recebermos cargos no governo.

O PP trabalha para ter alguém do seu partido no comando de algum desses ministérios em negociação?
Ninguém iria acreditar se eu dissesse que não ficaria feliz em ter um correligionário nosso em um ministério. Mas não como uma troca por apoio. Afinal, o Progressistas já está votando 100% com o governo na Câmara e no Senado, independentemente de ter cargos ou não no ministério. Se nós já estamos votando, por que o presidente vai dar cargo em troca de apoio? Pode escolher um membro do partido de acordo com sua conveniência, mas não por causa do toma lá dá cá.

Mas o PP continuará fiel a Bolsonaro mesmo sem ministério?
O PP tem uma tradição de ter uma aliança com governos. Até com governos que não tínhamos uma identificação ideológica, com foi o caso do PT. Nós apoiamos por conta de alianças que podem levar benefícios aos nossos estados, levar obras, emendas, ter identificação com o governo, estar ao lado do presidente. O que eu tenho feito pelo estado do Piauí é por conta dessa parceria.

É o apoio do PP ao governo que tem levado mais verbas aos estados onde os senhores atuam?
Exatamente. A proximidade do PP é que leva benefício para a população dos nossos estados. Não tenho o menor constrangimento de dizer isso. Eu vou estar ao lado do presidente para levar mais obras e investimentos ao meu Piauí. E isso acontece com a maioria dos membros do nosso partido. Isso é uma troca salutar, republicana, que faz bem à população.

O senhor acredita que agora que um deputado de seu partido, Arthur Lira, assumiu a presidência da Câmara, as reformas tributária e administrativa serão votadas?
Eu não tenho dúvida de que desta vez elas sairão. O que houve é que no Senado havia uma maior parceria com o governo federal. Mas no último ano isso deixou de acontecer na Câmara com o Rodrigo Maia. Agora, temos uma pessoa que não é subserviente ao governo. Arthur Lira jamais vai ser subserviente a Bolsonaro, mas vai ter uma relação de respeito. O que o governo sugerir vai tramitar na Câmara, mas com toda a independência.

Nos dias que antecederam a eleição de Lira, houve uma farta liberação de emendas, que ultrapassou os R$ 3 bilhões. Foi compra de votos?
Olha, isso é uma meia verdade. Muita gente do DEM foi contemplada, do PT, do MDB. Como aconteceu em todos os governos. Aí podem dizer que neste ano foi maior, mas todos os anos o valor é expressivo. Não teve vínculo com a eleição. Por que Bolsonaro iria liberar recursos para o PT ou para o DEM?

Mas houve rachas no DEM e no próprio PT…
No MDB, o Arthur deve ter tido uns dois votos. Ele teve votos de praticamente todos os partidos.

Mas o senhor entende que a liberação de emendas em troca de votos é normal?
Sempre foi normal a liberação de verbas. Em todos os governos isso aconteceu. Você libera mais para os partidos que estão na base do governo. Isso aconteceu no governo do PT, do MDB e está acontecendo agora. A parceria maior é com os deputados que estão apoiando o governo. Isso desde que o mundo é mundo.

A liberação de verbas aos aliados vai aumentar neste ano, véspera eleitoral?
O que eu puder trazer de recursos para o meu Piauí, eu vou trazer. Vou ficar 24 horas na porta do presidente, dos ministérios, para que as coisas aconteçam em favor do meu estado. É assim que os deputados e senadores vão fazer este ano.

Até que ponto o conservadorismo do PP se transforma em uma direita radical?
Eu não considero o Progressistas um partido de direita radical. O que eu falo é que o partido é conservador. As conquistas trabalhistas e as conquistas da sociedade muitas vezes levam as pessoas a pensar que o conservadorismo é de elite, e não é não. O Nordeste, por exemplo, até recentemente muita gente achava que a região tinha um perfil de esquerda, e não é verdade. O Nordeste não era petista. Tinha uma identificação muito grande com o ex-presidente Lula. Mas o Nordeste mudou esse perfil.

A era Lula acabou?
Acho que sim, até porque o próprio ex-presidente Lula deixou de ter uma expectativa de poder. Aqui no Nordeste ninguém era petista. As pessoas eram lulistas. O presidente Bolsonaro também tem essa identificação com as pessoas do Nordeste.

Para que essa popularidade se mantenha, o senhor acha fundamental a ampliação do Bolsa Família ou a extensão do auxílio emergencial?
O que determina a popularidade do presidente é a economia. Se a economia está bem, o presidente está bem. Se na época da eleição a economia estiver bem, é impossível não se pensar na reeleição. Essa questão do auxílio emergencial, eu defendo, o Lira defende, todos no Congresso defendemos. Defendo que seja feita uma ampliação do Bolsa Família, se aumente o número de quem recebe a ajuda, mas o Bolsa Família precisa ter uma porta de saída. Não pode ter só uma porta de entrada. Temos que dar condições para que as pessoas que dependam desse auxílio possam se capacitar e deixar de continuar dependendo desse auxílio. É fundamental que esse novo programa, que está sendo estudado pelo governo, tenha esse perfil.

De onde sairão os recursos para a criação do programa?
O Progressistas tem uma proposta sustentada em duas fontes de receita. A primeira viria das empresas que praticamente não pagam imposto no Brasil. A Netflix, por exemplo, e todas essas plataformas de streaming que não pagam impostos no país, como a Amazon ou o Google, poderiam ser uma das fontes de renda. Precisamos encontrar uma forma para tributar essas empresas que hoje não pagam praticamente nada. Essa é uma grande fonte que poderia pagar o novo auxílio emergencial. Se isso não for suficiente, eu defendo que se diminua a desoneração do nosso país. Para bancar o Renda Brasil, basta diminuir 5% da desoneração do nosso País.

O ministro Paulo Guedes já tentou no ano passado a criação de um novo imposto sobre as transações digitais e não conseguiu. Vai conseguir agora?
Eu defendo que sejam tributadas as empresas que não pagam tributos. Se isso não for suficiente, vamos para a desoneração.

Já encaminharam essas sugestões ao Ministério da Economia?
O Ministério da Economia tem sido muito sensível às demandas sociais. Guedes sabe que é necessário recriar o auxílio emergencial e tem noção do que poderia ter acontecido ao País se não fosse o socorro no ano passado.

A ampliação do auxílio emergencial é fundamental para a reeleição de Bolsonaro?
Muita gente pensa na recriação do auxílio emergencial apenas por sua importância para a reeleição, mas acho que o fundamental agora é socorrer as pessoas que estão passando por grande dificuldade.